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‘Ajudei o badminton a ficar mais popular’: pioneiro, atleta olímpico Ygor Coelho incentiva sonhos no Brasil

O atleta brasileiro conversou com a Alma Preta na França sobre sua trajetória, sonhos e preparação para as Olimpíadas
Ygor Coelho durante entrevista para a Alma Preta após participação nas Olímpiadas, Paris, 31 de julho de 2024

Foto: Vinicius Martins/Alma Preta

1 de agosto de 2024

Paris – O jogador de badminton Ygor Coelho é o principal nome brasileiro na modalidade, já foi a três Olimpíadas e tem uma medalha de ouro conquistada no Pan-Americano de Lima, em 2019. Durante os Jogos de Paris, ele ganhou ainda mais notoriedade por sua história e carisma, o que se traduziu nas redes sociais, nas quais ele dobrou sua base de seguidores. A Alma Preta conversou com o jogador na região de La Villette, na capital francesa.

O papo com o atleta de 27 anos aconteceu próximo às bordas de Paris, em meio ao cenário hi-tech de La Géode — um cinema abrigado em uma esfera espelhada de 36 metros de diâmetro — e ao verde que circunda a Cidade das Ciências e da Indústria — instituição pública francesa focada na difusão do conhecimento científico. 

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Assim como a instituição, Coelho é parte de um esforço de popularização de uma atividade benéfica para a sociedade: o esporte. Apesar de o badminton ainda ser algo distante para a maioria dos brasileiros, o atleta acredita que atualmente a modalidade já não é tão exclusiva quanto já foi.

“Hoje em dia tem mais pessoas como a gente jogando badminton, mas há uns 20 anos esse esporte era mais elitista, só brancos jogavam mesmo, porque era um esporte caro. A raquete é importada, a peteca também. Então, eu que vim da favela, não tinha muito acesso a isso. Eu jogava com raquete remendada, colada — porque um tubo na época era R$ 80, um tubinho assim”, relata.

O brasileiro Ygor Coelho circula pela região da Casa Brasil, Paris, 31 de julho de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)
O brasileiro Ygor Coelho na região da Casa Brasil, próximo à Casa Brasil, que recebe atletas e personalidades brasileiros durante as Olimpíadas, Paris, 31 de julho de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)

Coelho, hoje tricampeão Pan-Americano de badminton, cresceu na favela da Chacrinha, no Rio de Janeiro. Ele conta que seu pai, Sebastião Dias de Oliveira, é treinador e teve acesso ao esporte por meio da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Com o sonho de replicar a oportunidade, ele fundou a Miratus, instituição que funciona na Chacrinha e dá acesso a jovens da região ao badminton. “Meu pai é um herói […]. Ele percebeu que se ele se apaixonou por esse esporte, as crianças poderiam se apaixonar também”.

O atleta acredita ter ajudado, junto à instituição do pai, a fazer a prática do badminton mais popular no Brasil. 

“Há dez anos que estou nesse caminho. Minha primeira Olimpíada foi a da juventude, em 2014. Então, muitas das pessoas que vieram da Chacrinha, que me viram crescer, hoje já estão na seleção, estão jogando comigo. No Brasil inteiro, tenho certeza que ajudei a fazer o badminton ficar maior e mais popular”, diz orgulhoso, citando atletas como Davi Silva, medalhista de prata no Pan-Americano de Santiago, em 2023, e Jonathan Matias.

O ranking da Confederação Brasileira de Badminton cita diversos atletas ligados à Miratus, que hoje atende dezenas de crianças. São nomes como Donnians Oliveira — irmão de Ygor Coelho —, Karen Santos, Deivid Carvalho, Marta Freitas, Cleyson Nobre, Renata Silva, Diego Rodrigues, entre outros.

Ygor Coelho já morou dois anos na França e há seis vive na Dinamarca, onde joga a liga nacional de badminton. Atleta do Alborg Triton, ele também já passou pelo Højbjerg, atual campeão da liga local. “A gente não tem muitos atletas no Brasil. Não é tradicional. É um esporte pequeno. Então, fui para uma cultura dinamarquesa, eles têm tradição, liga, treinadores, têm jogadores mais fortes”, explica.

Ygor Coelho se sente feliz em contribuir para o desenvolvimento do Badminton no Brasil, Paris, 31 de julho de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)
Ygor Coelho se sente feliz em contribuir para o desenvolvimento do Badminton no Brasil, Paris, 31 de julho de 2024 (Vinicius Martins/Alma Preta)

‘Quero tentar a 1ª medalha olímpica do Brasil’

Os atletas brasileiros costumam ser incensados apenas quando conquistam medalhas nas Olimpíadas. Dono de uma trajetória brilhante no esporte, Ygor Coelho ainda não chegou a esse lugar, mas é inspiração de novos atletas da modalidade, que vem crescendo no Brasil. Disputado desde 1992 em Olimpíadas, o badminton tem representantes brasileiros na competição desde 2016. Em todas essas oportunidades, Coelho esteve nos Jogos.

Em Paris, o atleta foi eliminado após duas derrotas na fase de grupos do torneio. Para ele, a competição serve para crescer ainda mais. “Aprendi que é mais mental. Tenho que ser mais forte mentalmente. Só de estar aqui já é um prestígio. Tive que passar por muita coisa para poder estar aqui. Então, estou orgulhoso da minha trajetória”, diz o atleta à Alma Preta.

