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Artistas idealizam novo Brasil a partir da perspectiva negra em mostra no Rio de Janeiro

“Constituinte do Brasil Possível” convida o público a visualizar imaginários sociais e políticos de um país mais inclusivo
Lucius Goyano é um dos artistas que fazem parte da exposição com a obra “No Ateliê”.

Foto: Paloma Oliveira / Divulgação

10 de outubro de 2024

A exposição “Constituinte do Brasil Possível” chegou ao Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (10). A mostra gratuita, que provoca os visitantes a pensarem um novo Brasil a partir da perspectiva negra, com foco em uma constituinte negra, fica em cartaz até o dia 30 de novembro. 

Os 20 artistas negros selecionados, por meio de edital, convidam o público a visualizar imaginários sociais e políticos de um país mais inclusivo, por meio de obras nos formatos de videoarte, instalação, fotografia, grafite, intervenção têxtil, colagem, zine, esculturas e pinturas. 

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As visitas  ocorrerão de terça-feira a sábado, das 12 às 19h. Além disso, junto a exposição, será lançado o website Linha de Cor, um projeto transmídia de arte e educação que investiga e analisa leis que contribuíram para a marginalização da população negra e as políticas de branqueamento racial na sociedade brasileira. 

As atividades fazem parte da mesma iniciativa, que envolve pesquisa, educação e audiovisual realizados por pessoas negras. O projeto foi idealizado pela diretora Mariana Luiza, que foi selecionada para a categoria competitiva do Festival Internacional de Documentário de Amsterdã 2023 (IDFA) com a instalação imersiva “Redenção”.

A iniciativa tem curadoria coletiva assinado por Luiza, pelas professoras Ana Flávia Magalhães Pinto (História-UnB e Arquivo Nacional) e Thula Pires (Direito-PUC-Rio), e pelo arquivista e mestre em Museologia e Patrimônio, Yago Lima. A proposta tem o objetivo de formar um imaginário social de perspectivas negras a partir de projetos de nação mais inclusivos.

“O projeto nasce do desejo de entender o papel do Estado brasileiro na construção da identidade nacional. A proposta do site é evidenciar como diversas normas jurídicas, desde 1823 até os dias de hoje, contribuíram e continuam contribuindo para a manutenção de hierarquias e do terror racial e de gênero no Brasil”, explica a idealizadora, Mariana Luiza, em nota à imprensa.

Além da denúncia, a intenção da mostra é fazer um resgate de histórias de enfrentamento, de figuras políticas pretas que, por diferentes motivos, foram apagadas da história oficial. 

“A exposição é uma parte essencial dessa denúncia, mas ela vai além. Ela nos abre a possibilidade de resgatar projetos políticos do passado que apontam para um “Brasil Possível” – um Brasil onde o bem viver seria uma realidade, permitindo uma existência plena, com relações equilibradas entre as pessoas e com a natureza”, diz Luiza.

A curadora da exposição, Ana Flávia Magalhães, compartilhou que as obras “são um convite para um exercício de imaginação histórica com o potencial de desnaturalizar narrativas hegemônicas.

“Essas obras são um convite para um exercício de imaginação histórica com o potencial de desnaturalizar narrativas hegemônicas. Estamos diante de fabulações de um Brasil verdadeiramente possível à luz da nossa capacidade coletiva de frustrar projetos de destruição”, disse. 

Em sua visão, a exposição evoca um estado de existência que confronta a violência que insiste em nos definir como “objetos ou “quase cidadãos”, o que permite reafirmar atos e desejos de liberdade de pessoas negras ao longo do tempo. 

“Criamos, assim, um 14 de Maio de 1888 [um dia após a abolição da escravatura] permanente, como um acerto de contas com as promessas que nem chegaram a ser integralmente feitas durante momentos emblemáticos como a Independência e a Abolição”, comenta a curadora.

Site educacional antirracista 

Coordenado por Ana Flávia e Thula desde 2018, o projeto Linha de Cor é desenvolvido por uma equipe totalmente negra, formada por mais de 90 pessoas, entre 11 pesquisadores doutores, doutorandos e mestrandos das áreas de direito e história. Por meio da disponibilização de conteúdos gratuitos no site, o grupo tem a intenção de colaborar para o desenvolvimento de uma educação antirracista no Brasil. 

Estarão disponíveis para download, planos de aula sobre diversos temas desenvolvidos a partir do estudo das leis e projetos políticos racistas de 1823 até a última Constituição, de 1988, incluindo as políticas afirmativas implementadas nos governos dos presidentes Lula e Dilma. Os temas destacam o viés racista das leis, assim como as ações de resistência negra a elas.

“As normas jurídicas ao longo da história brasileira construíram um Estado de exclusão, onde o extermínio das pessoas não-brancas dá o tom. Denunciar essa estrutura é fundamental, mas igualmente essencial é disputar os imaginários políticos que foram invisibilizados pela história oficial, abrindo espaço para outras percepções e construções de vida e cidadania plenas em nossa sociedade”, destaca a coordenadora de pesquisa Thula Pires.

O projeto “Constituinte do Brasil Possível” e Linha de Cor é contemplado pelo Edital Pró-Carioca Diversidade Cultural – Edição Paulo Gustavo – SMC nº 04/2023, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (PCRJ), por intermédio da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), com financiamento da lei estadual de incentivo à cultura do Rio de Janeiro e patrocínio da Bayer e do Rumos Itaú Cultural.  

Serviço 

Exposição “Constituinte do Brasil Possível” e lançamento do site Linha de Cor
Visitação: 10 de outubro a 30 de novembro, das 12h às 19h.  
Local: Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, R. Visc. de Itaboraí, 20 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20010-060.
Entrada gratuita
Para mais informações, entre em contato pelo Instagram @_linhadecor ou pelo e-mail [email protected] 

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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