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‘É gratificante saber que meu trabalho não foi em vão’, diz lenda da Seleção Mariléia dos Santos

A Alma Preta conversou com uma das maiores artilheiras da história do futebol brasileiro, pioneira da modalidade e ícone do esporte
A ex-jogadora da Seleção Brasileira de futebol Michael Jackson (Mariléia dos Santos), Paris, 5 de agosto de 2024

Foto: Solon Neto/Alma Preta

7 de agosto de 2024

Paris – Na terça-feira (6), a Seleção Brasileira de futebol feminino venceu a Espanha por 4×2 e chega à final do torneio olímpico pela terceira vez na história. A vitória contra as espanholas garante mais uma chance da Seleção feminina de conquistar o sonhado ouro olímpico e condecorar ainda mais a canarinho.

Em Paris, a Alma Preta conversou com uma das principais jogadoras da história da Seleção, Mariléia dos Santos, também conhecida como Michael Jackson. A conversa aconteceu no dia anterior à classificação brasileira e a ex-jogadora já demonstrava satisfação com a evolução do futebol feminino no Brasil.

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“É gratificante saber que o meu trabalho não foi em vão. Hoje, ver essa mudança do futebol feminino é muito importante para nós, mulheres amantes do futebol feminino. O Brasil tem muitas meninas que gostam de jogar e esse crescimento é maravilhoso. E isso é uma oportunidade para o futebol feminino que eu acho que o Brasil merece”, disse à Alma Preta.

A atacante brasileira Adriana comemora após marcar o terceiro gol de seu time, na semifinal de futebol feminino entre Brasil e Espanha, durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024, Marselha, 6 de agosto de 2024
A atacante brasileira Adriana comemora após gol na semifinal olímpica de futebol feminino entre Brasil e Espanha, Marselha, 6 de agosto de 2024 (Sylvain Thomas/AFP)

Aos 60 anos, a brasileira aponta a evolução do futebol feminino e a presença de mulheres negras com destaque nos times como algo “importante demais para todos nós”. 

“Ser mulher já é difícil, né? Negra ainda… tudo para nós é sempre mais difícil. E isso é uma barreira contra a qual a gente não pode deixar de lutar. Tem que lutar sempre que um dia nós vamos vencer. E com certeza não vai demorar muito”, disse a artilheira, que contabiliza nada menos que 1.547 gols na carreira.

Natural de Valença (RJ), a ex-jogadora é uma das pioneiras do esporte no país, tendo sido destaque na Seleção nos anos 1980 e 1990. Mariléia fez parte da primeira equipe da Seleção, em 1988, e da estreia do Brasil nas Olimpíadas, em 1996. Ela também foi a primeira jogadora brasileira a atuar profissionalmente na Europa, onde jogou no italiano Torino, de 1995 a 1997. No Brasil, teve passagens por clubes como Isis Pop, Radar, Coritiba, Saad Esporte Clube, América (RJ), Internacional, Corinthians e Santos.

A atleta se aposentou em 2009, aos 46 anos. Fora dos campos, tem atuado pela valorização do futebol feminino. Ela já foi coordenadora-geral do Futebol Profissional no Ministério do Esporte e fez parte do Conselho de Craques da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

A ex-jogadoras de futebol, Formiga e Michal Jackson (à esquerda e à direita, respectivamente) posam para foto com a judoca Beatriz Souza, Paris, 5 de agosto de 2024
A ex-jogadoras de futebol, Formiga e Michal Jackson (à esquerda e à direita, respectivamente) posam para foto com a judoca Beatriz Souza, Paris, 5 de agosto de 2024 (Solon Neto/Alma Preta)

Futebol feminino precisa crescer: ‘Nós merecemos’

Em conversa com a Alma Preta também em Paris, a ex-jogadora Formiga defendeu que apesar da crescente popularidade do futebol feminino no Brasil, a modalidade ainda precisa de estrutura adequada para seguir se desenvolvendo. Mariléia dos Santos, a Michael Jackson, tem visão semelhante e acredita que há longo caminho pela frente.

“O futebol feminino tem que ter uma crescente de trabalho, ele não pode fazer uma coisa hoje e amanhã dar dois passos para trás. O futebol feminino tem que seguir, tem que ir daqui para a frente. Falta muita coisa, muito trabalho, o qual todos nós temos que dar as mãos e fazer. Não podemos ficar só falando.”

Uma das maiores artilheiras do futebol feminino brasileiro, a ex-jogadora salienta a necessidade de planejamento sólido para as equipes do país.

“Os times têm que melhorar e não podem ficar em um esquema de monta uma equipe hoje e amanhã acaba. Nós precisamos ter muito cuidado com isso. E os dirigentes, principalmente, precisam olhar para o futebol feminino de forma diferente. Porque nós merecemos.”

Ministério do Esporte como carro-chefe

Para Michael Jackson, há uma necessidade de políticas públicas voltadas ao futebol feminino que auxiliem o desenvolvimento do esporte. Na visão da ex-jogadora, o Ministério do Esporte precisa liderar esse movimento.

“[Em termos de] políticas públicas, acho que falta muita coisa, muita coisa. Temos que ter uma política consistente, uma política forte para poder desenvolver o futebol feminino — e não só o futebol feminino, mas o esporte, em geral. Acho que o Ministério [do Esporte] vem fazendo um trabalho, mas precisa de muito ainda e tenho certeza que ele vai ser o carro-chefe para esse desenvolvimento”, conclui.

  • Solon Neto

    Cofundador e diretor de comunicação da agência Alma Preta Jornalismo; mestre e jornalista formado pela UNESP; ex-correspondente da agência internacional Sputnik News.

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