A Mãe Lulu de Toy Averekete, zeladora de santo do Terreiro de Mina “Dois Irmãos”, comemora 90 anos com grande programação nesta quinta-feira (14), em Belém (PA). Líder da terceira geração de mulheres à frente do templo de matriz africana mais antigo da Amazônia, ela é uma das mais reconhecidas sacerdotisas afrorreligiosas da Região Norte do país.
Em alusão aos seus 90 anos, o Terreiro de Mina “Dois Irmãos”, realiza, a partir das 15h30, um debate com o tema: “O Direito do Povo de Terreiro: Patrimônio Material e Imaterial”. As comemorações continuam a partir das 19h, com um cortejo e tambor em celebração à entidade espiritual Seu Zé de Légua, a Festa dos Boiadeiros e aos 90 anos de Mãe Lulu.
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A programação é gratuita, mas com recomendações de vestimentas – não compareça com roupas pretas, curtas (bermuda, saia e vestido curtos), decotadas e calça apertada.
Filha caçula de Mãe Amelinha de Dom José Rei Floriano, Mãe Lulu foi escolhida pelos voduns donos do terreiro — Maria Bárbara Soeira, Toy Averekete e Dom José Rei Floriano — para dar continuidade às tradições do “Dois Irmãos”. Em 1963, aos 29 anos de idade, ela foi coroada dentro dos preceitos da Mina Vodun.
Sendo a terceira geração a assumir o terreiro, foi também iniciada no Candomblé Ketu, no qual, já com todas as suas obrigações pagas, recebeu o cargo de sacerdotisa. No entanto, decidiu por caminhar nos encantes do Tambor de Mina, para preservar os fundamentos do chão do terreiro e o culto aos voduns.
Ao longo de 61 anos de resistência no Tambor de Mina, recebeu diversos reconhecimentos, títulos e comendas, como a Comenda Mãe Doca, responsável pela travessia do Tambor de Mina para as águas do Pará, ao lado de Mãe Josina, fundadora e ancestral do Terreiro de Mina “Dois Irmãos”.
Mãe de seis filhos, aos 90 anos de idade, já repassou a zeladoria do terreiro para sua filha caçula, Eloísa de Badé. Mas sua jornada espiritual continua marcada pela luta constante para manter vivos os fundamentos do terreiro e as tradições que suas ancestrais transmitiram, sendo uma guardiã da cultura e dos ensinamentos dos voduns. Ao longo de sua trajetória, tornou-se uma referência para outras casas, contribuindo para a perpetuação dos rituais, da história e da sabedoria dos ancestrais no Estado.
Mãe Eloísa de Badé, que assumiu o legado do “Dois Irmãos” há mais de dez anos, conta que a trajetória do terreiro se entrelaça com a resistência das comunidades de matriz africana diante das adversidades históricas.
“Essa programação celebra a luta incansável das mulheres pela preservação das nossas tradições religiosas e culturais. A defesa do Tambor de Mina e do legado de Mãe Lulu, Mãe Amelinha e Mãe Josina, fundadora da nossa casa, visa valorizar as culturas de origem africana no Brasil, especialmente na Amazônia”, diz mãe Eloísa.
No dia 30 de agosto de 2024, o Terreiro de Mina “Dois Irmãos” completou 134 anos de história, sempre localizado na Passagem Pedreirinha, no bairro do Guamá. Em 2010. foi tombado como território simbólico, de valor histórico e cultural para o Pará, pelo Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do Estado do Pará (Dphac), da Secretaria de Estado de Cultura (Secult).
O Terreiro de Mina “Dois Irmãos” também foi uma das fontes de pesquisa da escola da escola de samba Grande Rio para o desenvolvimento do enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, que vai levar a encantaria amazônica para o Carnaval do Rio de Janeiro.