Os ativistas Marcelo Morais e Ezio Rosa utilizam a comunicação e a educação para democratizar o acesso a informações sobre a doença
Texto: Victor Lacerda | Edição: Nataly Simões | Imagem: Acervo Pessoal
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O dia 1º de dezembro é dentro do cronograma de ações da saúde internacional o Dia Mundial de Combate à AIDS. Mesmo com atividades de campanhas de informação na data, as ações ainda não atingem o recorte acerca da conscientização e dos tabus que envolvem a infecção pelo vírus HIV, principalmente para a população negra. Na contramão deste cenário, ativistas negros buscam, na coletividade e troca de vivências, cobrar políticas públicas e construir alternativas para sobrevivência deste grupo populacional.
Marcelo Morais e Ezio Rosa fundaram, em 2014, o movimento “BixaNagô”, plataforma comunicacional e festival de arte e educação com o intuito de promover a diversidade e a potência da comunidade negra em vários âmbitos, incluindo as preocupações com a saúde das populações LGBTQIA+, periférica e negra.
Originado como uma página de comunicação, o projeto promove o debate de assuntos relacionados aos conceitos de gênero dentro das periferias e a relação de jovens negras e negros de comunidade e LGBTQIA+ com o HIV/AIDS e a desconstrução de estigmas.
Marcelo, de 27 anos, é também integrante da Rede Nacional de Religiões Afrobrasileiras e Saúde (RENAFRO). Ele pauta há 10 anos no país, junto ao movimento de HIV/AIDS, as problemáticas que envolvem a forma que os meios de informação sobre prevenção, vivência e tratamento tratam o contexto de infecção do vírus HIV e ressalta a importância do recorte socioeconômico nos diálogos sobre a doença.
“Em anos de atuação, é de grande importância tratarmos o vírus HIV como uma epidemia social. Não tem como pensarmos em melhorias e alcance das ações se não constatarmos quais são os perfis das pessoas que têm maior dificuldade ao acesso de informação, os seus recortes sociais e como as informações sobre convivência com o vírus podem ser traduzidas a fim de existir um bom entendimento. Acredito que meu papel no ativismo é de ser este tradutor”, afirma o ativista.
Morais ressalta outros fatores que impulsionam a precarização da informação relacionados ao racismo, a falta de cuidados com doenças crônicas como a AIDS e como isso contribui para que o número de mortes de pessoas negras pela doença seja significativo no país.
“Quando racializamos a discussão dentro do diálogo sobre ser soropositivo, ainda temos que levar em conta que a população negra e de periferia convive com adversidades ligadas à falta de recursos e acessos que só dificultam o processo de conscientização e tratamento. Para lidar com a doença de forma efetiva, temos que levar em consideração que é um processo que necessita de um conjunto de acessos, por exemplo, a prática de atividades físicas, alimentação saudável, acesso a medicamentos e um acompanhamento médico. Tudo isso não é de fácil acesso nas periferias”, reflete.
Convivendo com o vírus HIV
Segundo dados da UNAIDS (Organização conjunta das Nações Unidas criada em 1996 com o objetivo de criar soluções e ajudar países no combate à AIDS), 38 milhões de pessoas no mundo conviviam com o vírus até o fim de 2019.
Ezio, de 26 anos, morador da zona leste de São Paulo, descobriu ser soropositivo há três anos e, em processo de entendimento sobre sua condição, conseguiu agregar em projetos de conscientização através da informação. Ele e Marcelo Morais escrevem sobre o assunto nas redes sociais, o que estabeleceu diálogo com o público mais jovem sobre HIV/AIDS e ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis).
“Atuando como arte educador por anos em periferias de São Paulo, acredito muito no poder da educação como meio de transformação social. Produzo e dialogo com o intuito de democratizar a informação sobre HIV/AIDS através da educação, seja ela formal ou não. Ao meu ver, é lugar certo para que possamos instruir de forma séria os adolescentes”, pontua.
Questionado sobre os caminhos que devem ser percorridos para a diminuição de casos entre jovens negros, Rosa avalia que são necessárias propostas pedagógicas não formais e que conversem com os mais jovens.
“Eu acredito muito que conseguiremos promover esse conhecimento sobre HIV/AIDS de formas alternativas que alcancem um maior número de jovens de periferia, através da educação e da arte. Nossa maior preocupação é alinhar a linguagem de quem nos acompanha para que não se afastem da busca por conhecimento sobre tudo que envolve a convivência com o vírus”, conclui.