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Caso Lorenna Muniz gera revolta e família exige justiça

Confirmação da morte da pernambucana Lorenna Muniz, vítima de descaso médico, abre caminho para discussão sobre a precarização de clínicas de estética que funcionam sem estrutura adequada 

Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira | Imagem: Reprodução/Instagram

Caso Lorena: após 3 meses do falecimento, responsáveis por negligência médica ainda não foram culpabilizados

22 de fevereiro de 2021

“A vida da Lorenna valeu 4 mil reais, minha gente”, lamentou Washington Barbosa, companheiro de Lorenna Muniz que teve a morte confirmada na manhã desta segunda-feira (22). O caso foi exposto por ele nas redes sociais na última sexta-feira (19), e recebeu o apoio de nomes como a deputada estadual Erica Malunguinho e da vereadora Erika Hilton . O descaso da equipe médica com a dançarina e cabeleireira pernambucana não é algo isolado. Na internet, avaliações feitas por outros clientes sobre a clínica confirmam a falta de preparo da equipe médica e a precariedade da estrutura do local, que fica na Liberdade, bairro da região central da cidade.

Após a confirmação do óbito, Washington Barbosa também usou suas redes pessoais para desabafar sua revolta.

 

Na última semana, Lorenna Muniz, de 25 anos, saiu de Recife para São Paulo para realizar o sonho de aplicar prótese mamária. O destino era a Clínica Saúde Aqui, onde ela realizou uma cirurgia para colocar próteses de silicone nos seios. A cirurgia aconteceu na quinta-feira (17), mesma data do incêndio que atingiu o prédio onde Lorenna estava sob observação. Ela foi deixada na mesa de cirurgia, sedada e inalou a fumaça do fogo que começou na parte elétrica do imóvel.

A inalação da fumaça por um período prolongado  causou danos cerebrais irreversíveis e Lorenna não resistiu. “O que aconteceu com a Lorenna faz parte da trágica realidade que as pessoas trans enfrentam dentro do conjunto de exclusões que nós passamos na vida”, desabafou Erica, que, além de visibilizar o caso, tem prestado solidariedade à família.

Saúde e segurança da população trans
Para a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a invisibilidade da pauta trans na saúde pública do país é um dos fatores que leva essa parcela da população a buscar procedimentos estéticos particulares em espaços que se aproveitam da vulnerabilidade desses pacientes. Em nota pública, a associação diz que “é urgente que a discussão sobre a garantia do acesso e cuidados com a saúde da população Trans faça parte do cotidiano de gestores, parlamentares, trabalhadores da saúde, e de toda a sociedade, a fim de que possamos construir estratégias de acolhimento das demandas, melhoria nos serviços e ampliação da rede de cuidados.”

Erica Malunguinho, primeira deputada trans eleita na capital paulista, pontua que a complexidade do tipo de cirurgia feita por Lorenna exige muito cuidado e competência da equipe médica: “Não se trata de um procedimento estético, mas de um procedimento de saúde, de modo que o nosso corpo se encontre dentro da identidade de gênero que nós nos identificamos.” A falta de políticas que tornem o procedimento acessível por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), a jovem foi atraída pelo preço baixo oferecido pela clínica. “É importante avançar em políticas, garantir que haja fiscalização dos órgãos competentes em relação a essas clínicas, que não tem registro para o funcionamento, instalações precárias e profissionais pouco capacitados”, afirma a deputada Erica Malunguinho, que também é pernambucana.

Em nota, a vereadora Erika Hilton afirmou que não vai medir esforços para pensar “uma estratégia jurídica e política” que leve à apuração dos fatos e responsabilização da clínica. “Não podemos permitir a espetacularização da morte de uma travesti por negligência médica”, completou Hilton.

A ativista trans Robeyoncé Lima, co-deputada estadual em Pernambuco pela mandata coletiva das Juntas, escreveu em sua conta no Twitter que estava em contato com parlamentares de SP e outras instituições para acompanhar e ajudar a família e a vítima.  Hoje, lamentou a morte da jovem.

Em nota enviada à Alma Preta, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que “Todas as circunstâncias da ocorrência são investigadas pelo 1º DP (Sé), por meio de inquérito policial. Testemunhas foram ouvidas e laudos periciais estão em andamento para determinar as causas do incêndio e determinar se houve negligência dos profissionais, que acabou culminando com a morte da mulher.”

Lorenna morava no Bairro do Fragoso, em Paulista, Região Metropolitana do Recife, onde vivia com o marido e a família, que a apoiaram na realização da cirurgia. A maquiadora era proprietária de um salão de beleza que servia de fonte de renda. Para realizar o procedimento, ela precisou vender alguns equipamentos. Ela também integrava a quadrilha junina Tradição e era descrita como uma pessoa alegre e sonhadora.

A Alma Preta também deseja  #JustiçaporLorenna

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