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Filme ‘Genocídio e Movimentos’: um grito contra o projeto de extermínio do povo negro

"Contra o genocídio do povo negro, nenhum passo atrás", diz a diretora Andreia Beatriz em entrevista exclusiva à Alma Preta; Filme estreia no sábado (4), no cinema Glauber Rocha, em Salvador, durante o Panorama Internacional Coisa de Cinema

Texto: Dindara Ribeiro | Edição: Nadine Nascimento | Foto: Divulgação

Genocídio e Movimentos

1 de dezembro de 2021

Denunciar o projeto político de extermínio da população negra brasileira é um dos objetivos do filme ‘Genocídio e Movimentos’. Por meio de relatos de famílias, ativistas negros e negras e pesquisadores, o longa-metragem denuncia as sucessivas violências que atingem os corpos negros e traz à tona a fragilidade e as vertentes do racismo que direcionam as políticas de segurança pública do país.

O filme terá sua estreia neste sábado (4), no cinema Glauber Rocha, em Salvador, durante o XVII Panorama Internacional Coisa de Cinema e tem direção coletiva dos integrantes da Organização Política Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto (REAJA), Andreia Beatriz e Hamilton Borges dos Santos; e do diretor, roteirista e pesquisador, Luis Carlos de Alencar. A produção é da carioca Couro de Rato.

diretores filmeAndreia Beatriz, Hamilton Borges dos Santos e Luis Carlos de Alencar assinam a direção do filme, que será lançado no sábado (4), em Salvador | Foto: Divulgação

Tendo como cenário as cidades de Salvador e Rio de Janeiro, o filme foi gravado entre 2008 e 2016 e resgata uma série de violações e chacinas contra pessoas negras e periféricas, e evidencia problemáticas sociais e raciais que tem o corpo negro e pobre como alvo. Para além de uma denúncia, o filme também levanta debates, vozes e gritos de um povo que luta pelo seu direito de sobreviver no país.

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“O filme vira ele em si um dispositivo por mais de 10 anos que nos faz nos reencontrar sistematicamente, sempre movido pela ações da Reaja no enfrentamento do genocídio do povo negro. Não houve linearidade ou processos convencionais de autoria e, com isso, não se quer dizer que o documentário encontrou o consenso entre as diretoras. Não há consenso. É um filme que traz muitos encontros e atravessamentos entre modos de pensar e agir, mas que virou uma obra possível”, diz a diretora Andreia Beatriz em entrevista exclusiva à Alma Preta Jornalismo.

O projeto do filme surgiu em 2007, com uma pesquisa sobre grupos de extermínio na Bahia. Foi a partir do diálogo com Hamilton Borges, idealizador do Reaja, que o longa passou a explorar o recorte racial por trás das mortes e das dinâmicas de poder que atravessam o povo negro. O papel das mulheres negras na organização da luta do povo negro é o principal fio condutor do longa, guiando a narrativa pela potencialidade espiritual e de continuidade do movimento negro.

“[…] o conceito de genocídio do povo negro é trazido para o cerne da narrativa e, mais do que isso, pessoas envolvidas com a realização do projeto passam a colaborar com ações da Reaja […] E o avanço do debate para dentro do roteiro acaba por alcançar Gustavo Mello, ator e diretor teatral, que elabora um solo performático sobre o tema ‘Eminência de destruição do corpo negro’, cujo processo também está no filme”, destaca a diretora.

Um dos casos trazidos no filme é a Chacina do Cabula, ocorrida em fevereiro de 2015 no bairro de região periférica de Salvador. Doze jovens, entre 16 e 27 anos, foram mortos por nove policiais militares. Até hoje o caso segue sem desfecho e oito dos nove PMs seguem atuando nas ruas.

“Para nós, não se trata de abordagens policiais periféricas somente, mas de abordagens policiais violentas, negação da nossa humanidade, negligência do estado no que toca à nossa saúde, educação, cultura, lazer, transporte, acesso à renda e emprego enquanto povo preto, de origem africana e cujo reconhecimento da humanidade informa a contradição da sociedade brasileira sobre a nossa presença”, pontua Andreia, que também é médica e atua com ações de saúde e cultura na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador.

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“Além de ser um registro de algumas das mais importantes ações do enfrentamento ao genocídio racial já feita no século XXI – as Marchas da Reaja, que congregavam gente do país inteiro e do mundo – pode ser ferramenta de atuação e debate”, completa a diretora.

Sobre a principal mensagem que o público pode esperar do filme, a diretora afirma: “Reaja ou será morto. Contra o genocídio do povo negro, nenhum passo atrás”.

XVII Panorama Internacional Coisa de Cinema

A 17ª edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema começa nesta quarta-feira (1) e segue até o dia 8 de dezembro com exibição de cerca de 80 produções da Bahia e dos territórios nacionais e internacionais.

A programação acontece no Cine Metha Glauber Rocha, um dos cinemas de rua mais antigos da Bahia. Será a primeira vez, desde 2019, que o local vai receber a presença do público. Recentemente, o Glauber Rocha enfrentou uma série de dificuldades e chegou a correr o risco de fechar as portas por falta de patrocínio. Em novembro deste ano, o Grupo Metha assumiu o cinema do estado, com contrato de cinco anos.

O festival terá competitivas em três categorias: Baiana, Nacional e Internacional. Na competitiva estadual, 25 filmes e produções concorrem, incluindo o longa ‘Genocídio e Movimentos’. A programação completa pode ser conferida no site do Panorama Internacional Coisa de Cinema.

Serviço:

Filme “Genocídio e Movimentos” – XVII Panorama Internacional Coisa de Cinema

Datas e horários: Sábado (04/12), às 17h40 – sessão seguida de debate com diretores | Domingo (05/12), 13h20

Local: sala 1 do Cine Metha – Glauber Rocha – em frente a Praça Castro Alves, Salvador (BA)

Ingressos: R$ 5,00

  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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