Pessoas negras que foram ver – Pourquoi Pas? – têm opiniões divergentes às das redes sociais.
Texto / Runan Braz
Imagem / Runan Braz e divulgação
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Após repercussão nas redes sociais, com acusações de racismo e blackface, a ex-consulesa da França no Brasil Alexandra Loras inaugurou no dia (2/12) em São Paulo a exposição Pourquoi Pas? – Por que não? – em português. A proposta da arte é criar uma reflexão sobre o racismo, mostrando a ausência dos negros nos espaços hegemônicos da sociedade.
Em meio à Galeria Rabieh, nos Jardins, estão expostos 20 quadros de personalidades brancas, como João Doria, Donald Trump, Dilma Rousseff, William Wack e Xuxa. Eles tiveram as peles escurecidas por meio de uma manipulação digital, ação que provocou a grande polêmica.
O público presente no primeiro dia do evento era pouco diverso. Uma minoria de tons de pele negra se destacava ao lado da maioria de rostos brancos. Havia mais pessoas negras nas pinturas dos quadros do que corpos negros presentes durante grande parte do evento. Ao lado, pessoas da elite branca tiravam fotos, observavam e analisavam as obras.
Pessoas acompanham a exposição idealizada por Alexandra Loras (Foto: Runan Braz)
Visão da militância sobre o artivismo
Nas redes sociais, muitas pessoas e o movimento negro apontam o uso do blackface, técnica caricata usada no teatro e no cinema que escurece a pele branca com tinta para estereotipar as pessoas negras ofensivamente. O Coletivo Sistema Negro avalia que a exposição está sendo feita de maneira equivocada e desrespeita a população negra.
“O blackface colocado ali, como intuito de ser arte, é um erro pois parte da premissa que é necessário um olhar sobre figuras brancas pixadas de preto para que se produza “empatia” por parte das pessoas brancas, quem a expositora diz que deseja atingir, sobre racismo no Brasil.”, explica o sociólogo, curador de conhecimento e membro do Coletivo Sistema Negro, Tulio Custodio.
O Coletivo também critica a estratégia adotada pela ex-consulesa, pois a reflexão motivada por essa arte dificilmente causará um incomodo à elite. Efeito notável em políticas públicas para pessoas negras, como a PEC das Domésticas e as Ações Afirmativas.
“A estratégia é equivocada a partir de sua premissa de que, por meio de uma pergunta de viés colonialista (“Por que não?”, que é uma espécie de interdição e sequestro do ‘Não’ do oprimido), ela possa atingir o grupo, geralmente acrítico sobre realidade que vivem, que mais se beneficia da mesma realidade.”, pondera Tulio.
O que os olhos veem
No intuito de identificar se as opiniões dos visitantes negros coincidiam-se com as críticas apontadas, conversamos com alguns deles.
Para Mayara de Souza, 25, advogada e pós-graduanda, a estratégia de chamar atenção elaborada pela ex-consulesa deve ser considerada. Mayara respeita as críticas e as falas da militância e diz que o intuito da exposição é provocar as pessoas brancas que deslegitimam a luta negra.
“Olho para essas imagens e não me sinto ofendida e não penso que desmereçam as pessoas negras. Não foram feitas para serem bonitas, mas para levantarem o debate. Não precisamos pintar gente branca de negra para ter visibilidade, mas gente branca da elite não conhece Luiz Gama, Abdias do Nascimento, Carolina Maria de Jesus.”, avalia.
Já o Comendador Jean Nascimento, da Sociedade Negra Paulistana, concorda com a críticas do blackface, no entanto, destaca a exposição como um marco de representatividade negra no meio artístico.” A Alexandra está abrindo as portas para os artistas plásticos, como o M.I.A, poderem colocar a expressão deles em locais de elite”, afirma.
Carlos Eduardo dos Santos, 57, agente de viagens, sentiu-se gratificado em comparecer à exposição e diz que as críticas feitas à obra são maldosas e motivadas pela falta de informação. “Estamos atingindo nossos objetivos na mostra, nos fazendo presentes”, pondera.
A advogada da Educafro, Débora Viviane Silva, achou fantástica a exposição e como a ex-consulesa provocou o debate, questionando a subalternidade. “A exposição é feita por uma pessoa que tem representatividade, pelas lutas e causas negras e mostra como a sociedade brasileira trata de forma violenta os negros por meio do menosprezo”.
Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi um dos representados (Foto: Runan Braz)
O que diz a Alexandra Loras?
Para a Alexandra Loras, a obra que acontece nos Jardins é relevante para fazer os brancos da elite enxergarem como seria o mundo inverso, fora do protagonismo. “São eles que nos contratam e que têm a chave do jogo”, justifica. Ela pede desculpas a quem se sentiu ofendido, alegando que o objetivo não era ofender e sim criar um desconforto.
Loras também comentou sobre as intensas críticas e o repúdio à sua obra. Falou que a opressão do branco provocou o conflito do negro entre si, contribuindo para a desunião e o não reconhecimento do negro em posições importantes.
“Respeito os ataques da militância, mas isso mostra a ‘síndrome do capitão do mato’ dentro de nós. A Ministra Luislinda Valois, a deputada federal Tia Eron, a juíza do trabalho Mylene Ramos, eu, Alexandra Loras, sofremos constantemente ataques de militantes que acham que pra ser uma verdadeira militante temos que estar morrendo de fome na favela, mas o espaço da mulher é onde ela quiser. Precisamos estar não só no PT, mas também no PSDB e em outros partidos”, avalia.