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Após um mês, família ainda tenta provar que tatuador morto pela polícia não estava armado

Trabalhador foi morto por policiais civis na Favela Felicidade, Zona Sul de São Paulo;  Estado não revela detalhes sobre a operação e versão sobre arma de brinquedo é contestada em fotos feitas por moradores

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Periferia em Movimento

grafite na favela felicidade lembra a morte do tatuador Gibinha, em maio, a frase escrita é "Gibinha Presente"

grafite na favela felicidade lembra a morte do tatuador Gibinha, em maio, a frase escrita é "Gibinha Presente"

15 de junho de 2021

As circunstâncias da morte do tatuador negro Gilberto de Lima, conhecido como Gibinha, não foram esclarecidas mesmo após um mês. O trabalhador de 30 anos foi morto no dia 14 de maio, na Favela Felicidade, Jardim São Luiz, Zona Sul, alvejado por seis tiros disparados pelos policiais civis do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), Cesar Augusto de Oliveira, Emiliano Aparecido Bechelani, José Ney Lopes e Ubirajara Oliveira.

“Até agora a gente, da família, não ouviu nada da polícia. Os assassinos do meu irmão eram de outra cidade [São Bernardo do Campo]. Eles disseram que tinham um mandato para alguém, que não se sabe quem, e contaram que encontraram o meu irmão em um beco e ele ofereceu risco para a equipe, por isso deram seis tiros”, conta Jefferson Lima, irmão de Gibinha.

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Segundo parentes, o tatuador foi assassinado enquanto estava a caminho do trabalho, acompanhado de um amigo, por volta do meio dia.  Gibinha tinha um filho de três anos e sonhava em abrir o próprio estúdio de tatuagens na barbearia do irmão, no mesmo bairro onde eles cresceram e era goleiro em um time de futebol de várzea.

No último mês o esforço da família foi concentrado em exigir Justiça e reunir provas e testemunhas que contestam a versão dos quatro policiais civis. “Eles alegaram que o meu irmão estava com uma arma de brinquedo. Meu irmão não tinha passagem, não tinha envolvimento com tráfico ou com furtos. A gente corre atrás há um mês na busca de uma explicação sobre o que aconteceu”, explica Jefferson.

Policiais modificaram a cena do crime

Conforme revelado em reportagem da Alma Preta Jornalismo, fotos feitas por moradores antes da perícia da polícia mostram que não havia nenhuma arma na cena do crime, porém quando a perícia da polícia chegou, no mesmo local apareceram pedaços de objetos de plástico, que supostamente seriam partes da arma de brinquedo.

“Pelas fotos que circulam a gente vê o antes e o depois da chegada de perícia. O meu irmão estava deitado perto de um murinho. Depois que a perícia chegou, no mesmo lugar aparece essa arma de brinquedo toda estraçalhada. Os policiais dizem que ele estava com a arma, deram um tiro e a arma quebrou, mas as imagens mostram que antes não tinha nada e a arma aparece depois”, detalha o irmão da vítima.

Gibinha morreu em uma viela da Favela Felicidade, próxima a uma padaria, onde circulam dezenas de pessoas constantemente. Além de tatuador, ele era ilustrador e pintor. Pertenciam a ele vários painéis de anúncios de serviços e produtos comercializados na comunidade.

Por ser conhecido e admirado pelos moradores, o assassinato de Gibinha causou revolta e indignação desde o dia do crime. Naquele 14 de maio, os moradores bloquearam a avenida Guido Caloi, uma das principais vias de acesso da região, e colocaram fogo em pneus.

A assesoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou nesta quarta-feira (16), em nota, que o caso segue sob investigação. “As apurações prosseguem visando à elucidação dos fatos”, diz a nota.

No dia do crime, os policiais do Deic responsáveis pela morte de Gibinha registraram a ocorrência no 92º DP, no parque Santo Antônio, também na Zona Sul de São Paulo. Na época, a SSP informou em nota que o caso seria investigado por agentes do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

 

*A reportagem foi atualizada em 16/06, às 10h50, para incluir a resposta da SSP-SP.

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