PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Atlas da violência: Negros são 75,7% das vítimas de assassinatos no Brasil

27 de agosto de 2020

Levantamento mostra que dos quase 58 mil homicídios registrados em 2018, 43,8 mil eram de vítimas negras; negros têm 2,7 chances a mais de morrer em decorrência de crimes contra a vida

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

O Atlas da Violência 2020, que analisa as mortes por causas violentas no Brasil, aponta que 43.890 pessoas negras foram vítimas de homicídio em 2018, o que corresponde à 75,7% do total de 57.956 assassinatos registrados no ano.

A taxa de homicídios para os negros no Brasil é de 37,8 mortes para cada grupo de 100 mil. Entre os não negros, a taxa de homicídios é de 13,9 por 100 mil. No geral, entre negros e não negros, a taxa é de 27,8.

De acordo com o documento divulgado nesta quinta-feira (27) e elaborado por pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a chance de uma pessoa negra ser vítima de homicídio no Brasil é 2,7 vezes maior que a de uma pessoa não negra. Em 2008, essa comparação era de 2,1 vezes.

Nos últimos cinco anos, 222.325 pessoas negras foram assassinadas no Brasil. Em dez anos, de 2008 a 2018, houve uma alta de 34,2% no total de homicídios de negros.

Em quase todos os estados, exceto o Paraná, a taxa de homicídios de negros é maior do que a de não negros. O estado que apresentou a maior diferença foi Alagoas, onde a taxa de homicídios de negros é 17,2 vezes maior que a de não negros.

Ao considerar a década encerrada em 2018, a morte violenta de negros teve alta significativa nas regiões Norte e Nordeste, de acordo com o aumento na taxa de homicídios: Acre (300,5%), Roraima (264,1%), Ceará (187,5%) e Rio Grande do Norte (175,2%). As menores altas no índice de mortalidade negra, em dez anos, foram no Distrito Federal (54,7%), São Paulo (47,3%) e Espírito Santo (39,2%).

Jovens morrem mais

A nova edição do Atlas da Violência também mostra que os jovens com idade entre 15 e 29 anos representam mais da metade das vítimas de homicídios no país. Mais de 53% dos assassinatos ocorridos em 2018 são de pessoas nessa faixa etária. A taxa de homicídios do perfil jovem no Brasil é de 60,4 para cada 100 mil, cerca de 2,17 vezes maior do que o índice geral de todas as idades, de 27,8 por 100 mil.

Entre 2008 e 2018, a taxa de homicídios no país subiu de 26,7 para os atuais 27,8, um crescimento de 4%. Na comparação com os últimos anos, o índice tem caído. Em 2013, a taxa era de 28,6 e em 2017 estava em 31,6 por 100 mil habitantes. Nos últimos cinco anos, a queda foi de 2,6%, e de 2017 para 2018, houve redução de -12%.

Sem Estado do Desarmamento, número de homicídios seria maior

A apresentação feita pelos pesquisadores que participaram da elaboração do Atlas faz uma ponderação sobre os fatores que podem ter influência na queda da taxa de homicídios. O primeiro é a mudança no perfil demográfico do Brasil com a redução do número e jovens, puxado pela queda na natalidade em décadas anteriores.

Outro ponto que pesa na taxa de homicídios é o controle do porte de armas de fogo, fruto do Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003. Sem essa legislação, o total de homicídios poderia ser entre 13% e 15% maior.

A introdução de políticas estaduais de segurança pública para controle e prevenção da criminalidade também impactou nos dados levantados pelo Atlas da Violência 2020. Por outro lado, os pesquisadores também apontaram que a trégua na guerra entre as facções criminosas que disputam o tráfico de drogas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, entre 2016 e 2017, teve impacto nos dados de 2018.

O balanço também faz uma ressalva sobre a falta de dados precisos no registro dos homicídios, que deixou muitas mortes violentas fora das estatísticas. Em 2018, foram contabilizados 12.310 casos de morte violenta por causa não identificada.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano