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Amílcar Cabral: conheça a trajetória do Pedagogo da Revolução

Herói da independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral completaria 98 anos nesta segunda (12); o teórico marxista influenciou nomes como o filósofo e educador Paulo Freire

Imagem mostra Amílcar Cabral entre um cartaz denunciando seu assassinato e um trecho de um de seus poemas. Ao fundo, as bandeiras de Cabo Verde e Guiné-Bissau.

Foto: Ilustração: Dora Lia Gomes/Alma Preta

12 de setembro de 2022

Engenheiro agrônomo, poeta, pedagogo e, acima de tudo, revolucionário. Essas são apenas algumas formas de se referir a Amílcar Cabral, herói de Guiné-Bissau e Cabo Verde, onde teve grande contribuição na luta pela independência. Nesta segunda (12), o revolucionário marxista completaria 98 anos.

Amílcar Lopes Cabral nasceu em Bafatá, na antiga Guiné Portuguesa, atual Guiné-Bissau, em 10 de setembro de 1924. Amílcar Cabral era filho dos cabo-verdianos Juvenal Lopes Cabral, que era professor na Guiné Portuguesa, e Iva Pinhel Évora. Aos oito anos, se mudou com seus pais para a terra natal deles, a Ilha de Santiago, em Cabo Verde.

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Em 1944, um ano após se formar no colégio, Amílcar Cabral começou a trabalhar na imprensa nacional. Porém, o ofício durou apenas um ano, pois ele conseguiu uma bolsa de estudos no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, capital portuguesa. Foi em Lisboa que Amílcar teve seu primeiro contato com a luta anticolonial, ao conhecer os angolanos Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade, e o moçambicano Marcelino dos Santos.

Amílcar se formou em 1950 e, após um período trabalhando em Portugal, retornou à Guiné em 1952, onde assumiu um cargo no governo da colônia. Devido a sua atuação política, sobretudo em benefício da população guineense, foi perseguido pelo então governador da Guiné Portuguesa, o almirante português Melo e Alvim, e se mudou para Angola.

Em Angola, se reencontrou com os companheiros Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade e ingressou no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que havia acabado de nascer, fruto da união entre o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUA) e o Partido Comunista Angolano (PCA). Após a experiência com o MPLA, em 1956, Amílcar, ao lado do irmão Luís Cabral e de outros companheiros cabo-verdianos e guineenses, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Três anos após seu nascimento, em 1959, o PAIGC teve participação decisiva na greve dos marinheiros e estivadores do Porto de Bissau, que cobravam salários justos e melhores condições de vida e trabalho. A manifestação foi duramente reprimida pelas tropas portuguesas que, após mais de duas horas de tiroteio, mataram mais de 50 manifestantes. O episódio, conhecido como Massacre de Pidjiguiti, contribuiu para que mais guineenses se juntassem à luta anticolonial.

No início dos anos 60, o PAIGC estabelece sede fixa na vizinha República da Guiné, também conhecida como Guiné-Conacri, que havia se tornado independente da França em 1958. O partido, inclinado ao marxismo-leninismo, então começa a fazer contato e pedir apoio de países socialistas. Nesse sentido, o PAIGC recebe o apoio da República Popular da China e Amílcar Cabral viaja com companheiros de partido para o país asiático, para receber formação do Partido Comunista Chinês.

Defendendo a bandeira de um pan-africanismo socialista, o PAIGC se une ao MPLA de Angola, à FRELIMO de Moçambique, e ao MLSTP de São Tomé, e formam a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).

Inicialmente, a PAIGC planejava libertar Guiné-Bissau e Cabo Verde de maneira pacífica, pois Amílcar acreditava na mudança através da educação. Porém, com a falha nessa estratégia, já que Portugal não abriria mão de suas colônias pacificamente, o grupo passou à luta armada, com atividades de guerrilha. Com isso, em 1963, Amílcar Cabral declarou guerra contra Portugal, promovendo ataques contra bases militares portuguesas e sendo municiado por países do bloco comunista, como União Soviética, Cuba e China.

A guerra completaria 10 anos no dia 23 de janeiro de 1973. Mas três dias antes, em Conacri, na República da Guiné, Amílcar Cabral foi assassinado por traidores do seu próprio partido, a mando do colonialismo português e sob ordens do general António Spínola, então governador colonial da Guiné-Bissau. O assassinato ocorreu como ele mesmo havia profetizado quando disse: “Se alguém me há de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios”.

Oito meses depois, em setembro de 1973, a Guiné-Bissau, sob o comando de seu irmão Luís Cabral, declarou independência unilateralmente. A libertação só foi reconhecida oficialmente um ano depois, em 1974. Já a independência de Cabo Verde foi reconhecida em 1975.

Teoria e influência

Além de ser um dos principais revolucionários do século XX, Amílcar Cabral também foi um dos principais teóricos marxistas e descoloniais do século. Ele defendia que a libertação do povo seria feita através da educação, pois somente através da educação os obstáculos para o desenvolvimento da população seriam removidos. No processo revolucionário em Guiné-Bissau, à medida que o PAIGC ia conquistando os territórios através da luta armada, era feito um processo educacional nos territórios libertados.

“Um princípio fundamental da nossa luta é que a nossa luta é a luta do nosso povo, e o nosso povo é que tem que a fazer, e o seu resultado é para o nosso povo”, Amílcar Cabral, em ‘Luta do povo, pelo povo, para o povo’.

Para a libertação de Guiné-Bissau, Amílcar Cabral também defendia que a experiência de outras nações não poderiam ser aplicadas sem antes levar em consideração o contexto de cada localidade.

“Ninguém comete o erro, em geral, de aplicar cegamente a experiência dos outros a seu próprio país. Para determinar as táticas de luta em nosso país, tivemos que levar em conta as condições geográficas, históricas, econômicas e sociais de nosso próprio país, tanto na Guiné como em Cabo Verde”.

Um dos principais admiradores de Amílcar Cabral no Brasil foi o filósofo e educador Paulo Freire, que, já conhecido por suas contribuições teóricas à pedagogia, visitou a Guiné-Bissau recém-libertada nos anos 70. Ele se referia a Amílcar como o “Pedagogo da Revolução” e, numa conferência na UnB, em 1985, revelou o desejo de ter escrito um livro sobre a práxis de Cabral.

Leia também: Quem foi Amílcar Cabral, o Pedagogo da Revolução, assassinado há 47 anos

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