Coelho vê necessidade de investir em seu preparo psicológico para encarar o desafio das Olimpíadas. Ele explica que o trabalho intenso do ciclo olímpico tem também um fardo mental. “É diferente, não é igual a uma competição normal.”

“Estar aqui é especial porque a gente faz um ciclo de quatro anos para poder ser o melhor atleta do país, para poder representar na maior competição do mundo. Então, isso já tem uma dimensão enorme. Já tentei três vezes. A primeira foi na Rio-2016. Foi estreia, eu tinha 19 anos. E aí tentei novas metas, novos objetivos: sair da fase de grupos e tentar uma medalha olímpica, a primeira da história”, conta.

O Brasil tem avançado no esporte olímpico. A atleta piauiense Juliana Vieira conquistou a primeira vitória brasileira no badminton durante os Jogos Olímpicos de Paris, ao vencer Lo Sin Yan Happy, de Hong Kong, na segunda-feira (29). Apesar do feito histórico, a atleta também foi eliminada.

A atleta de badminton Juliana Vieira durante conquistou a primeira vitória brasileira olímpica no esporte, contra Lo Sin Yan Happy, de Hong Kong contra a atleta, em Paris, 29 de julho de 2024
A atleta de badminton Juliana Vieira durante conquistou a primeira vitória brasileira olímpica no esporte, contra Lo Sin Yan Happy, de Hong Kong contra a atleta, em Paris, 29 de julho de 2024 (Luiza Moraes/COB)

“A gente esbarra nos recursos. Porque é caro. É caro ser atleta. E a gente tem que improvisar, tem que lidar com política. Política é um negócio bom, mas é ruim ao mesmo tempo. Porque muitas vezes o atleta não é ouvido”, explica, salientando que na competição com os melhores do mundo, o atleta enfrenta também as melhores estruturas e o investimento maior de seus competidores.

“É difícil. O gap é grande. Mas, assim, eu joguei bem, tive muito apoio”, diz Coelho lembrando o apoio financeiro de políticas públicas como Bolsa Rio e Bolsa Atleta, além de patrocinadores como Petrobras e Fundação Decathlon — que também apoia a Miratus. “Todos eles me ajudaram a estar aqui. E se eu estou aqui hoje, agradeço a eles. Porque se não fossem eles, ia ser mais difícil.”

O atleta já pensa em participar das próximas Olimpíadas, mas é cauteloso e diz que é preciso pensar ano a ano. “O meu objetivo é sair da fase de grupos. Quero sair da fase de grupos e tentar a primeira medalha olímpica do Brasil no badminton.” 

Lutamos 5 vezes mais para mostrar nosso valor’

Da mesma forma que em outras atividades, o negro também enfrenta dificuldades relacionadas ao racismo no esporte. É o que conta o atleta Ygor Coelho, que apesar de não apontar casos explícitos em sua carreira, lembra que precisou se esforçar mais para chegar ao alto nível. “A gente tem que lutar cinco vezes mais para provar que a gente tem valor.”

Citando lições de superação ensinadas pelo pai, Coelho ressalta a perseverança como aliada em sua carreira. “Já ouvi muito não, mas persisti. E, hoje, se eu persisti, estou aqui. É um orgulho.”

O brasileiro cita como referências em sua trajetória os atletas Guilherme Kumasaka e Daniel Paiola. Kumasaka foi medalhista de bronze no Pan-Americano, em 1997, ao lado de Guilherme Pardo. Já Paiola foi bronze no Pan de Guadalajara, em 2011, e prata ao lado de Hugo Arthuso, no Pan de Toronto, em 2015.

O atleta Ygor Coelho, nascido na favela da Chacrinha, no Rio de Janeiro, em jogo contra o sul-coreano Jeon Hyuk-jin, Paris, 30 de agosto de 2024 (Wander Roberto/COB)
Jogos Olímpicos Paris 2024 – Badminton masculino – Ygor Coelho na fase de grupos contra o sul-coreano Jeon Hyuk-jin, Paris, 30 de julho de 2024 (Wander Roberto/COB)

Coelho acredita que, assim como seus ídolos, hoje é referência para pessoas que também vão servir de inspiração no futuro a novos atletas. “Escrevi muito nesse livro. E muitas dessas crianças, que já não são mais crianças, estão escrevendo e vão escrever muito mais nas próximas gerações.”

O atleta concluiu a conversa com um recado às crianças que têm o mesmo sonho que o dele.

“Eu sonhei um dia que queria estar na França e queria jogar os Jogos Olímpicos pelo Brasil. E, hoje, estou aqui realizando o meu sonho. Se eu consegui, vindo da comunidade da Chacrinha, por que não outras crianças? Então, falo para todas as crianças do Brasil que acreditem. Porque o seu sonho um dia pode virar realidade. Treine, estude, trabalhe. Como se todo dia dependesse da sua vida aquilo ali. Porque um dia vira realidade. Eu sou um exemplo vivo disso.”

  • Solon Neto

    Cofundador e diretor de comunicação da agência Alma Preta Jornalismo; mestre e jornalista formado pela UNESP; ex-correspondente da agência internacional Sputnik News.

  • Vinicius Martins

    Jornalista formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). É sócio e cofundador e diretor multimidia da Alma Preta Jornalismo. Antes, foi jornalista de vídeo na Folha de S.Paulo e gestor multimeios no Instituto Vladimir Herzog.

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