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Mãe encontra lixo em caixão de jovem negro que morreu por falta de atendimento em SP

Vitor Augusto tinha 25 anos e morreu em uma ambulância na frente de um hospital público de São Paulo; Polícia Civil e Ministério Público abriram inquéritos para apurar o que aconteceu
Facebook/Reprodução

Foto: Facebook/Reprodução

12 de janeiro de 2023

O luto sentido pela família de Vitor Augusto Marcos de Oliveira, de 25 anos, aumentou ainda mais depois que a mãe do jovem, Andreia da Silva, descobriu, momentos antes do enterro, que o caixão onde estava o corpo do filho tinha sido preenchido com pó de serra, lixo e entulhos, como pedaços de caixotes de madeira e folhas de jornal. O rapaz tinha 25 anos e sua morte aconteceu em uma ambulância, depois dele ter tido o atendimento recusado em seis unidades de saúde na cidade de São Paulo. O Ministério Público instaurou inquérito contra as Secretarias de Saúde do Estado e do Município.

“Não tinha descoberto esta fraude, doutor. R$ 7,1 mil. É o dinheiro do povo brincando de novo com o peso do meu filho. Mais uma vez gordofobia, gente. Por favor, alguém tem que fazer uma coisa. Esse veículo tem que ser apreendido. Isso é grave. Pastor, me ajuda. O meu filho está vestido com o lixo”, suplica a mãe de Vitor Augusto em um vídeo publicado pela família.

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Antes do registro das imagens, Vitor Augusto tentou socorro em seis hospitais públicos da capital paulista. Inicialmente, ele chegou a ser atendido, na manhã do dia 4 de janeiro, pela UPA Perus, na Zona Norte de São Paulo. Contudo, os médicos da unidade de saúde afirmaram que o rapaz apresentou uma piora em seu estado de saúde e, por isso, sentiram a necessidade de transferi-lo para um hospital especializado.

“A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) lamenta a perda do paciente V.A.M.O. Ele foi acolhido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Perus na manhã do dia 4 de janeiro e, com a piora de seu estado de saúde, foi inserido na Central de Regulação de Urgência e Emergência (Crue) para transferência a um hospital de referência”, disse o órgão à Alma Preta Jornalismo, em nota.

Assim, na manhã do dia 5, Vitor Augusto foi transferido para Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, de responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde (SES). No entanto, a unidade de saúde recusou o atendimento ao jovem. Nenhuma das unidades de saúde conseguiu atender o jovem por falta de equipamentos para pacientes obesos. Andreia da Silva acredita na negligência e falta de preparação da área da Saúde na capital paulista e também afirma que a morte de Vitor Augusto está atrelada à gordofobia e racismo.

Depois da recusa e de uma nova solicitação feita na Crue, ele foi encaminhado ao Hospital Geral de Taipas, onde morreu dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “A solicitação para transferência do paciente segue para os hospitais da região onde está localizada a unidade que realizou o primeiro atendimento, podendo ser da esfera estadual ou municipal”, explica a SMS.

“Na manhã do dia 5, a vaga foi aceita pelo Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, da Secretaria Estadual de Saúde, porém quando a ambulância de transporte chegou à unidade, o paciente não foi admitido e aguardou nova referência de vaga, sendo encaminhado ao Hospital Geral de Taipas, também estadual, que é a referência para a UPA Perus”, completou a secretaria na nota.

“Graças a Deus, eu te tirei de dentro do lixo. Meu filho ia ser enterrado no lixo. Preciso do meu filho para ganhar dinheiro. O povo deu dinheiro para fazer o velório do meu filho, mas não dessa maneira, gente. Deus, por que estou passando por isso? Gente, isso é muito grave. Eu sabia que tinha coisa errada. Agora passou de todos os limites”, lamentou a mãe de Vitor Augusto.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde lamentou o falecimento de Vitor Augusto, disse que apura o ocorrido e que os responsáveis serão penalizados. “A atual gestão da SES lamenta profundamente o falecimento do paciente Vitor Augusto Marcos de Oliveira e informa que já instaurou uma sindicância para investigar o caso de forma rigorosa. Diante de quaisquer irregularidades os responsáveis serão penalizados com todas as medidas cabíveis. A pasta se solidariza com a família e dará todo suporte necessário. A atual gestão trabalha para ampliar o atendimento a pacientes com comorbidades, incluindo obesos, e está à disposição do MP para quaisquer esclarecimentos”.

