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Acampamento faz campanha para reconstruir escola e casas após ação da PM

19 de agosto de 2020

Policiais militares incendiaram assentamento onde vivem 450 famílias há mais de 20 anos em Minas Gerais; devido à desapropriação, moradores temem contaminação pelo novo coronavírus

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Foto: MST

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Cerca de 450 famílias do acampamento Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas Gerais, estão na região há mais de 20 anos e produzem café, além dos alimentos para a própria sobrevivência. No dia 14 de agosto, agricultores do território foram atacados pela Polícia Militar em uma ação de reintegração de posse.

A escola popular Eduardo Galeano, casas de moradores e parte da lavoura de café foram incendiadas pelos PMs. Após a ação, que contou com mais de 200 policiais, 14 famílias ficaram desabrigadas e temem terem sido contaminadas pela Covid-19, o novo coronavírus, devido à exposição.

O nome do acampamento, que fica na região da cidade Campo Grande do Meio, é uma homenagem a história de resistência quilombola no triângulo mineiro e no Norte do estado de São Paulo. A disputa por terra na região está ligada ao controle da produção do café, o principal produto da região. A cooperativa de agricultores do MST (Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra) lidera o processo de produção de café orgânico e também é responsável pela marca Guaí.

De acordo com os agricultores, a área despejada ultrapassa o previsto inicialmente no processo de reintegração que antes era 26 hectares e passou para 52 hectares numa manobra dos estelionatários, antigos donos, com um juiz de primeira instância que deu a ordem mudou de cargo.

“Tentamos fazer um acordo com o oficial de Justiça para mostrar, com documentos, que não havia ampliação na área de reintegração de posse, mesmo assim jogaram bombas e destruíram tudo. A nossa resistência durou três dias”, conta a agricultora Débora Mendes. A operação começou às 6h do dia 12 de agosto e durou até 14 de outubro, por volta das 14h, quando começaram as explosões das bombas. “Foi muito assustador porque deram tiros de borrachas e muitas crianças estavam próximas”, lembra a agricultora, que vive no Quilombo Campo Grande e integra a direção estadual do MST.

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Moradores em protesto contra desapropriação em meio à pandemia. (Foto: MST)

No acampamento do MST, aproximadamente 130 famílias são de origem do próprio município e descendentes dos povos escravizados que lutaram contra exploração no Brasil. “A parte positiva é que descobrimos que não estamos sozinhos e recebemos apoio. Conseguimos mostrar para a classe trabalhadora que o Quilombo Campo Grande não pertence ao agronegócio. Há 22 anos ele pertence a 450 famílias”, comenta Débora.

Na terça-feira, (18), a organização do acampamento entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para que seja feita uma testagem em massa dos agricultores por conta do risco de contágio da Covid-19 em razão da ação da Polícia Militar.

Os moradores do acampamento também criaram uma campanha para a reconstrução da escola e das casas. As doações podem ser feitas via depósito bancário para a associação ASFAPSUL. Os dados são: Banco do Brasil, agência 1721-3, conta 26500-5 e CNPJ 02.046.165/0001-20.

O Alma Preta procurou a assessoria de Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e questionou sobre a autorização da ação de reintegração de posse feita Polícia Militar mesmo diante da pandemia. Até a publicação deste texto, a equipe do governador não se posicionou.

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