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‘A inserção de pessoas trans na mídia é resultado de um processo de luta por visibilidade de anos’, diz ativista

Um país que carrega o título do que mais mata pessoas trans no mundo há 13 anos consecutivos, a passos lentos, abre espaço para dar voz à essa população; representantes do movimento comentam os impactos da exposição nas telas e os desafios

 

Imagem mostra a multiartista Linn da Quebrada com alça do vestido laranja em frente ao letreiro escrito "No Ar"

Foto: Imagem: Divulgação / Canal Futura

28 de janeiro de 2022

Quantas pessoas trans e travestis são tidas como referência nacional e circulam nos meios de comunicação sem que a narrativa seja agressão ou morte? Este é um questionamento central que perpassa, há anos, a população que luta por visibilidade em um país que está em primeiro lugar entre os que mais matam pessoas T no mundo. Entretanto, a passos lentos, é possível identificar que pequenos espaços são abertos para dar vez e voz, como a chegada nas telas, sejam em filmes, clipes, séries e em reality shows. 

De acordo com o relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), entidade que acompanha os dados apurados por instituições trans e LGBTQIA+, há 13 anos consecutivos o Brasil é líder no número de agressões e morte por transfobia. Dado alarmante é que, no mundo, de todos os assassinatos registrados, 70% foram registrados na América do Sul, sendo 33% no Brasil. 

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Para tomar medidas que protejam esta população e auxiliem nas suas questões e desenvolver maiores passos pela melhoria na qualidade de vida e longevidade, foi preciso a ocupação de pessoas trans de cargos parlamentares, por exemplo. O mesmo acontece com a projeção de uma pessoa trans na mídia nacional, que recentemente foram inseridas em suas programações sem que o tom fosse de humor, deboche ou validação do preconceito existente. 

Karla Macedo, vice-presidenta da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (AMOTRANS-PE), em conversa com a Alma Preta Jornalismo, destaca a importância da chegada da população trans em meios de veiculação nacional como sinônimo de reconhecimento e dignidade humana. 

“A inserção de pessoas trans na mídia é resultado de um processo de luta por visibilidade há anos. Imagino que quando as pessoas assistem filmes ou programa de TV, já chegam com uma bagagem e seus conceitos pré-estabelecidos. A presença de pessoas trans nas telas vem como uma tentativa de alterar isso. Desafiar aspectos diários como a aceitação, o tratamento, o bom relacionamento, a oportunidade de emprego e, sobretudo, o respeito, questões presentes no nosso convívio”, aponta. 

Leia também: Ativistas trans ampliam o debate contra a transfobia dentro e fora da Internet

A vice-presidenta ainda ressalta a importância do protagonismo trans ao discutir sobre suas próprias pautas e não serem representadas por quem distorce o que se vive no cotidiano desta população. 

“Para nós, a veiculação de informação dada por pessoas que nos representam e simbolizam, de fato, a nossa luta é importante por rebater a narrativa distorcida e estereotipada de como a população LGBTIQA+ é retratada nas telas. Um processo que é cansativo por ser algo que não deveríamos estar ensinando à sociedade, mas é a forma a qual nós podemos nos ajudar”, pontua. 

O argumento é compartilhado pela presidenta da Associação Brasileira de Gays Lésbicas Bissexuais Travestis e Transexuais (ABGLT), Symmy Larrat, que acredita que a visibilidade na mídia endossa o argumento de que a população trans está ocupando diversos lugares e, acima disso, pode falar a respeito de assuntos que não versam, apenas, sobre a transgeneridade. A representante ressalta, ainda, a necessidade de uma atenção maior aos aspectos que envolvem tal exposição. 

“É um espaço que ajuda ao naturalizar e informar quem somos, entretanto, é preciso que essas pessoas se sintam em segurança e bem estar, para que esse lugar não seja um espaço reprodutor de opressão. Precisamos tomar cuidado para não minimizarmos o que nos dói e afeta quando questões são apontadas diante da exposição, quando um programa precisa, por exemplo, se explicar para o público e dar a informação correta ou quando uma autora precisa reavaliar a narrativa que está construindo”, atenta Larrat. 

Questionada sobre a expectativa de que o mercado de trabalho para pessoas trans em produções audiovisuais e do gênero cresça no país, Symmy se mostra positiva para a mudança do cenário e a ocupação da população nas grades de entretenimento.

“Deve se ter um entendimento que vincular pessoas trans a estes espaços serve de espelho, estímulo e informação para a população trans e as demais. A gente espera que mais pessoas cheguem a esses lugares para deixarmos de sermos um arquétipo ou sinônimo de performance. Estamos em um outro tempo que não podemos servir de diversão e recreação pejorativa para o público”, finaliza. 

Leia também: ENTREVISTA: O poder da palavra da mulher trans, negra e paraibana; conheça Bixarte

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