PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Investimentos da China na África durante Covid-19 são chamados de “diplomacia da máscara”

30 de abril de 2020

País asiático investe recursos em máscaras, ventiladores e envio de médicos e é também responsável por obras de infraestrutura no continente

Texto / Guilherme Soares Dias | Edição / Simone Freire | Imagem / Focac

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

A pandemia da Covid-19 traz preocupações para todos os países que tentam enfrentar o novo coronavírus. Na África, os países têm recebido ajuda da China, primeiro lugar a registrar a doença, e maior parceiro comercial do continente.

A política do país asiático de enviar máscaras, luvas, ventiladores e envio de médicos tem sido chamada de “diplomacia da máscara” e é vista por especialistas como uma estratégia para aumentar ainda mais a força da China em relação à África, além de redefinir-se como “uma potência responsável”, já que foi acusada de encobrir os primeiros sinais da doença, e de minimizar os casos de racismo contra os africanos em cidades como Guangzhou.

Iuri Rosario, bacharel em Relações Internacionais e mestrando em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras, considera que há interesse da China de “se promover” com essa ajuda. Ele lembra que o crescimento acelerado dos últimos anos, e mesmo o investimento na fase atual, são vistos com desconfiança. O mestrando completa dizendo que a “A caracterização de projetos de cooperação e de integração entre países asiáticos-africanos se baseiam, por muitas vezes, por políticas de “ganha-ganha” e projetos bi ou multilaterais, que levam em consideração a ação política de Sul Global”. Esses são, segundo ele, alguns dos princípios da dinâmica e do entendimento do que muitos analistas hoje vão chamar de neocolonialismo ou neoimperialismo sino-africano.

Na Etiópia e no Burkina Faso, por exemplo, médicos chineses estão há vários dias aconselhando as autoridades de saúde nacionais no combate à pandemia, de acordo com o Deutsche Walle. Para o site alemão DW, Stephen Chan, professor de Política e Relações Internacionais no Centro de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, disse que os esforços da China são, acima de tudo, “urgentes e necessários, mas também muito úteis para as suas relações diplomáticas com África”, já que a China foi palco de ataques racistas contra migrantes africanos nas últimas semanas que causaram indignação no continente.

Os estrangeiros são muitas vezes vistos como potenciais portadores do coronavírus. Em Guangzhou, metrópole econômica do sul da China, onde vivem muitos imigrantes africanos, eles foram impedidos de entrar em supermercados e há relatos de pessoas confrontadas com a rescisão de contratos de aluguel.

Investimentos

A África é o lugar em que a China mais investe e já superou os Estados Unidos e as antigas potências coloniais europeias como principal parceiro comercial dos africanos. Em 2018, por exemplo, anunciou US$ 60 bilhões para projetos de Cinturão e Rota, como estradas, pontes, portos marítimos, energia e telecomunicações no continente, segundo informações da agência de notícias oficial da China, a Xinhua. O valor é o dobro do que o país asiático investiu nos países africanos nos últimos anos.

Para o geógrafo Kaue Lopes dos Santos, a China estabelece estratégia de ter acordos bilaterais com vários países do mundo dos quais absorvem as exportações e ajudam a construir a infraestrutura. “O discurso em relação à China é sempre negativo por parte do Ocidente e esse avanço é chamado de ‘novo imperialismo’, mas apesar deles serem o principal parceiro comercial ainda ficam atrás dos Estados Unidos, Inglaterra e França em investimentos”, afirma, citando dados da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), de 2018.

O investimento em infraestrutura e tecnologia da China em países africanos é visto como estratégia política. Um exemplo citado por Iuri Rosario é que os chineses conseguem, dessa forma, colocar seus produtos em territórios que antes importavam de outros países. “A China faz parcerias também em troca de votos na ONU (Organização das Nações Unidas). O país tem crescido em dois dígitos, equiparando-se aos Estados Unidos e com os investimentos têm ganhado visibilidade e se torna aos poucos a maior potência do mundo”, ressalta o mestrando em Estudos Africanos.

As nações ocidentais criticam que a ajuda chinesa aumenta consideravelmente a dívida pública de alguns países do continente. Mas durante o Focac (Fórum de Cooperação China-África) de 2018, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi enfático ao rechaçar que a ajuda econômica chinesa seja “neocolonialismo”.

Quando investe em infraestrutura, a China costuma prever que as nações africanas contratem empréstimos com bancos chineses e enviam seus próprios funcionários. Uma pesquisa da Universidade Johns Hopkings, nos Estados Unidos, calculou que havia mais de 200 mil trabalhadores chineses na África em 2016, em sua maioria na Argélia, em Angola, na Etiópia, na Nigéria e no Quênia. As ONGs de defesa dos direitos humanos questionam as condições a que esses trabalhadores chineses são submetidos.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano