O Ministério da Saúde encomendou um estudo sobre a possibilidade de uma terceira dose da vacina Coronavac/Butantan (segunda mais aplicada no Brasil, atrás apenas da AstraZeneca), devido ao crescimento das variantes relacionadas à Covid-19. Segundo dados da Agência Senado, pesquisadores chamaram a atenção para que haja um planejamento com definição de público-alvo para a revacinação, como os idosos e as pessoas com comorbidades.
Ao ressaltar que o Brasil chegou a marca de 200 milhões de vacinas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde até o último final de semana, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), Rosana Leite de Melo, esclareceu que a possibilidade de revacinação está sendo avaliada pela pasta.
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Ela destacou também, durante a sessão que aconteceu nesta segunda-feira (16), que todos os imunizantes contra a Covid-19 aprovados e aplicados no Brasil são eficazes e, em regra geral, previnem a infecção e a mortalidade pelo vírus. No entanto, a secretária salientou que é preciso sempre avaliar o avanço da doença, suas variantes e a realidade específica do país para remodelar a operacionalização do Plano Nacional de Imunização.
A doutora e coordenadora do curso de Biomedicina da Universidade Estácio de Sá, Alessandra Roggério, explica que é comum o estudo sobre a eficácia da vacina no decorrer do tempo. Ao usar o Chile como exemplo, país em que está sendo aplicada a terceira dose da Coronavac, a especialista aponta que o imunizante apresentou resultados positivos, mesmo com o aumento no número de casos.
“O Chile começou a observar uma diminuição na proteção da Sinovac [Coronavac]. Com o passar dos meses, o número de casos de Covid-19 começou a aumentar. Por outro lado, o aumento não foi acompanhado pelo número de mortes. Isso mostra a efetividade da vacina quanto às mortes e casos graves da doença”, aponta a doutora em biomedicina.
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Para a médica cardiologista Nicolle Queiroz, coordenadora e professora da residência em clínica médica da Unisa (Universidade Santo Amaro), é necessário ainda entender como se dará a terceira dose da vacina. O que não se pode esquecer, de acordo com especialista, é que nenhuma vacina é 100% eficaz, o que não significa que ela seja ineficiente. Segundo Nicolle, muitos fatores são determinantes neste caso, como doenças preexistentes, hipertensão, obesidade, doenças autoimunes, pessoas que estão em quimioterapia, etc.
“Além disso, é importante lembrar que o sistema imunológico do idoso é mais frágil. Os cientistas estão neste momento analisando a resposta do organismo após a imunização em duas doses para saber se a terceira será necessária. Ainda não temos o resultado porque nunca vimos esse vírus antes”, pondera Nicolle, que também é intensivista da UTI-Covid dos hospitais São Camilo e São Luiz, em São Paulo.
Variantes do coronavírus
As variantes da Covid-19 são o real problema, de acordo com a doutora e biomédica Alessandra Roggério. A especialista explica que essas mutações representam perigo porque as vacinas são elaboradas para combater o vírus original, o que pode ocasionar um não-reconhecimento das novas versões da doença e, consequentemente, tornar o imunizante menos eficiente. “Outra questão é que as variantes se tornam cada vez mais infecciosas, o que pode desenvolver causas graves da doença”, destaca.
O médico generalista Roberto Debski, atuante na linha de frente no combate à Covid-19, explica ainda que os vírus se replicam e produzem suas células dentro do corpo humano, o que pode ocasionar variações na replicação dessas células, como alterações ou mutações no código genético. Daí surgem as variantes, que já foram identificadas em diversas regiões do mundo.
“A Organização Mundial de Saúde [OMS] colocou a nomenclatura dessas variantes: a Alfa, identificada no Reino Unido; a Beta, na África do Sul; a Gama, que foi identificada no Brasil; a Delta, que é a mais recente e surgiu na Índia, causando preocupação. Os órgãos reguladores ficam atentos para identificar essas variantes para poder impedir a transmissão dessas mutações na população”, aponta o profissional de saúde.
Segundo a OMS, as variantes reagem aos imunizantes de maneiras diferentes e também apresentam comportamentos diversos. A Alfa (antiga B.1.1.7), descoberta em setembro de 2020, no Reino Unido, é transmitida de 30 a 50% a mais do que o vírus original, mas é combatida facilmente por todos os imunizantes aprovados.
Já a variante Beta, anteriormente chamada de B.1.351, é considerada menos transmissível do que a Alfa e apresenta similaridade em seu comportamento com a primeira variante da Covid-19 identificada. A Beta passou a ser investigada por conta de um aumento na mortalidade em pessoas já hospitalizadas. As vacinas Janssen e Pfizer são as mais eficazes contra essa mutação, o que fez a África do Sul suspender o uso da AstraZeneca no país. A variante Beta foi identificada no Brasil em abril deste ano.
A famosa P.1 – Gama – foi descoberta no final de 2020 em japoneses que voltavam do Amazonas. Altamente transmissível, de acordo com a OMS, ainda está presente no território brasileiro. A organização ainda salienta que a variante Gama é a mais letal das mutações e que causa maior risco de internação. A Coronavac apresentou alta capacidade proteção em regiões que a variante Gama estava disseminada, bem como a AstraZeneca e a Pfizer. Dados da OMS dizem que a variante Gama é responsável por nove em cada 10 casos de Covid-19 no Brasil.
A mais recente variante identificada é a Delta (B.1.617.2), detectada na Índia em outubro de 2020, considerada preocupante pela OMS. A organização estima que a variante seja de 40 a 60% mais transmissível que a Alfa. O risco maior de hospitalização ainda está sob análise. Os imunizantes Pfizer e AstraZeneca apresentaram boa resposta à Delta.
Importância da vacina independentemente do caso
“O objetivo da vacina é criar em nosso organismo um sistema imunológico que possa reconhecer as infecções, que essas vacinas querem proteger, e produzir nossos próprios anticorpos para combater essas doenças”, salienta Debski.
Em julho deste ano, o virologista e pesquisador da Fiocruz, Lindomar Pena, explicou em entrevista à Alma Preta a diferença entre os imunizantes contra a Covid-19. Segundo ele, duas das vacinas são baseadas no vírus inativado: a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, e a Covaxin, de origem indiana.
Além disso, Pena ressalta que uma das vacinas é produzida a partir do RNA viral, que é o caso da Pfizer; e três são elaboradas a partir de vetores de adenovírus, que são a AstraZeneca/Oxford, da Fiocruz, a Sputnik V, proveniente da Rússia, e a Janssen, da Johnson & Johnson. Todas elas são aprovadas pela Anvisa e possuem alta taxa de eficácia, de acordo com Pena.
“A vacina não impede você de ser infectado. A vacina serve para impedir que você desenvolva a doença de forma grave. Portanto é fundamental que se use a máscara e mantenha o distanciamento”, reforça a médica Nicolle Queiroz.
Já a doutora em biomedicina Alessandra Roggério alerta que o risco de morte pela Covid-19 ainda existe, tanto para idosos quanto para as pessoas mais jovens. E evitar que o vírus tenha livre circulação é o objetivo atual. “As vacinas infelizmente são menos eficazes com a presença das variantes. Quanto mais o vírus circula, maior é a chance de desenvolvimento de novas variantes. É de extrema importância continuar com as medidas restritivas”, finaliza.