Por: Fernanda Rosário e Pedro Borges
Sob o lema “A periferia é o centro”, o deputado distrital Max Maciel (PSOL) chegou à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) em 2023 como o terceiro mais votado para o cargo na região. Com uma atuação de mais de 20 anos na defesa dos direitos da juventude, o deputado afirma que seu mandato tem sido combativo e popular em prol do direito das comunidades, sobretudo para garantia de transporte público de qualidade e valorização da cultura hip-hop.
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Presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana da CLDF, Max destaca que o transporte público é um dos grandes problemas enfrentados pela população das periferias do distrito, que precisa enfrentar longas distâncias dentro de veículos para chegar à região central.
“Transporte é um carro chefe pela necessidade mundial, porque a gente fala de locomoção, de direito à cidade, mas também sobre clima”, comenta o deputado em entrevista para a Alma Preta. A maior parte das emissões de gases de efeito estufa no Distrito Federal decorre da queima de combustíveis fósseis por uso veicular, que inclusive tem uma frota que ultrapassa o número de condutores do DF. “Um ônibus pode levar até 80 pessoas e tirar até essa mesma quantidade de carros de circulação”, complementa.
Segundo o Relatório Global sobre Transporte Público de 2022, feito pela empresa Moovit, em Brasília, quem faz uso de ônibus e metrô enfrenta o percurso com maior distância média do Brasil, com 12,41km. O estudo também revelou que a capital federal está entre as 15 cidades com maior tempo de espera para pegar transporte público no mundo.
O mandato do deputado defende que o primeiro desafio de atuação nessa pauta é fazer com que a comunidade domine a importância do transporte público como ferramenta fundamental por direito à cidade para garantia de todos os outros direitos. Para isso, têm sido utilizados levantamentos, audiências públicas, reuniões técnicas, além de manual informando a população sobre a possibilidade de ser fiscal do transporte público.
“Transporte não é só pagar a bilhetagem e ter acesso a ela. Aqueles que não tem dinheiro para entrar no transporte também são impactados por ele, porque não conseguem acessá-lo. Isso impacta o acesso à saúde, à cultura, ao trabalho e à renda”, explica.
Além disso, Max explica como seu mandato tem se empenhado em construir um modelo de implementação da tarifa zero, com levantamentos da experiência de outras cidades e estudos de como adaptar para a realidade de Brasília. De acordo com um relatório elaborado pela Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana, 105 cidades no Brasil já implementaram um sistema de tarifa zero, sendo 11 delas cidades com mais de 100 mil habitantes.
“A gente está, sobretudo, discutindo um remanejamento das frotas e das linhas aqui, porque como foram pensadas é de uma cidade de 10 ou 12 anos atrás”, complementa.
De acordo com ele, o problema do transporte na região tem suas origens no próprio planejamento “higienista” do distrito, que, ao se desenvolver, foi expulsando os trabalhadores para as regiões mais distantes do Plano Piloto. “Nada podia encostar no projeto original, então a classe trabalhadora não está no projeto de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer. Se você pega a Ceilândia de 1970 e o Plano Piloto, você tem um hiato no meio. Não tinha nada, era só mato. Eles colocaram a gente ali praticamente colado com Goiás e não foi por falta de espaço”, explica.
Cultura como eixo transversal
Max Maciel também descreve a cultura como um eixo transversal em seu mandato, sobretudo a cultura hip-hop, movimento que fez 50 anos em 2023. “Sempre trataram a periferia a partir do que eles [Casas Legislativas] enxergavam, de colocar meramente um assistencialismo pontual, de entregar somente uma política de moradia, mas não de debater a cidade como um todo, descentralizar a riqueza, fazer um debate sincero sobre o direito à cidade, evitar a criminalização dos nossos fazeres culturais”, elenca.
O mandato conseguiu uma agenda máxima para a pauta. Max Maciel lista algumas conquistas, como colocar o hip-hop no DF como patrimônio cultural e imaterial, criar a Semana Distrital do Hip-Hop, incluindo o movimento como política pública e como espaço de formação para as escolas e unidades de internação, além de articular junto com a Secretaria de Cultura três editais voltados para grafite, batalhas de MCs e hip-hop.
“A gente tem feito isso nessa articulação para evitar o preconceito, empoderar esse movimento, reconhecê-los como artistas de fato e ele ser parte integrante da política pública”, reforça o deputado.
Periferia no centro
Com um mandato formado em sua maioria por pessoas que historicamente estão fora da política nacional, como mulheres, pessoas negras e das periferias, o deputado distrital comenta que a história do mandato é a própria história da luta que já existia antes dele.
“A gente já vem do movimento popular e de construção social comunitária atrelado ao movimento hip-hop. Então, o mandato é o reflexo de uma série de demandas que a gente traz na bagagem. Quando a gente entra, a gente rompe inclusive com o pacto da branquitude, a gente traz nós para dentro também”, destaca.
“Acho que a maior oportunidade que a gente tem é de um dia entrar aqui e não ser, de novo, a minoria, mesmo sendo a maioria”, finaliza.