Funerária Trianon se pronuncia

A Alma Preta entrou em contato com a funerária Trianon, que usou palavras racistas como “denegrir”, ao responder os questionamentos da reportagem. “Tudo vai ser esclarecido, não estamos colocando a culpa em ninguém. As autoridades competentes já estão tomando a medidas cabíveis. Infelizmente estão denegrindo a imagem da funerária Trianon, porém a ela somente fez o translado do corpo devido ao tamanho da urna, a família contratou outra funerária, nenhum momento recebemos qualquer valor da família”, disse a atendente se referindo à uma funcionária que teria sido a responsável por colocar o lixo no caixão.

“Nos vídeos a família não diz que contratou a funerária trianon em nenhum momento e está ciente que a trianon somente fez o translado do corpo”, completou. Em nota, a sócia-diretora da funerária, Andréia Cardoso explicou que a empresa foi contratada apenas para fazer “o translado (transporte) do corpo do Senhor Vitor Augusto. O transporte consistia em levar o corpo do IML Central à clínica de tanatopraxia para realizar o embalsamamento e a ornamentação, posteriormente retirar o corpo da clínica e levar ao cemitério de Franco da Rocha”.

“Esclarecemos que o embalsamamento e a ornamentação do corpo do Senhor Vitor é de inteira responsabilidade da Clínica de Tanatopraxia Cooperaf – Cooperativa de Trabalho dos Agentes Funerários de São Paulo. Informamos ainda, que nossa empresa tomou conhecimento dos fatos após o corpo ter sido transferido para 1 um outro caixão, sem a presença de qualquer um dos nossos colaboradores”, completa o texto.

“Por fim, esclarecemos que a Funerária Trianon, fica à disposição das autoridades para os esclarecimentos necessários e aproveita a oportunidade para renovar o compromisso com nossos clientes e parceiros na prestação de nossos serviços”, finaliza a sócia da empresa.

Polícia Civil investiga morte de Vitor Augusto

O 74º Distrito Policial de São Paulo instaurou um inquérito para investigar a morte de Vitor Augusto. Em nota, a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que aguarda a mãe do jovem se apresentar na delegacia para prestar depoimento.“Todas as circunstâncias relativas ao caso são investigadas por meio de inquérito policial instaurado pelo 74º Distrito Policial (Parada Taipas). A equipe da unidade aguarda o comparecimento da mãe da vítima, que foi chamada para prestar depoimento, bem como de representantes dos hospitais onde o jovem compareceu”.

“Até o momento, a delegacia não recebeu formalmente as imagens referentes à urna funerária da vítima, no entanto, os vídeos já estão sob análise. Exames periciais foram solicitados, e estão em fase de elaboração, e serão analisados pela autoridade policial tão logo forem concluídos. As diligências estão em andamento para esclarecer os fatos”, informa a nota da SSP-SP.

Ministério público questiona Secretarias de Saúde

Na segunda-feira (9), o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) também abriu um inquérito contra as duas Secretarias de Saúde que estão envolvidas no caso para averiguar o que levou a morte de Vitor Augusto. O promotor de Justiça Arthur Pinto Filho solicita que os dois órgãos apresentem recurso, em um prazo máximo de cinco dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.

A SES e a SMS têm ainda um período de dez dias para responderem os questionamentos feitos pelo MP. Entre as dúvidas do Ministério Público, estão por qual motivo Vitor Augusto foi mantido inadequadamente em ambulância até morrer, as circunstâncias do atendimento ocorridas nas outras unidades de saúde pelas quais o paciente passou e não foi atendido.

Outro pedido feito pelo MP-SP no inquérito é o levantamento das unidades de saúde que há macas especiais para atendimento de pessoas acometidas por obesidade e a quantidade dos equipamentos. O órgão quer saber ainda quais providências foram tomadas depois que o fato aconteceu, entre outras questões. O documento deixa evidente que “é responsabilidade do Poder Público garantir a qualidade e suficiência de serviços de saúde para os cidadãos”.

Sobre a notificação do Ministério Público, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que “está providenciando toda a documentação solicitada. A pasta informa que, simultaneamente, também abriu uma averiguação interna para apurar detalhadamente o ocorrido”.

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