O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) promove, em São Paulo, a partir de 16 de dezembro, a exposição “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”. A mostra apresenta criações de 61 artistas negros de diversas regiões, produzidas ao longo dos últimos dois séculos no Brasil, e fica em cartaz até 18 de março de 2024.
Ao todo, a exibição reúne cerca de 150 pinturas, fotografias, esculturas, instalações, vídeos e documentos que abordam uma variedade de temáticas, técnicas e descritivos, distribuídos pelos cinco andares do CCBB. A visitação completa leva em torno de duas horas.
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A exposição foi idealizada para discutir eixos temáticos em torno de artistas negros emblemáticos a partir de cinco nomes centrais. No primeiro deles, o público confere a arte de Arthur Timótheo da Costa, cuja produção transita entre os séculos 19 e 20. Seus traços revelam certa dramaticidade e evoluem para uma obra pré-modernista.
O destaque da segunda sessão é de Rubem Valentim. Considerado um mestre do concretismo brasileiro, a mostra propõe uma discussão sobre a forma e os elementos religiosos. Em sua trajetória, o artista utilizou símbolos e emblemas geométricos de religiões de bases africanas.
O terceiro eixo é dedicado à vibrante arte de Maria Auxiliadora, que utiliza cores de forma encantadora em retratos, autorretratos e festas religiosas. Sua obra transcende o estético, engajando-se em debates políticos sobre moradia, territórios, segurança alimentar e direitos da população negra.
Mestre Didi, homenageado na quarta seção, foi um artista e sacerdote que revelou a complexa relação entre Brasil e África por meio de sua espiritualidade. Suas obras são conhecidas pelo uso de materiais naturais como búzios, sementes, couro e folhas de palmeira, explorando as afro-religiosidades dessas interações.
Por fim, no último eixo, a protagonista é Lita Cerqueira, única artista ainda viva entre os cinco expoentes. Aos 71 anos, ela se consolidou como uma das maiores representantes da fotografia brasileira.
Sua trajetória internacionalmente reconhecida iniciou capturando a essência de festas populares na Bahia, capoeira e detalhes arquitetônicos do centro histórico de Salvador. Em seguida, mergulhou na fotografia cênica, registrando músicos da sua época, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa.
Projeto Afro
A exposição é um desdobramento do Projeto Afro, uma plataforma afro-brasileira de mapeamento e difusão de artistas negros. Em desenvolvimento desde 2016, a iniciativa lançada em 2020 abrange cerca de 300 artistas catalogados que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, desde o século 19 até os contemporâneos nascidos nos anos 2000.
O trabalho de pesquisa por trás do projeto e da exposição surgiu do desejo e frustração do jornalista, pesquisador e curador da mostra do CCBB, Deri Andrade, ao não encontrar muitas referências sobre a arte afro-brasileira no Brasil.
Durante o processo, Andrade mergulhou em diversas publicações, pesquisas e materiais — incluindo exposições notáveis como as de Emanoel Araujo nos anos 90 — para mapear artistas negros e suas obras por todo o Brasil. Essa busca resultou no projeto de catalogação, resgatando uma arte muitas vezes marginalizada pela sociedade.
Os ingressos, gratuitos, estão disponíveis na bilheteria física e no site do CCBB SP.