Para muitos, a corrida é o esporte mais democrático, pois basta calçar os tênis e correr, ao ar livre, na academia ou onde quer que seja — uma expressão de liberdade. Mas essa realidade não se aplica a toda a população e casos recentes de racismo se acumulam nos esportes, não só na corrida.
Entre corredores de rua negros, há um sentimento comum de insegurança, o que não está restrito apenas ao esporte. Segundo a pesquisa Brand Inclusion Index 2024, 61% dos pretos e pardos sofreram discriminação no último ano.
Reconhecida pela atuação no jornalismo nacional, contando histórias com um olhar e recorte étnico-racial, a Alma Preta decidiu agir e chamar a atenção da sociedade para combater a indiferença com que o racismo no esporte é tratado.
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Em Niterói (RJ), a convite da Alma Preta, o atleta negro Weslley Caitano participou da 7ª edição da Corrida do Túnel (Charitas-Cafubá), neste domingo (30), vestindo um colete à prova de balas* como forma de protesto contra o racismo no esporte.
Caitano, de 29 anos, é atleta profissional de atletismo e tem currículo extenso no esporte. Capixaba, o atleta com dez anos de carreira foi criado na comunidade do Fallet, na capital carioca, mas hoje vive em outra cidade, onde busca desenvolver uma rotina de treinos com mais tranquilidade — inclusive em relação a situações de discriminação.
“Hoje, ao aceitar participar desse projeto, me sinto como alguém que, apesar de ter fugido e se escondido dessas situações de ser vítima de racismo e preconceito, sei que isso não resolve o problema, só o contorna. Por isso, hoje participo desse projeto em que tento, da minha maneira, e com meu depoimento e história de vida, colaborar, pelo menos um pouco, para mudar tudo isso de ruim que acontece em nossa sociedade”, comenta o corredor.
O colete foi usado na corrida deste domingo (30) como um recurso visual impactante para mostrar a vulnerabilidade que as pessoas negras sentem e chamar a atenção para o racismo enfrentado no cotidiano.
O projeto batizado de “Corredor em Perigo” busca mobilizar a sociedade para se engajar nessa causa e buscar medidas efetivas que permitam a qualquer pessoa negra praticar esportes sem se preocupar com o preconceito e ameaças à sua segurança.
“É urgente pensarmos em ações de comunicação impactantes, que causem um incômodo nas pessoas e façam uma transformação transversal na luta antirracista. A Alma Preta tem a coragem dessa luta como propósito e vemos no esporte um meio valioso para expandir a nossa mensagem”, comenta Elaine Silva, sócia-diretora da Alma Preta.
Silva revela que a iniciativa não para por aqui e deve contemplar uma série de ações e narrativas perenes ao longo do ano, visando desenvolver a luta antirracista com criatividade, por meio da tecnologia e da comunicação.
*A Alma Preta e os responsáveis pela realização dessa ação declaram que o colete usado se trata de uma peça meramente cenográfica, utilizada como recurso visual para causar estranheza e chamar a atenção. O item não contempla proteção balística e, por isso, não se enquadra em objetos de uso restrito.