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Para comprar smartphone, negros precisam trabalhar 3 meses a mais que brancos

Mercado de celulares de alto custo teve alta de 3% nas vendas; no contexto pandêmico, os aparelhos se tornaram  instrumentos fundamentais de trabalho e estudo

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Reprodução

mulher negra segura um smartphone na mão

mulher negra segura um smartphone na mão

9 de junho de 2021

A crise econômica, inflação e desemprego por conta da Covid-19 não abalaram o mercado de smartphones no Brasil, mesmo com o impacto cada vez maior do custo de um celular na despesa mensal, principalmente para a população negra. Para comprar um smartphone novo à vista, no valor de R$ 2,5 mil, por exemplo, um brasileiro negro teria que trabalhar 131 dias. Numa compra à prazo, dividida em 18 parcelas, seriam necessários 197 dias de trabalho, ou seja, toda a renda de seis meses e meio – levando em conta os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a desigualdade de renda entre negros e brancos no Brasil.

No caso de um trabalhador branco, o mesmo aparelho celular, de R$ 2,5 mil, pago à vista, representa 70 dias de trabalho. Na compra parcelada, o celular iria custar 105 dias de trabalho. Por dia, segundo o IBGE, a renda do trabalhador negro no Brasil é de R$ 19,06, em média. O trabalhador branco tem uma renda de R$ 35,86, por dia. 

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Considerando o valor da prestação do smartphone, R$ 209,38, o custo representa 11 dias de trabalho do negro e 6 dias de trabalho do branco, segundo o cruzamento de dados de juros do comércio da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) e os dados de renda por raça/cor da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) – Contínua do IBGE.

Entre novembro de 2020 e abril de 2021, a taxa média de juros dos financiamentos no comércio teve seis altas consecutivas, indo de 4,62% para 4,73% ao mês. O valor final de um celular de R$ 2,5 mil com essa taxa, em 18 vezes, é de R$ 3.768. O cliente acaba pagando um celular e meio. 

Na crise e com a alta da taxa de juros, a principal dica é poupar para conseguir comprar à vista. Em 12 meses, juntando um valor equivalente ao da prestação, considerando o celular do exemplo, já é possível comprar o smartphone à vista e economizar os R$ 1.268,84 dos juros.

Para evitar dívidas, a Anefac orienta que consumidor pesquise sobre a menor taxa de juros para o produto que quer comprar e pergunte também sobre as taxas e acréscimos que serão cobrados. Pela lei, as lojas são obrigadas a informar qual é a taxa de juros no parcelamento dos produtos, inlcluindo do smartphone.

“No contexto pandêmico, o celular se tornou um instrumento de trabalho. Apesar de muitas profissões ainda serem impedidas de fazer o teletrabalho, outras foram mais difundidas, como aquelas de entregas por aplicativos. Além disso, o acesso às políticas públicas se deu pelo celular. Para a população negra, o celular é uma possibilidade de estudo e de trabalho “, disse a economista Gabriela Chaves, criadora da plataforma No Front, de empoderamento econômico para pessoas pretas. 

Uma pesquisa feita pelo Cemif/FGV (Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getúlio Vargas), divulgada neste mês, mostra que 22% dos entrevistados, das classes D e E, tentaram mas não conseguiram pedir o auxílio-emergencial por falta de um aparelho celular; 28% disseram não ter conseguido usar o aplicativo da Caixa. 

Mercado aquecido

O mercado de vendas de celulares no Brasil apresentou uma alta de 3%, no primeiro trimestre de 2021, com um total de 11,8 milhões de aparelhos, na comparação com o mesmo período de 2020. O grosso das vendas foram os aparelhos smartphones com tela touch, 11,1 milhões contra 706 mil aparelhos mais simples, com teclado e visor pequeno, de acordo com o balanço da consultoria IDC Brasil.

Ao longo de todo o ano de 2020, com a crise da pandemia de Covid-19, foram vendidos 46,1 milhões de novos smartphones, a receita das empresas do setor foi de R$ 71,7 bilhões, uma alta de 16% em relação a 2019.

A previsão do IDC Brasil é que em 2021 o mercado de celulares novos apresente uma alta de 3%, frente ao resultado de 2020.

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