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‘Eu tô pouco preocupado. A ação da polícia vai continuar’, diz delegado sobre Chacina do Jacarezinho

Massacre que tirou a vida de pelo menos 25 pessoas foi denunciado a organizações internacionais; mesmo com imagens e vídeos como provas, Polícia Civil nega ter entrado na favela para matar

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Joel Luiz/Reprodução/Twitter

Imagem mostra cadeira na cor roxa com mancha de sangue de vítima da polícia

7 de maio de 2021

Será de luto o Dia das Mães das mulheres que perderam os filhos na Chacina do Jacarezinho, uma das maiores da história do Rio de Janeiro. “Eles [policiais] apontaram o fuzil para mim e falaram que eu tinha que morrer”, disse uma moradora que teve o filho assassinado pela polícia no massacre que deixou pelo menos 25 mortos.

Imagens de marcas de sangue e corpos no chão tomaram as redes sociais de quinta (6) para sexta-feira (7). Em coletiva de imprensa, no entanto, a Polícia Civil negou que os policiais entraram na favela para praticar execuções e disse que os agentes só foram cumprir mandados de prisão, contrariando o que mostram fotos e vídeos.

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Questionado sobre os impactos concretos sob a ação do tráfico de drogas, o delegado Rodrigo Oliveira disse não se preocupar e defendeu a continuidade das operações sangrentas. “Eu tô pouco preocupado. Eu sei que a polícia vai continuar atuando”, disse o policial civil.

O membro da Defensoria Pública da União, Thales Arcoverde, lembra que as vítimas das operações policiais são sempre as mesmas: a população negra e pobre. Na avaliação dele, a repercussão de massacres como o desta primeira semana de maio deveria ser maior.

“É um massacre da mesma população de sempre, no mesmo lugar de sempre. O Rio de Janeiro vive um estado de completa ausência de controle da força policial e isso deveria preocupar muito mais a sociedade”, salienta.

Arcoverde também destaca que a polícia do Rio mata cinco vezes mais pessoas do que a polícia dos Estados Unidos inteiro. “É como se a gente tivesse muitos Georges Floyds aqui todos os dias”, compara. Para o ouvidor-geral da Defensoria, Guilherme Pimentel, os pedidos de socorro vindos das favelas cariocas têm sido cada vez mais constantes. “Não eram pedidos em vão”, reforça.

Leia também: PSOL cobra rigorosa investigação sobre chacina no Jacarezinho

Desrespeito à restrição do STF

Em junho de 2020 o Supremo Tribunal Federal determinou através de liminar a restrição de operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro, em virtude da pandemia da Covid-19. Sobre a decisão, o delegado Oliveira afirma que não há proibição de que a polícia “cumpra seu trabalho”.

O porta-voz da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Rupert Colville, pediu ao Ministério Público do Rio de Janeiro uma investigação imparcial e independente do caso. A entidade reforçou ainda que a população que vive nas favelas brasileiras se mantém presa no ciclo vicioso de violência letal.

Em nota enviada à Alma Preta Jornalismo, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou que foi notificado sobre a ação e que pretende apurar se houve abuso por parte da polícia. “As denúncias recebidas serão apuradas pela 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro, através de um Procedimento de Investigação Criminal”, conclui o órgão.

Denúncia a organizações internacionais

A deputada estadual Renata Souza (PSOL) enviou informes à ONU e à OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre as violações de direitos humanos causadas pela Chacina do Jacarezinho. Os documentos contêm 10 vídeos e oito fotografias com imagens que comprovam ter sido extrapolado o papel da polícia.

“O nome dessa operação, Exceptius, é muito sugestivo, pois sugere que a Polícia do Rio se considera acima dos poderes da República e da própria Constituição. O que ocorreu no Jacarezinho foi um massacre que não cabe na lógica de um Estado democrático de direito. Não existe pena de morte no Brasil. Esse foi um espetáculo de barbárie de cunho fascista”, ponderou a parlamentar, que faz oposição ao governo carioca.

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