“Na minha infância, assim como na infância da minha família, não havia super-heróis negros, principalmente um que fosse 100% brasileiro. Esses super-heróis não estão nos livros, não estão na internet, não estão na escola. Foi por isso que surgiu ‘O Pequeno Herói Preto’”, destaca Junior Dantas, autor, idealizador e ator do espetáculo que está em cartaz até 13 de fevereiro no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro.
Com a ideia de criar um personagem em que as crianças e também os adultos pudessem se identificar, Junior Dantas, junto à Cristina Moura, que também assina o texto da peça, deram vida ao Super Nagô, um menino de 10 anos, que é youtuber, adora o universo de super-heróis e da leitura.
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“Hoje a gente já tem super-heróis como o Pantera Negra, o Super Choque, mas ainda são poucos se a gente for comparar com a nossa população”, destaca o ator da peça. Nesse contexto, ele idealizou uma história em que pudesse também trazer elementos de sua vida pessoal, da relação familiar e de suas lembranças de infância em Ipueira, interior do Rio Grande do Norte.
Na trama infanto-juvenil, o personagem acredita que a avó tem o poder do fogo, por transformar a vida das pessoas por meio da comida. O avô tem o poder da terra, por adorar ler e ensinar ao personagem vários assuntos. A mãe teria o poder da água, por se movimentar parecido às águas, por meio da dança e de seu trabalho como auxiliar de serviços gerais. Além disso, Super Nagô acredita que o pai tem o poder do ar, por ter saído de casa para trabalhar e nunca mais voltado.
“A gente diz que ‘O Pequeno Herói Preto’ é uma autoficção, porque é uma mistura da minha história com a ficção. Em seu canal, o Super Nagô conta sobre os super-heróis negros que ele aprendeu nos livros, fala dos heróis do dia a dia e descobre que os poderes dele vem da família”, explica Dantas.
O projeto do espetáculo começou a ser idealizado em 2019, mas, com o início da pandemia, foi desdobrado para vários outros projetos. Antes mesmo da história do Super Nagô chegar às apresentações presenciais, ela já estava no ar com uma websérie de quatro episódios publicados em março de 2021. Além disso, a história também estreou em espetáculo virtual em junho do ano passado.
“Eu quis colocar a linguagem da internet. Tem muita referência do afrofuturismo também. Eu observava muito as minhas sobrinhas, o que elas curtiam, o que elas gostavam, como que elas se conectavam com o celular, com o computador e essa linguagem. Eu queria fazer algo que tivesse bastante conteúdo, que as famílias colocassem para os filhos assistirem e que fosse usado em sala de aula”, comenta Dantas.
Na websérie ‘O Pequeno Herói Preto’, disponível no Youtube, Super Nagô fala sobre heróis e heroínas negros, além de contar com entrevistas de heróis e heroínas reais, artesanato, brincadeiras africanas e dicas de livros, filmes e jogos eletrônicos. A websérie foi indicada ao Rio Webfest 2021, primeiro festival internacional de webséries brasileiro, nas categorias ‘Melhor Série Educacional’ e ‘Melhor Roteiro de Não-Ficção’.
Ancestralidade e sentimentos
Além das relações familiares, o espetáculo também explora o tema da ancestralidade quando o personagem usa os conhecimentos de antepassados para transformar positivamente a vida das pessoas, apresentando elementos históricos e culturais.
“Levamos heróis e heroínas pretos que nem sempre estão nos nossos livros de História. Tem personagens históricos, personagens também que ainda estão aqui entre a gente e personagens da ficção. Eu falo desde Pantera Negra, Diana da Caverna do Dragão, Super Choque a Elza Soares, Conceição Evaristo, Gilberto Gil, Dragão do Mar, Dandara, Abdias do Nascimento, entre vários outros”, relata Dantas.
A peça também busca falar sobre sentimentos e como lidar com emoções, como raiva, alegria, tristeza. “É um espetáculo que tem muita informação e é para todas as idades. A gente fez pensando em uma linguagem para todo mundo. Não é uma linguagem infantilizada, tratando a criança como se fosse alguém que não estivesse entendendo. Então, é muito lúdico e tem muita representatividade”, destaca o ator da montagem.
O espetáculo contém muitas músicas, compostas por Muato, que também assina a direção e a produção musical. Inclusive, futuramente, as composições do espetáculo, além de clipes musicais, serão lançadas nas plataformas digitais. Já estão disponíveis objetos da peça, como o boneco do Super Nagô, canecas e camisetas, propondo que o debate não acabe no teatro.
“Eu acho que a grande missão do Super Nagô, que eu sempre gosto de frisar, é mostrar que a gente não precisa ter força de um super-herói, como levantar um caminhão e voar com uma capa. O nosso poder está dentro da gente. É você saber que você é o herói e a heroína da sua vida e observar as pessoas que estão do seu lado, que estão transformando a nossa vida e, às vezes, a gente nem percebe”, finaliza Dantas.
Serviço
Duração: 45 minutos
Idealização, obra original e atuação: Junior Dantas
Texto: Cristina Moura e Junior Dantas
Direção: Cristina Moura e Luiza Loroza
Direção musical, composição, produção musical, percussão corporal: Muato
Quando: 15 de Janeiro a 13 de Fevereiro, aos sábados e domingos, às 16h
Endereço: Teatro Dulcina – Rua Alcindo Guanabara, 17, Centro, Rio de Janeiro
Os ingressos podem ser adquiridos no Sympla e bilheteria do Teatro Dulcina. É necessária a apresentação do comprovante de vacinação e o uso de máscara.
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