Enquanto a Europa responde por mais de 1,5 milhão de casos confirmados, os Estados Unidos ultrapassam 1,3 milhão e a América Latina está perto de 250 mil, o continente africano tem até agora 55 mil infecções
Texto / Guilherme Soares Dias | Edição / Simone Freire | Imagem / Vincenzo Livieri/Médicos Sem Fronteiras
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O Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), informou na sexta-feira (15) que, nas últimas 24 horas, o número de mortos por causa da Covid-19, o novo coronavírus, subiu de 2.336 para 2.406, enquanto os infectados passaram de 66.373 para 69.578 no continente africano. O número total de doentes recuperados aumentou de 23.095 para 23.978, de acordo com informações da Agência Lusa.
O norte de África mantém-se como a região mais afetada pela doença, com 1.297 mortos e 23.683 infetados pela Covid-19. Na África Ocidental há 428 mortos e ultrapassou as 20 mil infecções (20.603), enquanto a África Austral contabiliza 225 mortos e regista 12.259 casos, quase todos concentrados num único país, a África do Sul (11.350).
Por lá, desde o dia 1 de maio o governo tem levantado progressivamente as medidas de confinamento, em vigor desde o fim de março, para conter a propagação do novo coronavírus no país.
A pandemia afeta todos países do continente, após o Lesoto confirmar, na semana passada, seu primeiro caso. Mas há seis países – África do Sul, Argélia, Egito, Marrocos, Nigéria e Gana – que concentram cerca de metade das infecções pelo novo coronavírus e mais de dois terços das mortes associadas à doença.
O primeiro caso foi registrado no Egito, no dia 14 de fevereiro. E de lá para cá a mídia, especialistas, governos e até a Organização Mundial da Saúde (OMS) previram uma “catástrofe” no continente. Embora os especialistas alertem que ainda é muito cedo para cantar vitória, o “desastre iminente” previsto por John Nkengasong, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África, ainda não ocorreu.
Enquanto a Europa responde por mais de 1,5 milhão de casos confirmados, os Estados Unidos ultrapassam 1,3 milhão e a América Latina está perto de 250 mil, o continente africano tem até agora 55 mil infecções, de acordo com a BBC.
A rede britânica aponta que o número de mortes relativamente baixo é ainda mais surpreendente: até 8 de maio, essa região do mundo registrava pouco mais de 2 mil óbitos, muito menos do que outros continentes ou mesmo se comparado a uma cidade como Nova York (EUA), que já passou de 20 mil mortes. Esses números são mais impressionantes diante do fato de a África ser o segundo continente mais populoso do mundo, com 1,2 bilhão de habitantes.
Subnotificação
Os “baixos números” africanos, segundo a Rádio França Internacional (RFI), deve-se a incapacidade de se realizar testes massivamente, devido à falta de recursos. Além disso, as regiões que possuem mais infectados são as que possuem um fluxo maior de viajantes.
Já entre os que confirmaram menos casos há alguns locais pouco visitados por turistas. Entre as medidas em comum adotadas por diferentes países estão a suspensão de voos, aulas, proibição de aglomerações, fechamento de fronteiras e do comércio, o que foi adotado por muitos países logo no começo da pandemia.
Estudiosos também discutem se o clima e a faixa etária da população – majoritariamente jovem – possam também ter influência no atual quadro. A idade média africana é de aproximadamente 20 anos, metade da europeia. Mas ainda não há conclusões científicas que apoiem essa teoria.
Outro fator apontado pela BBC é que, embora a pandemia de coronavírus seja a mais grave crise de saúde de nossa geração, está longe de ser a primeira. O continente já enfrentou epidemias de malária, tuberculose, cólera, HIV e ebola. Todas tiraram vidas e fizeram com que a comunidade desse respostas para conseguir sobreviver a elas.
Alguns países africanos, por exemplo, já tinham infraestrutura de detecção nos aeroportos e também teriam aprendido a importância de detectar casos rapidamente, tratar os pacientes confirmados e isolar comunidades.
Há ainda a possibilidade do continente estar “atrasado” e os casos passarem a aumentar nas próximas semanas. O escritório da Organização Mundial da Saúde para a África subsaariana disse que, se as medidas restritivas impostas pelos governantes não derem certo, a região pode ter até e 44 milhões de infectados ainda este ano.
O que é consenso entre os analistas é que o impacto da pandemia realmente dependerá das ações que os governos tomarem.