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‘Aulão inaugural’ da Uneafro reúne 1.200 estudantes na USP: ‘Somos grandiosos’

Tradicional "Aulão inaugural" contou com a participação de nomes importantes do movimento negro
Cerca de 1.200 estudantes da Uneafro se reuniram para participar do tradicional "Aulão inaugural" na Universidade de São Paulo (USP).

Foto: Guilherme Franco / Alma Preta Jornalismo

15 de abril de 2024

Com o intuito de celebrar 15 anos de resistência, a Uneafro Brasil reuniu 1.200 estudantes de 36 núcleos paulistas, no sábado (13), para participar do tradicional “Aulão inaugural” na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).

O evento contou com a participação de nomes importantes do movimento negro. Entre eles, a professora Tais Santos e a vereadora Elaine Martins, que juntas, ministraram uma aula sobre racismo ambiental e justiça climática, e os coordenadores do Movimento Negro Unificado (MNU), Milton Barbosa e Regina Lúcia dos Santos.

“Eu tinha um professor muito legal quando cursava Geografia aqui. Um dia, andando comigo, botou a mão nas minhas costas e disse ‘é, aqui não é o lugar para você’. E ele era um cara legal, de esquerda, mas para ele foi muito natural dizer aquilo. E eu era uma baita aluna, minha média naquela matéria foi 10. Mas, ainda assim, ele disse que aquele não era um lugar para mim”, lamentou Regina.

De acordo com a ativista, a universidade é um espaço criado para excluir pessoas negras. 

“Ela foi pensada para responder à necessidade de formação de quadros da elite, não era para nós estarmos aqui. A existência dos cursinhos populares é tão importante porque esse espaço oprime a população negra, pobre e periférica. Então, você ter o suporte da Uneafro, ter uma discussão que fortalece, que mostra que a gente tem o direito de estar aqui, é essencial.”

Além do trabalho realizado pela Uneafro, Elaine Martins destaca a importância das políticas públicas para reverter este cenário e garantir os direitos das pessoas que vivem nas periferias, sobretudo para a população negra.

“Quando a gente fala de educação, por exemplo, temos de garantir que a Lei 10.639, que ensina história e cultura afro brasileira, seja aplicada nas escolas em São Paulo. Isso é fundamental para que as pessoas pretas saibam que a sua história não é só uma história de tristeza e escravidão, mas que a sua potência esteja garantida para que ela seja quem ela queira na sociedade”, ressalta.

Felipe Andrade de Sena, estudante do Núcleo Dona Nazinha, localizado na zona leste de São Paulo, aponta a importância do encontro para ampliar o horizonte dos alunos da organização estudantil e “mostrar que a periferia é capaz”. 

“Hoje disseram que ‘somos filhos de reis e rainhas’, então a grandeza já está no nosso sangue. As raízes que percorrem cada lugar dessa universidade são de ouro, então quando falam que somos da realeza, temos que lotar esse lugar, temos que viver isso, porque também somos grandiosos”, diz.

“Daqui a alguns anos, nós não vamos estar só sentados, vamos estar como alunos assumindo essas ladeiras como reis e rainhas. Porque sabemos que a quebrada tem um arquiteto, tem um artista, que mais tarde vão virar doutores, como Mano Brown, Lélia Gonzales e muitos outros, então a gente sabe do nosso potencial”, compartilha.

Coordenadores responsáveis pelos 36 núcleos educacionais existentes na Uneafro.

Prêmio Marielle Franco da Uneafro

Durante o evento da Uneafro, também aconteceu a 4º edição do Prêmio Marielle Franco. A premiação foi idealizada para reconhecer os trabalhos internos de parcerias fundamentais na construção de uma sociedade justa, democrática, antirracista.

Ao lado de Júlio Cesar Alves, coordenador do núcleo “Pagode da Disciplina”, a pesquisadora e coordenadora do Núcleo Yabás Maira Mantovani apresentou a cerimônia. 

“A Marielle é uma figura marcante para todas nós, mulheres negras, que temos ela como uma inspiração. Hoje a gente traz o nome dela como uma forma de salvaguardar esse legado, essa resistência”, explicou.

“A morte dela tornou o movimento maior, mais pessoas entenderam como o racismo nos mata, nos silencia. O tiro deles saiu pela culatra, ela não foi uma mulher silenciada, hoje ela fala bem alto e fala por muitas mulheres negras que ocupam a política na atualidade. Isso nos move para que a gente ocupe mais espaços como ela ocupou”, disse a pesquisadora.

Em edições passadas, a organização já recebeu a família de Marielle Franco e homenageou ativistas e lideranças fundamentais para a história do movimento negro e do Brasil, como Regina Lúcia e Milton Barbosa, do MNU, Sueli Carneiro, Maria José Menezes, entre outros. 

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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