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Atendimento psicossocial a jovens negros diminui 24% na pandemia

30 de outubro de 2020

Unidades do CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) ficaram abertas desde o início da crise sanitária, mas com as atividades reduzidas; levantamento do Ministério da Saúde, obtido pelo Alma Preta, mostra redução em todas as regiões do país

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Carol Morena

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Os efeitos da pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, tiveram impacto na saúde mental dos jovens negros, segundo levantamento do Ministério da Saúde, a partir de uma solicitação do Alma Preta, baseado em dados dos atendimentos nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) em 2019 e 2020.

De acordo com o balanço, entre janeiro e agosto de 2019, foram realizados 93.466 atendimentos de jovens negros com idade entre 18 e 29 anos. No mesmo período de 2020, foram 70.890 atendimentos de pacientes com o mesmo perfil nas 2.657 unidades de CAPS em todas as regiões. Uma queda de 24,1%.

Em todas as regiões do país, de acordo com dados do governo federal, houve registro de redução acima de 18% no número de atendimentos a jovens negros. No Norte (41,6%), no Nordeste (28,9%), no Sudeste ( 22,2%), no Sul (18,5%) e no Centro-Oeste ( 26,6%).

Desde o início da pandemia no país, em março, os CAPS permaneceram abertos, mas sem a realização de terapias coletivas por conta dos protocolos de segurança.

De acordo com o coordenador de Garantia da Equidade do Ministério da Saúde, Marcus Vinícius Barbosa Peixinho, a adoção de uma política nacional de saúde integral da população negra tem como prioridade ampliar o acesso aos equipamentos de saúde, inclusive na área psicossocial.

“Em virtude das discriminações raciais, ao longo da história do Brasil, a população negra apresenta maior vulnerabilidade social e econômica, o que reflete em uma menor expectativa de vida e maior suscetibilidade a agravos”, explica.

Em 2020, foram abertas mais 24 unidades de CAPS e protocolos sanitários contra o vírus foram adotados em toda a rede, porém, o Ministério da Saúde informa que as atividades coletivas, como rodas de conversas e atendimentos em grupo, que ajudam na integração do paciente com a sociedade, foram adaptados ou cancelados.

A psicóloga Òmìnira Okun destaca que os jovens negros são os que mais cometem suicídio no Brasil e ao mesmo tempo integram o grupo com maior evasão dos Centros de Atenção Psicossocial. “A população negra é a ponta de lança nas crises, e dessa vez não foi diferente. São muitos os fatores possíveis que impediram esses usuários de acessar o CAPS, como condições de moradia, renda, emprego, transporte e agravo no quadro de saúde mental, junto com o racismo estrutural e o descaso como o governo se comportou durante a pandemia”, considera.

Evasão

Para a faixa de idade entre 18 e 29 anos, o total de atendimentos nos CAPS caiu em cerca de 400 mil, na comparação entre 2019 e 2020. Apenas na região Sul, o percentual de evasão de atendimentos nos CAPS foi maior do que a evasão considerando apenas a população negra.

A queda no número de atendimentos para pacientes com idade entre 18 e 29 anos, sem recorte de raça/cor, foi de 34,3% na região Norte, 26,9% no Nordeste, 20,5% no Sudeste, 19,3% no Centro-Oeste e 23,3% no Sul.

O médico Yuri Alencar salienta que muitos fatores influenciam na adesão dos pacientes em geral aos tratamentos propostos, o que inclui as consultas de retorno em caso de doenças psiquiátricas, por exemplo.

“Destaco dois: primeiro uma relação médico-paciente construída com base na empatia, o que vai se expressar no trato entre paciente e profissional de saúde. Segundo, como derivação da primeira, uma terapia prescrita que possa ser realizada considerando as condições biológicas, psicológicas e sociais do paciente. Sem isto, não há adesão possível”, analisa.

Alencar é vice-presidente do Instituto Luiza Mahin, organização que desenvolve projetos sobre a temática da negritude na saúde. Ele destaca os motivos que podem estar por trás da queda maior no atendimento de pacientes negros e como o racismo representa uma barreira no acesso à saúde.

“É sabido que o acesso aos serviços de saúde e o atendimento ofertado são desiguais entre brancos e negros. Para corrigir estas iniquidades foi estruturada a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que tem como eixo o combate ao racismo nos serviços de saúde, mas com destaque para a conduta dos profissionais, que muitas vezes é permeada por racismo”.

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