Projeto #EstamxsVivxs é produzido e co-criado pelo Instagrafite, hub de arte com atuação mundial na ressignificação das cidades através de artes reflexivas
Texto: Redação | Edição: Nataly Simões | Imagem: Arte de Ziza/@instagrafite
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Pulsante e carregado de histórias, o Minhocão, na cidade de São Paulo, recebeu duas novas intervenções artísticas feitas por artistas da nova geração, que utilizam a arte para fortalecer a presença dos corpos negros na sociedade. O projeto foi produzido e co-criado pelo Instagrafite, hub com mais de 50 laterais de prédios pintadas no Brasil e no mundo ao longo de nove anos de experiência.
“O Instagrafite busca sempre trazer inovação para a arte pública com camadas que acompanham os contextos contemporâneos, seja através da tecnologia, das temáticas de hoje, do futuro ancestral ou através da curadoria. Fazer parte deste projeto está completamente sintonizado com nosso momento e propósito como empresa”, divide Marina Bortoluzzi, da hub.
Com caminhada consolidada como artista de rua, Ziza recebeu seu devido reconhecimento no mercado este ano, com diversas pinturas realizadas pelo Brasil, participações em lives e com sua profissionalização também pelo WOW (Women on Walls), um programa de capacitação gratuito para mulheres da arte urbana idealizado por Marina Bortoluzzi, a mente feminina da dupla Instagrafite.
A artista ganha agora seu espaço no centro da cidade de São Paulo através do projeto que idealizou #EstamxsVivxs com a produtora cultural Valéria Motta. Nesta edição, a iniciativa pretende convidar artistas negros e negras para narrar através da arte de empenas, como uma forma de combate ao racismo estrutural que gera desigualdades.
“A Ziza disse que tinha o sonho de pintar uma empena em São Paulo, então sonhamos mais alto e convidamos mais um artista para pintar outra empena de forma simultânea e fazer disso algo. Nesse momento chamamos o Instagrafite para produzir o projeto com a gente”, conta Valéria.
Fazendo do sonho realidade, para sua primeira empena em São Paulo, Ziza mergulha na ancestralidade de forma sensível e profunda. A arte traz uma mulher negra enraizada na terra e em suas mãos, um colar de contas azuis, que representa um colar que foi encontrado em escavação arqueológica nas imediações do Cemitério dos Aflitos, localizado na Liberdade.
O Cemitério dos Aflitos foi o primeiro cemitério público de São Paulo destinado às populações negras marginalizadas. “Essa mulher/árvore representa cada uma de nós que estamos na luta antirracista, a nossa base é a terra, a terra é a nossa ancestralidade nela se tornamos resistente para continuar, o disparador dessas empenas foi as contas encontradas na região da Liberdade”, conta Ziza. As cores da arte fazem alusão ao colar, que possuem contas azuis de vidro, o que indica o pertencimento à religião de matriz africana.
Foto: Arte de Consp/@instagrafite
O segundo nome desta edição do #EstamxsVivxs é o artista e ilustrador paulistano Thiago Consp. Grafiteiro desde 1999, ele aplica em seus murais técnicas da pintura em tela e se aprofunda na cultura africana. Em sua nova empena no Edifício Casa do Estudante, no Minhocão, apresenta uma das artes da série “Estudos Sobre o Silêncio”, que retrata a experiência da vivência negra nascida na periferia de São Paulo e reflete sobre a criação de uma atmosfera hostil que adoece, despotencializa e produz a morte de homens negros.
Com a arte, Consp busca ressignificar as marcas do silenciamento negro nas relações cotidianas nos espaços de poder da cidade, gerando um debate sobre a figura do homem negro para além do lugar da violência. “A pintura reflete o protagonismo negro influenciado pela cultura Afropunk, atuando no reforço de sua própria narrativa”, detalha o grafiteiro.