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Festival Latinidades terá edição online com manifesto ‘se puder, sonhe’

16 de julho de 2020

Com o tema “Utopias Negras”, evento acontece digitalmente entre os dias 22 e 27 de julho

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Ester Cruz/Divulgação

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O manifesto “se puder, sonhe” da 13ª edição do Festival Latinidades convoca as pessoas negras, em especial as mulheres, a sonhar. “Vamos falar de sonho por que as pessoas negras que vieram antes da gente realizaram e materializaram o que está acontecendo. Utopia é fundamento. Estamos em travessia, não sabemos o que vai acontecer pós-pandemia. Se não disputarmos esse espaço de novo normal, ficaremos fora dessa narrativa de novo”, afirma a fundadora do evento Jaqueline Fernandes, em entrevista ao Alma Preta.

O maior festival de mulheres negras da América Latina acontece, com o apoio da Converse, entre os dias 22 e 27 de julho e tem como tema “Utopias Negras”.  Em razão da pandemia da Covid-19, a edição será digital, com uma programação de mais de 60 atividades, entre painéis, oficinas, workshops, shows de música, recitais de poesia, rodas de conversa e espaço infantil. Participam todas as regiões brasileiras e mais nove países: Barbados, Colômbia, Cuba, Etiópia, Haiti, Jamaica, Nigéria, Costa Rica e Guiné Bissau.

O projeto parte do lugar das artes e da cultura para dialogar, disputar narrativas e fortalecer diferentes saberes de mulheres negras: na academia, na rua, na escola, no chão de fábrica, na comunicação, nos movimentos sociais, na gestão de políticas pública. “na diversidade infinita das nossas potências e possibilidades de produção de conhecimento”, conta Jaqueline.

Jaqueline lembra que em um debate do filme “Cores e Botas”, realizado pelo Latinidades em Varjão, na periferia de Brasília (DF), percebeu que as crianças tinham sonhos relacionados apenas à sobrevivência, como ser policial, enfermeira ou acabar com a violência, enquanto crianças brancas de regiões nobres da cidade não tinham limites de sonhos e falavam em ser astronautas, pegar estrelas, entre outros desejos. “A utopia pode parecer loucura, mas quem tem direito de sonhar? Por isso, as crianças terão papel fundamental. Vamos ouvi-las e entende-las para saber mais sobre a produção de conteúdo que elas fazem”, compartilha a responsável pela organização do evento.

De Brasília à América Latina e África

O Latinidades nasceu em 2008 quando Jaqueline Fernandes e Chaia Dechen perceberam que não havia espaço para artistas negros e periféricos em Brasília. As duas mulheres negras criaram uma produtora chamada Griô para agenciar e tentar fazer a cena crescer. Na época, os festivais não tinham artistas pretos e pretas em seus line-ups.

Naquele momento, a proposta era fazer o 25 de julho, Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, ganhar força. “Estamos numa cidade que inviabiliza os negros. Em Brasília, somos 55%, mas no plano piloto as pessoas negras estão apenas em espaço de subalternidade. Criamos algo que pudesse mostrar nossa potência”, ressalta Jaqueline.

O festival foi crescendo e na terceira edição já havia se tornado nacional. “Começamos abordando questões locais, problemas que achamos que eram só nossos. Mas percebemos que aquelas angústias eram os problemas das mulheres negras e caribenhas, quer era maior que a gente e não nos vimos tão sós”, afirma a curadora do festival.

Jaqueline salienta que a pauta da integração latino-americana por si só é importante, uma vez que o Brasil é apartado do resto do continente, assim como fazer o recorte de raça e de gênero.

Além de ganhar corpo, ao longo dos anos o Latinidades se adaptou aos períodos em que ocorre. Se em 2020 o evento será online por causa da pandemia, em 2019 precisou migrar de Brasília para São Paulo para continuar a existir.  No ano passado, o governo de Ibaneis Rocha (MDB) cancelou o edital que viabilizava o festival e não possibilitava apoios para que o evento ocorresse. Diante da situação,o Centro Cultural São Paulo convidou as organizadoras para realizar a edição na capital paulista.

Na edição de 2020, três grandes mulheres serão homenageadas: Mãe Dalva Damiana, da Irmandade da Boa Morte, na Bahia; a cantora carioca Elza Soares; e a artista Elisa Lucinda, do Espírito Santo, fundadora da Casa Poema, onde publicou livros de poemas.

Programação online

O festival faz alusão ao 25 de Julho, Dia da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha. Entre os shows, destaque para a apresentação especial da Converse, que traz as rappers Mc Soffia e Rosa Luz (25 de julho, às 22h30). A programação também conta com shows de Nara Couto (24 de julho, às 20h); Tuyo (24 de julho, às 22h); Preta Ferreira (25 de julho, às 21h) e Majur (27 de julho, às 21h). O festival online começa no dia 22 de julho, às 10h, com a mesa “Papo de Futuro”, em parceria com a Crespinhos S.A., do Rio de Janeiro. Pela primeira vez, o Latinidades vai abrir com uma conversa entre crianças, de 9 a 11 anos, para falar sobre o futuro.

Todos os dias acontecem atividades no espaço infantil “Pretinhosidade”, realizada pelo Grupo Editorial Pretaria BlackBooks e Aflorarte Produções. O principal objetivo é levar arte, cultura, diversão e literatura de autoria negra para as casas das famílias brasileiras.

Já o encerramento do festival, no dia 27 de julho, será dedicado ao projeto “Serviço de Preta”, uma maratona de ofertas de cursos, mentorias, workshops e ferramentas para fortalecer negócios de mulheres negras – um espaço de formação empreendedora, especialmente criado para trabalhadoras negras da cultura. A programação completa pode ser conferida no site Afrolatinas.

“Apesar de todo o legado da cultura negra para humanidade, os espaços onde se discute o mercado da arte e da cultura têm sido, historicamente, negados para pessoas negras. E não basta simplesmente estar lá, já que, não raramente, não dispomos das ferramentas necessárias para corresponder ao network e às dinâmicas lineares, eurocentradas e embranquecidas da indústria”, pondera a criadora do festival.

Esta reportagem faz parte de uma parceria entre o Alma Preta e a Converse, apoiadora da edição de 2020 do Festival Latinidades.

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