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Racismo de conveniência: quando negros são bem vindos em times europeus

Das 32 Seleções que disputam o título de Melhor do Mundo este ano no Catar, 14 possuem ao menos um jogador com ascendência africana

Colagem de três jogadores da Copa do Mundo

Foto: Colagem: Vinícius de Araújo/Alma Preta Jornalismo

24 de novembro de 2022

Os primeiros dias da Copa do Mundo de 2022, no Catar, tem evidenciado o protagonismo negro na principal competição esportiva do planeta. Desde a estreia do torneio, em 20 de novembro – coincidentemente na mesma data em que se celebra o Dia da Consciência Negra, no Brasil – jogadores pretos atuantes em suas respectivas Seleções foram os primeiros a balançarem a rede, levantando a energia do campeonato para todo o mundo.

Como de costume, o país que sedia a Copa do Mundo é o responsável por abrir os jogos. Naquele domingo de duelo entre Catar e Equador, Enner Valencia marcou dois gols, um de pênalti e outro de cabeça, fazendo a Seleção Equatoriana assumir a liderança do Grupo A na primeira semana. Para além da ambientação do torneio, o atacante negro também fez história: pela primeira vez, nesses 92 anos de campeonato mundial, uma seleção anfitriã foi derrotada na estreia.

O protagonismo preto não se restringiu apenas à estreia da Copa do Mundo. Na segunda-feira (21), a Inglaterra venceu o Irã com uma goleada de 6 a 2. Os cinco primeiros gols do país monárquico foram marcados por negros: Jude Bellingham; Bukayo Saka, com dois gols; Raheem Sterling e Marcus Rashford. Nesse mesmo dia, País de Gales empatou por 1 a 1 com os Estados Unidos (EUA), que teve gol marcado por Timothy Weah, filho de George Weah, ex-futebolista e atual presidente da Libéria. Fato que chama atenção.

Isso porque o número de jogadores africanos ou de descendência africana que atuam em clubes fora do continente é bastante expressivo. São atletas que, muitas vezes, destacam-se em equipes de países que colonizaram o território de seus antepassados. É o caso do lateral-esquerda Saka, do Arsenal Football Club. Descendente da Nigéria, seus pais emigraram do seu território de origem para Londres.

Das 32 Seleções que disputam o título de Melhor do Mundo este ano no Catar, 14 possuem ao menos um jogador com ascendência africana. De acordo com a lista oficial de convocados da Fifa, a França é o país que tem o maior número de jogadores que nasceram ou têm parentesco com o terceiro maior e mais antigo continente do planeta. No total, são 14 atletas da Seleção Francesa que se encaixam nesse perfil.

Racismo e xenofobia europeia

Os motivos que levam a imigração desses jogadores são diretamente proporcionais ao preconceito e discriminicação que eles sofrem nos países colonizadores de seus ancestrais. A exaltação que Saka, o atacante Rashford (descendente caribenho) e Jadon Sancho, do Manchester United, receberam esta semana na Copa do Mundo, quando marcaram gol pela Inglaterra, teve efeito reverso em julho do ano passado, na Eurocopa.

Os dois jogadores negros sofreram ataques racistas e xenofóbicos massivos nas redes sociais ao perderem pênaltis decisivos da partida, que concedeu por 3 a 2 o título de campeã a Itália. Termos como “macaco”, “volta para Nigéria” e “saia do meu país” foram algumas das expressões que europeus escreveram na internet. Os jogadores alvos dos insultos, inclusive, chegaram a passar por uma má fase depois dos ataques.

“Condenamos veementemente todas as formas de discriminação e estamos horrorizados com o racismo online que tem se dirigido a alguns de nossos jogadores da Inglaterra nas redes sociais”, afirmou a The Football Association, instituição que organiza o futebol inglês.

Agora, na Copa do Mundo do Catar, esses mesmos atletas são considerados heróis. “Inglaterra em 2021 culpou seus jogadores negros por terem perdido pênaltis contra França na Eurocopa. Hoje: Saka, Sterling e Bellingham fazem os gols da miscigenado Inglaterra. Inglaterra, França e Brasil são as seleções mais fortes nesta Copa por causa de jogadores negros”, escreveu um perfil no Twitter.

“Oito gols na copa, sete de jogadores negros”, observou um torcedor naquela segunda-feira. “A Inglaterra terminou a última Euro com o vice e diversos ataques racistas a três jogadores negros que perderam os pênaltis contra a Itália (Rashford, Sancho e Saka). Hoje, o time estreia na Copa como um dos favoritos e com três gols de jogadores negros (Bellingham, Saka e Sterling)”, comentou um jornalista.

Outro caso emblemático envolveu o jogador Karim Benzema, em 2016. Atuante no Real Madrid, o atleta se viu vítima de discriminação ao não ser convocado pela Seleção Francesa para a Eurocopa de 2016. Na época, ele – que é descendente de argelinos nascido e crescido na periferia de Lyon, na França – chegou a dizer que ficou de fora da competição por ser Mulçulmano e seus pais, imigrantes. “Quando eu faço gols, sou francês. Quando não faço ou as coisas vão mal, eu sou árabe”, refletiu à época.

E as Seleções Africanas?

Outro fato curioso que chama atenção é como ficam as Seleções Africanas com a intensa imigração de seus talentos para outros países, sobretudo os europeus. Muitos descendentes deles – filhos ou netos – terminam voltando ao continente ao sul do Mar Mediterrâneo para defender seleções de seus antepassados.

Isso é o que acontece com o Marrocos este ano na Copa do Mundo no Catar. A Seleção Marroquina é a equipe que tem o maior número de jogadores naturalizados entre todos os países que disputam o Mundial no Catar. Dos 26 convocados, 14 não nasceram efetivamente, mas possuem famílias e origens marroquinas.

Achraf Hakimi é um exemplo disso. O craque nasceu em Madri, na Espanha, mas escolheu defender o Marrocos – terra natal de seus pais, que foram imigrantes na capital espanhola – na Copa do Mundo 2022. Assim como ele, o jogador Kalidou Koulibaly nasceu na França, mas optou por defender o país de origem de seus pais: o Senegal.

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