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Jornalismo brasileiro tem 84% de profissionais brancos, diz pesquisa

Dados do Gemaa mostram ainda que 60% do grupo de trabalho nas redações são homens; “temos um sinal de alerta sobre o imaginário que circula socialmente”, ressalta pesquisadora Poema Portela

 

Imagem: Reprodução/Observatório da Imprensa

Foto: Imagem: Reprodução/Observatório da Imprensa

7 de dezembro de 2021

O corpo de trabalho no jornalismo é composto por 84% de profissionais brancos, é o que diz a pesquisa ‘Jornalismo Brasileiro – raça e gênero de quem escreve nos principais jornais do país’, do Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas). Para a elaboração da análise, uma amostra aleatória das edições impressas publicadas nos seis primeiros meses de 2021 do Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo foram selecionadas. Ao todo, foram analisadas 1.193 pessoas.

De acordo com a pesquisa, O Estado de São Paulo é o jornal com os resultados mais desiguais, tendo apenas 1% de pessoas pretas escrevendo no período analisado. O grupo de jornalismo da Folha possui 5% de profissionais pretos e O Globo apenas 3%. Ao todo, o Estadão conta com 56% de homens brancos na equipe de jornalismo, 32% de mulheres brancas, 3% de homens negros, 3% de mulheres negras e 1% de outras raças.

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A Folha de SP conta com 56% de homens brancos, 32% de mulheres brancas, 5% de homens negros, 5% de mulheres negras e 3% de outras raças nas redações. Já no O Globo, a divisão é da seguinte forma: 50% de homens brancos, 29% de mulheres brancas, 6% de homens negros, 6% de mulheres negras e 3% de outras raças. Ambos os núcleos de jornalismo analisados tiveram entre 5% e 6% de pessoas que não se autodeclararam de nenhuma raça.

“Quando falamos de baixa representatividade nas redações isso não se refere só ao fato de ter mais pessoas negras dentro desses espaços, mas também trata do conteúdo e dos olhares que são impressos nas páginas desses veículos. Não podemos ignorar o papel da mídia na construção e consolidação de ideias na sociedade. Nesse sentido, se o que lemos são as narrativas e opiniões de pessoas majoritariamente brancas, temos um sinal de alerta sobre o imaginário que circula socialmente”, pondera a autora da pesquisa, doutoranda e mestra em Sociologia, Poema Portela.

Para ela, a partir desse entendimento, é possível olhar os resultados da pesquisa como o retrato de um ciclo que se auto perpetua: se por um lado ele é alimentado pelo racismo estrutural – nos processos seletivos, por exemplo –, por outro, a falta de ações que promovam uma mudança desse cenário permite que ele se mantenha desta forma. “Então, sim, a inércia é uma forma de contribuir para esse quadro”, pontua.

Faixa etária

“Vale sublinhar que neste estudo estamos falando especificamente sobre o jornalismo, mas essa é uma dinâmica que se estende a outras áreas, e ao mercado de trabalho como um todo. Por isso, é fundamental que a visão crítica sobre as desigualdades no mercado de trabalho seja acompanhada de práticas que rompam com tais estruturas”, ressalta a mestra em sociologia.

Apesar de a maior parte da amostra ser composta por pessoas entre 30 e 39 anos, quando desagregados por raça é possível constatar que entre pessoas brancas, 36% estão acima dos 50 anos. Já entre pessoas negras (pretos e pardos) esse percentual é de 15%.

A pesquisadora do Gemaa, autora da análise, mestra e doutoranda em Sociologia, Poema Portela | Créditos: DivulgaçãoA pesquisadora do Gemaa, autora da análise, mestra e doutoranda em Sociologia, Poema Portela | Créditos: Divulgação

“Quando olhamos para o perfil de idade, por exemplo, temos a suspeita de que o foco nas contratações de pessoas negras é em cargos de entrada, como de estágio e trainee. É bom que essas posições sejam ocupadas por mulheres e pessoas negras, obviamente, mas não apenas elas. Também é necessário incluir esses grupos em cargos de chefia e decisão, pois, no fim das contas, são os que têm poder de implementar mudanças dentro desses espaços”, avalia Poema Portela.

Mulheres também são minoria

A pesquisa aponta ainda que o jornalismo brasileiro é ocupado por homens, em sua maioria (60%). O percentual de mulheres que escrevem nos três jornais analisados é semelhante: 36% no Estadão, 38% na Folha e 36% na equipe de jornalismo do Globo são mulheres. “Apenas uma mulher trans foi identificada na amostra, sendo uma personalidade pública que foi convidada para um artigo de opinião isolado”, explica a pesquisa.

“Observamos uma discrepância quando comparamos as faixas etárias de homens e mulheres. Enquanto 40% dos homens da amostra têm acima de 50 anos, apenas 23% das mulheres estão na mesma faixa de idade”, destaca a análise.

Para a mestra em sociologia, se comparado com a pesquisa de 2016, há maior diversidade nesses núcleos de jornalismo, o que para ela significa um avanço nas questões relacionadas à diversidade racial e de gênero. No entanto, Poema salienta que é necessário que as redações passem a traçar metas e assumir compromissos públicos de mudanças de cenário para incluir os mais diversos profissionais.

“De forma complementar, é muito importante que os ambientes de trabalho se adaptem a essa mudança. Falo isso porque sem um planejamento de sensibilização da equipe – workshops, comunicação interna, grupos de afinidade – estar nesses espaços pode virar uma experiência de violência cotidiana, que pode impactar na retenção desses perfis diversos”, finaliza Poema Portela.

Leia também: ‘Expressão ‘racismo estrutural’ ainda é utilizada de forma inadequada na imprensa’

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