Alunos do projeto social ‘Boa Luta’, de Salvador, têm sofrido com perseguições após denunciarem um caso de racismo e agressão cometido por seguranças do supermercado Big Bompreço, localizado dentro do Salvador Shopping, em Salvador. A denúncia foi registrada na Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derrca) pelo fundador do projeto, o professor de artes marciais Yuri Carlton.
A situação aconteceu no dia 19 de janeiro, quando alunos do projeto, sendo dois adolescentes de 14 e 16 anos e um jovem de 19 anos, foram até o estabelecimento para pedir doações para participarem do Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu, que acontece em maio, em São Paulo.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Enquanto estavam no supermercado, os jovens teriam sido abordados por três seguranças e acusados de furto. Ao negarem a acusação, os jovens foram levados para uma sala, onde foram agredidos e ofendidos com insultos racistas. Os jovens teriam sido liberados após os seguranças não encontrarem nada com eles.
“Chamou os meninos de pretos favelados, que os meninos não têm sonho algum, que tinha que pegar em arma pra trocar tiro com eles, que assim que eles encontrarem eles na rua, eles iriam matá-los”, relata o professor.
Ainda conforme Carlton, alguns alunos adolescentes vendem água mineral em sinaleiras de Salvador para conseguir recursos para participar dos campeonatos. De acordo com o professor, no último sábado (29), os seguranças descobriram a localização dos jovens e tentaram sequestrar um dos garotos.
“Diante disso, a gente está vendo que algo muito grave está para acontecer e estamos fazendo esse vídeo para expor o que vem acontecendo e para a gente encontrar esses seguranças do Shopping Salvador para que nada aconteça de pior com os nossos garotos”, diz Carlton.
A Dercca diz que apura a denúncia e que os envolvidos na ocorrência serão ouvidos para investigação do caso.
O projeto ‘Boa Luta’ tem mais de 20 anos e atende mais de 400 jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade em Salvador. Pelo projeto já passaram atletas de reconhecimento nacional, como Júnior Cigano, Antônio ‘Cara de Sapato’ Jr. e outros. Com o projeto, o professor Yuri Carlton defende que vai continuar pela busca dos sonhos dos alunos.
“[…] Moram sim, na favela, são garotos de boa índole e que já me acompanham há mais de dez anos e eu sei da índole deles, sei da família, sei da condição, e o que eles estavam buscando era um sonho e vamos continuar”, pontua.
Posicionamento
Em nota enviada à Alma Preta Jornalismo, a administração do Salvador Shopping disse que está apurando o fato e que já entrou em contato com os integrantes do projeto Boa Luta para compreender a denúncia. Disse também que, até o momento, todas as informações levantadas apontam para uma ocorrência que não teve participação de colaboradores do quadro do shopping e que segue à disposição das autoridades para elucidação do caso.
Já a rede Big Bompreço diz que o caso ocorrido não corresponde aos procedimentos e aos valores da companhia e que já abriu uma sindicância interna para apurar e tomar as medidas necessárias. A empresa também disse que imagens de câmera de segurança já foram entregues às autoridades, ressaltou que não tolera nenhuma forma de discriminação e que colabora com as autoridades na investigação do caso.
Leia também: Caso Moïse Kabagambe: Coalizão Negra se organiza para denunciar assassinato à ONU