Segundo os funcionários, todos menores de 18 anos, além de ofensas racistas, a cor da pele e a aparência física eram determinantes na distribuição das funções e dos postos de trabalho; crimes foram denunciados ao Ministério Público do Trabalho
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Rafael Milan Torres
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Ofensas como “neguinho burro”, “cabelo ruim”, “feia, burra, cabelo duro”, “odeio você”, “babuina”, “coisa de nego”, “saci” e “macaca” foram relatadas por funcionários do Mcdonald’s em depoimentos sobre denúncias de racismo institucional. As vítimas, todas menores de 18 anos, também contam que a cor da pele e a aparência física eram determinantes na distribuição das funções e dos postos de trabalho. Os brancos ficavam nos caixas e quiosques, enquanto negros, gordos e LGBTs ficavam em postos afastados da visão do público.
As informações foram reveladas por um dossiê elaborado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Geral do Trabalhadores (UGT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Comércio e Serviços (Contracts). O documento mostra 16 casos de racismo institucional ocorridos em restaurantes do Mcdonald’s de quatro estados diferentes. Os dados sobre as vítimas e os locais de trabalho foram mantidos em sigilo para preservar os trabalhadores.
O dossiê, de 33 páginas, detalha que os casos de racismo na rede de fast food foram registrados nos últimos dois anos e recomenda que o Ministério Público do Trabalho crie uma força-tarefa para aprofundar as investigações em todo os restaurantes do Mcdonald’s no Brasil. O documento afirma que “o problema não é apenas estrutural, advinda de uma perversa ordenação social, mas também institucional, decorrente de provável negligência administrativa e fiscalizatória da empresa”.
A denúncia foi encaminhada à presidente da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades (COORDIGUALDADE), Adriane Reis de Araújo. A coordenadoria faz parte da Procuradoria Regional do Ministério Público do Trabalho de São Paulo.
A proibição de discriminação no ambiente de trabalho foi instituída na Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1958, em Genebra, na Suíça, e ratificada como lei no Brasil em 1969, dez anos antes da inauguração da primeira loja do Mcdonald’s no Brasil, em 1979.
Atualmente, a rede de fast food Mcdonald’s possui 36 mil lojas no mundo todo e é uma das marcas mais conhecidas do planeta. No Brasil, são cerca de 950 lojas, cuja franquia chega a custar R$ 2,6 milhões, além de empregar mais de 40 mil funcionários. Nove em cada dez trabalhadores da empresa no país têm menos de 25 anos de idade.
Após a divulgação do dossiê sobre racismo institucional, sindicalistas e funcionários fizeram um protesto contra o racismo em frente a uma loja da rede, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.
O que diz o McDonald’s?
O Alma Preta procurou a diretoria de comunicação do McDonald’s no Brasil para saber o posicionamento da empresa diante das denúncias de racismo. Em nota, a rede de fast food informou que “está prestando as informações necessárias ao Ministério Público do Trabalho para elucidar a questão”.
A empresa também afirmou que “reitera o seu total compromisso com a promoção de um ambiente de trabalho inclusivo e de respeito” e que “não tolera nenhuma prática de assédio ou discriminação”.
Segundo a nota, a rede promove periodicamente treinamentos baseados em seu Código de Conduta, para comunicar e conscientizar funcionários sobre seus valores corporativos em relação à diversidade e forma de ser.
“Mantém, ainda, um canal de ouvidoria para denúncias, aberto a todos os empregados, e trata com confidencialidade e rigor as questões que recebe. Internamente, realiza campanhas de comunicação sobre o tema, impulsionadas pelas ações de seu Comitê de Diversidade e Inclusão, criado há dois anos. Maior geradora de primeiro emprego no Brasil, a Arcos Dorados entende sua responsabilidade em continuar evoluindo, a partir de iniciativas que incentivem, valorizem e incluam mais as pessoas, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e profissional de todos os seus funcionários”, diz o comunicado, enviado à reportagem.