A Casa do Perdão, terreiro de Umbanda localizado em Campo Grande, no Rio de Janeiro, desenvolve um trabalho afro religioso nos presídios femininos. A sacerdotisa responsável pelo projeto, Mãe Flávia Pinto, é a única no Brasil que realiza esse trabalho, ativo há 16 anos, de acordo com dados do Departamento Penitenciário (Depen).
A ideia surgiu por meio de orientação espiritual de um dos guias de trabalho da mãe de santo. Voltado apenas para as mulheres, a assistência é voluntária e a zeladora não recebe nada por isso. Todo trabalho realizado pela Casa do Perdão é financiado pela venda de livros, doações voluntárias e mensalidades do terreiro.
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Com atendimentos às unidades prisionais Talavera Bruce e Instituto Penal Santo Expedito, ambos no Rio, o projeto passa os ensinamentos afro-ameríndios da religião e também oferece itens de higiene pessoal para as detentas.
Nas visitas, discute-se a educação social dessas mulheres, orientando-as acerca das dificuldades de reinserção na sociedade. Mãe Flávia acredita que esse trabalho é necessário dentro e fora dos presídios. “O objetivo é criar um serviço de acolhimento na Casa do Perdão para preparar a mulher para a vida pós-cárcere, com cursos de profissionalização”, explica.
Reinserção e responsabilidade social
Para auxiliar as ex-detentas no processo de reinserção à sociedade, a Casa do Perdão oferece cursos de corte e costura gratuitos em parceria com a ONG Criola e Josefina. Em razão da pandemia, os trabalhos realizados pelo terreiro passaram a contar com o apoio da Unicef e também com a iniciativa privada. Esse auxílio permitiu que fossem recolhidas cestas básicas, materiais de higiene pessoal e sabonetes, destinados a asilos, abrigos de mulheres e presídios.
“Estas mulheres têm necessidade de auxílio, pois é comum o abandono familiar nestes casos. A maioria delas são mulheres negras, que foram vítimas de algum tipo de violência desde a infância”, detalha a sacerdotisa de Umbanda.
Moradores das comunidades próximas ao terreiro também são beneficiados com as doações e podem participar das aulas de corte e costura. Além disso, a Casa do Perdão elaborou um projeto estudantil durante a pandemia, que visa diminuir a deficiência de aprendizagem que o fechamento das escolas públicas causou nos estudantes.
“Principalmente para crianças mais pobres, negras, indígenas e periféricas, o projeto é essencial para motivá-los a continuar estudando”, diz Mãe Flávia.
Atualmente, o projeto conta com 25 estudantes moradores das comunidades Mendanha e Carobinha, divididos em dois turnos, que recebem lanches diários e cestas básicas para as famílias.