Segunda edição do Nicho Novembro, realizado pelo instituto Nicho 54, acontece online entre 9 e 15 de novembro; programação inclui mostra, painéis e laboratório de projetos
Texto: Redação | Edição: Nataly Simões | Imagem: Nathalia Henrique
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Mostra de filmes, laboratório de desenvolvimento de projetos de cridores negros e painéis movimentam a segunda edição do Nicho Novembro, que acontece entre os dias 9 e 15 de novembro. O evento traz como tema “Audiovisual como direito ao trabalho, com atividades gratuitas transmitidas pela plataforma Zoom e pelo Facebook.
A escolha do tema da edição tem como base o aprofundamento em diferentes aspectos sobre como a cultura desse setor impacta profissionais negros e quais são os paradigmas que devem ser questionados rumo a uma cultura de trabalho não-excludente.
“O setor audiovisual se apoia na ideia da ‘fábrica de sonhos’, definição pode esconder relações de trabalho nebulosas, calcadas no deslumbramento e no discurso de meritocracia. Sendo uma atividade historicamente relegada às elites, o mercado de cinema brasileiro reproduz vícios de espaços construídos sem a participação das múltiplas perspectivas negras”, afirma Raul Perez, cofundador do instituto Nicho 54.
A programação inclui atividades que refletem os três eixos de atuação do instituto: formação, curadoria e mercado.
Lab Nicho 54
No eixo Formação, a grande novidade desta edição é o Lab Nicho 54, laboratório de desenvolvimento de projetos audiovisuais de criadores negros. As inscrições foram realizadas entre os meses de setembro e outubro com a participação de projetos de dez estados brasileiros. Os 12 projetos selecionados, entre filmes e séries nos formatos ficção e documentário, passam por uma imersão durante o período do Nicho Novembro com mentores que abordaram aspectos criativos e executivos do projeto.
Os escolhidos também participam de master class com profissionais experientes do setor. No último dia de Lab, os projetos fazem a defesa oral para uma comissão avaliadora que vai conceder oito prêmios oferecidos pela rede de parceiros do Nicho 54. A premiação conta com os seguintes parceiros: Globo Filmes, Projeto Paradiso, DOCSP, Roteiraria, Quanta, Aspas Audiovisual, Olivieri & Associados e Uno Filmes.
Painéis
No eixo Mercado, painéis norteados pelo tema desta edição reúnem profissionais, intelectuais e especialistas nacionais e internacionais. As atividades são inauguradas com a “Conversa com o Instituto”, na qual os cofundadores do Nicho 54 convidam os múltiplos agentes do audiovisual para uma interlocução sobre o tema do evento deste ano.
Na terça-feira (10), discute atravessamentos de raça e gênero por meio do painel “Mulheres e Mercado de Trabalho Audiovisual”. Já na quartqa-feira (12), o painel “Direitos Autorais” convida a repensarmos a autonomia dos criadores negros e negras no que tange a negociações e autoria de seus projetos.
A agenda de discussões se encerra na quinta-feira (13) com o painel “Pessoa Preta, Sujeito do Mundo”, que conta com as contribuições da produtora Effie Brown (Cara Gente Branca & Gamechanger Films), do produtor Jorge Cohen (Geração 80) e do curador Themba Bhebhe (European Film Market da Berlinale – Diversity & Inclusion).
“Enxergamos essa conversa como um incentivo à comunidade negra brasileira do audiovisual para pensar suas atuações para além das fronteiras do nosso país. Nossos convidados se engajaram prontamente no compartilhamento de conhecimento, que é um valor caro para o nosso instituto”, afirma Fernanda Lomba, uma das fundadoras do Nicho 54 e que também atua como produtora executiva do instituto.
Mostra
No eixo Curadoria, a mostra de filmes exibe quatro longas-metragens e 12 curtas. Desses, oito inéditos em território nacional. São histórias oriundas do Brasil, Quênia, Estados Unidos, Angola, Ruanda e França. Durante a semana do evento, os filmes estreiam sempre às 19h e ficam disponíveis por 42 horas no site.
“Os filmes do Nicho Novembro 2 levarão o público a viajar por diferentes territórios, subjetividades, predileções estéticas, temas e intenções”, pontua o curador e programador Heitor Augusto, que também é um dos fundadores do Nicho 54.
Um dos destaques dessa edição são os programas de curtas, intitulados “Nós e os nossos” e “A cor do trabalho”, dedicados a filmes sobre jornadas individuais e familiares de personagens pretos bem como o lugar do trabalho para as populações negras.
“O curta-metragem é um formato no qual as potências negras têm florescido. Por isso mesmo decidimos encerrar o Nicho Novembro com um filme desse formato, o afrofuturista Deusa Toda Poderosa (Black Lady Goddess), da criadora transmídia Chelsea Odufu”, revela o curador.
Fomentando diálogos entre a diáspora e também com as criações do continente africano, a seleção de longas-metragens da mostra apresenta Por toda a noite (Through The Night, EUA, 2020), de Loira Limbal; Cavalo (Brasil, 2020), de Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti; a ficção Ar condicionado (Angola, 2020), de Fradique; e o documentário Dorivando saravá, o preto que virou mar (Brasil, 2019), de Henrique Dantas.
Mapeamento
Durante a abertura, o Nicho 54 lança o Mapeamento de Profissionais Negros, uma convocatória aberta para todo o Brasil com o intuito de reunir informações quantitativas e qualitativas sobre a participação negra no mercado audiovisual.
As informações serão utilizadas como base para a formulação de políticas e programas do instituto Nicho 54, bem como em ações de sensibilização com agentes de mercado para a criação de oportunidades para profissionais negros. Os participantes terão disponíveis um portfólio online com informações sobre formação, experiência, área de atuação, área de interesse, entre outros dados profissionais para apresentar a possíveis contratantes.
O evento é apoiado pelo Instituto Ibirapitanga, que oferece suporte econômico e institucional a organizações que contribuem para o fortalecimento da equidade racial no país.
Todas as atividades do Nicho Novembro são gratuitas e abertas ao público. Mais informações no site ou nas redes sociais do Nicho 54 (Facebook | Instagram | Linkedin).