Único treinador negro do mundial, Aliou Cissé também é o técnico mais jovem e o pior remunerado entre os participantes do torneio. Cissé pode fazer história ao levar Senegal para a segunda fase da Copa do Mundo
Texto / Pedro Borges
Imagem / Fifa
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
No dia 24 de Junho, domingo, a seleção senegalesa empatou com a equipe do Japão, e os dois se mantiveram na primeira posição do grupo H. O time africano chegará na última partida da fase inicial do torneio, contra a Colômbia, na quinta-feira, dia 28 de Junho, com chances de chegar à segunda etapa do torneio.
Na Copa do Mundo da Rússia, Senegal é o país africano com mais chances de se classificar para as oitavas de final da competição. A Nigéria, apesar de ainda ter condições de avançar no campeonato, tem jogo difícil contra a Argentina no dia 26 de Junho, terça-feira, às 15h. Se as águias verdes empatarem ou vencerem a equipe sula-americana, passam de fase. Se perderem para a equipe de Messi, Dí Maria e companhia estão fora do torneio.
A situação mais favorável para os Leões de Terenga, como são chamados os senegaleses, é fruto da vitória, na primeira rodada, contra a Polônia do craque Levandoswki, apontada como favorita na partida.
Para além da equipe de Senegal ter ótimos jogadores como Sadio Mané, atacante do Liverpool-ING, um dos pontos cruciais para a estreia vitoriosa foi o consistente posicionamento tático da equipe comandada por Aliou Cissé.
Cissé, mesmo fora de campo, é um dos nomes que mais chamam atenção da delegação de Senegal. Mais do que um ótimo trabalho, Aliou Cissé é o único treinador negro do mundial, e o profissional com pior remuneração anual entre os comandantes das equipes do torneio.
Seleção senegalesa (Foto: Fifa)
O técnico da Alemanha, Joachim Low, tem um salário anual de R$ 15,9 milhões, enquanto Cissé recebe por ano R$ 836,8 mil. Nabil Maaloul, treinador da Tunísia e único árabe, também está entre os com pior remuneração, ao lado do técnico da Costa Rica, Óscar Ramírez, com R$ 1,4 milhão por ano.
– É verdade, sou o único negro, mas este é um longo debate e não tem a ver com futebol. O futebol é um esporte universal, a cor da pele não deveria ser algo relevante. Mas sim, é importante ter um técnico negro – comentou o treinador de Senegal.
Aliou Cissé é também um ídolo nacional, por ter sido o capitão da equipe na histórica campanha de Senegal na Copa de 2002, quando os estreantes no torneio venceram logo na abertura da competição a então campeã França, e depois desbancaram equipes como Uruguai e Suécia.
Os Leões de Teranga alcançaram as quartas de final, posto mais distante que uma seleção africana já chegou, quando sucumbiram para a Turquia. Esse fato só se repetiu em 1990, com Camarões, e em 2010, com Gana.
Foi o treinador também quem comandou o retorno de Senegal para a Copa do Mundo, 16 anos depois da marcante campanha de 2002.
Quem é Aliou Cissé?
Cissé nasceu em 24 de Março de 1976, na cidade de Ziguinchor, e tem 42 anos de idade, o que o torna o treinador mais jovem da competição. O técnico mais novo a representar uma equipe em torneio mundial foi Juan Jose Tramutola, que tinha 27 anos e 267 dias quando estreou na Copa de 1930, no Uruguai, à frente da Argentina.
Cissé atuou enquanto jogador no futebol francês, em equipes como o PSG, e inglês, com destaque para a participação em clubes como Birmingham City, Crystal Palace e Portsmouth.
Como jogador da seleção senegalesa, participou da Copa do Mundo de 2002, na Coréia e no Japão, e atuou em duas edições da Copa Africana de Nações. Cissé foi o capitão daquela que é definida como a melhor geração senegalesa de todos os tempos.
Cissé era o camisa 6 e o responsável por fazer a segurança do meio campo e da entrada da área da equipe de Senegal. Era um dos homens de confiança do técnico do time na época, Bruno Metsu.
Nas eliminatórias para a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, um empate com a seleção do Togo tirou os Leões de Teranga do torneio, o que também marcou a aposentaria de Cissé enquanto jogador da seleção nacional.
Como treinador, Aliou Cissé começou em 2013, à frente da equipe sub-23 de Senegal.
A saída do treinador da equipe principal, Alain Giresse, em 2015, abriu espaço para a Aliou Cissé ser promovido para a equipe principal, com uma estreia em 2017 na Copa Africana de Nações, que aconteceu no Gabão.
Quando assumiu o cargo, levou consigo para a comissão técnica seus ex-companheiros do time de 2002, como Omar Daf, Tony Sylva e Lamine Diatta.
A presença de ídolos nacionais na comissão técnica é uma inspiração para os atuais atletas, como declarou Sadio Mané ao site da Fifa.
“Ter ao nosso lado grandes nomes do futebol senegalês é a nossa chance. Eles estão nos guiando e passando sua experiência. Nós pegamos a tocha e estamos escrevendo nossa história”.
A vitória sobre a seleção francesa em 2002 foi marcada pela comemoração dos jogadores africanos em volta da bandeira de escanteio, quando todos arremessaram suas camisetas e dançaram no em torno delas. Momento mais recordado, inclusive, do que o próprio gol de Papa Dioup, autor do tento que garantiu a vitória aos africanos.
O triunfo sobre os poloneses também foi marcada por uma dança, ao final da partida, pelos jogadores de Senegal, coincidência que pode alimentar o sonho de uma boa performance dos Leões de Teranga neste torneio.
O otimismo de Aliou Cissé é grande a ponto do treinador afirmar que o futebol africano tem se desenvolvido, e que o mundo presenciará sim, no futuro, uma equipe africana como vencedora do torneio.
“Tenho certeza que um time africano vai vencer a Copa do Mundo. Vinte anos atrás, seleções africanas vinham só para completar a Copa, fazer parte. Já mostramos que podemos fazer muito mais. Temos muitas dificuldades em nossos países, mas não temos nenhum tipo de complexo. E precisamos de técnicos africanos para isso”, disse.