País enfrenta dificuldades para aumentar o número de testes e lida com a limitação de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde
Texto / Pedro Borges I Edição / Simone Freire I Imagem / Youtube
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Na África do Sul, Mosa Moshabela, professor da Universidade de Saúde Pública e Enfermaria da Escola de KwaZulu-Natal, acredita que o número de casos de Covid-19, o novo coronavírus, está acima da previsão do governo. Segundo ele, a estimativa é que quatro mil pessoas já estejam infectadas, e não as pouco mais de 1.700 pessoas, como informou o Ministério da Saúde, na sua última atualização, nesta segunda-feira (6).
As duas províncias com o maior número de casos são Gauteng, onde está Joanesburgo, com 713 casos, e Western Cape, onde está a Cidade do Cabo, com 462 casos. A previsão de Mosa Moshabela, em entrevista ao TimesLive, é de que o país chegue a marca de 100 mil pessoas com a Covid-19 até o dia 6 de maio.
O professor também acredita que o aumento do número de doentes deve alterar a maneira do governo de detectar novos casos. “No momento em que se espalha para pessoas que não podem acessar os serviços de saúde, a taxa de detecção diminui drasticamente”, afirmou. Até o momento, apenas pessoas que retornaram de países com alto risco de infecção e tiveram contato com quem atestou positivo para a doença são aptas a serem checadas.
O governo aposta nas duas mil máquinas GeneXpert existentes no país, que poderiam oferecer o retorno acerca da infecção por Covid-19 em 45 minutos, ao invés das 48 horas do teste convencional. O Serviço Nacional de Laboratórios de Saúde (SNLS) tem 325 máquinas da GeneXpert em 176 laboratórios.
Dos 233 laboratórios do SNLS, 11 são usados para os testes da Covid-19, e 28 das 67 novas unidades móveis vão ser equipadas com a GeneXpert para ampliar o número de testes nas comunidades. A expectativa é a de ampliar o número de teste diários dos atuais 5 mil para os 15 mil testes.
Shabir Madhi, Conselho de Pesquisadores de Medicina da África do Sul, questionou o porquê de apenas 11, das 233 unidades, do Serviço Nacional de Laboratórios de Saúde (SNLS) trabalharem para aferir os exames da Covid-19. “Eu tenho medo de que a África do Sul seja a nova Itália ou Espanha”, disse Shabir Madhi.
Kamy Chetty, chefe do Serviço Nacional de Laboratórios de Saúde (SNLS), divide a responsabilidade para as dificuldades dos testes com o momento mundial, em que há uma limitação para a compra de testes. “Pedimos kits e eles não vem. São adiados. Os vôos são cancelados. É um grande desafio. O outro desafio é o fato de que o mundo inteiro está competindo pelos mesmos produtos”, conta ao TimesLive. Para a chegada por importação de um equipamento de checagem, o tempo estimado pelas autoridades locais é de 10 dias.
A África do Sul também tem apenas entre três e quatro semanas de equipamentos de proteção individual para os trabalhadores. A utilização adequada por parte dos profissionais de saúde impede que eles sejam contaminados pelos pacientes infectados.
Quando o governo é questionado sobre a necessidade de ventiladores de respiração e equipamentos de proteção necessários, há uma relutância em responder com números precisos. As autoridades têm o receio de citar números detalhados e espalhar medo pelas pessoas.
O Banco da África do Sul Grupo de Trabalho de Saúde iniciou um projeto para aumentar a produção local, utilizar equipamentos de EPI de empresas fechadas de maneira temporária e priorizar a importação de ventiladores e equipamentos de saúde.
Economia e o suporte para a crise
A aliança existente entre Congresso Nacional Africano (CNA), partido do atual presidente Cyril Ramaphosa, e os aliados Partido Comunista da África do Sul e o Congresso dos Sindicatos da África do Sul, rejeitaram qualquer possibilidade da África do Sul pedir recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
A sugestão veio do ministro das Finanças, Tito Mboweni. Ele acredita que a pandemia deva arrastar a economia do país para uma depressão econômica. A proposta tem sido rejeitada pelo partido do presidente, pois há o temor de que o pedido de apoio afete a soberania econômica da África do Sul.
A aliança sugere ao ministro das Finanças uma aproximação do Novo Banco para o Desenvolvimento, órgão ligado ao BRICS, grupo de países considerados como nações emergentes, caso de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No mesmo sentido, o partido propõe uma aliança de troca de tecnologia e conhecimento com a Rússia e a China. O grupo, formado pelos três partidos, também acredita que o governo sul-africano deveria atender à ajuda oferecida por Cuba, com o suporte de médicos e equipamentos.