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Elite branca resume o perfil de quem fura a fila da vacinação

Políticos e empresários brasileiros são alvos de investigações por desrespeitar a fila da imunização contra a Covid-19; Casos têm sido denunciados e acompanhados pelo Ministérios Públicos estaduais e mostram que, nem mesmo diante de uma crise pandêmica, prioridade vem antes de privilégios  

Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira | Imagem: Divulgação/Governo de São Paulo

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27 de janeiro de 2021

Depois da aprovação, por unanimidade, do uso emergencial da vacina contra Covid-19 no Brasil, a distribuição das primeiras seis milhões de doses já tiveram suas rotas desviadas do destino final. 

O processo de vacinação da população segue o Programa Nacional de Imunização (PNI), que prioriza idosos acima de 60 anos, profissionais que estão na linha de frente da crise pandêmica e grupos considerados mais vulneráveis ao vírus. Com um número inferior às necessidades da população, a vacina virou “a menina dos olhos”  de empresários, políticos e servidores públicos, que ignoraram a prioridade porque se valem dos privilégios que o pode e o capital proporcionam.

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O primeiro caso com grande repercussão na mídia foi o das irmãs Gabrielle e Isabelle Kirk Lins, filhas de um empresário de Manaus. As duas foram nomeadas a cargos na gestão de projetos da cidade, não em cargos médicos, mas foram vacinadas mesmo assim. O mesmo aconteceu com David Dallas, filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas (Solidariedade).

IRMÃS LINS 01Imagem: Reprodução / Redes sociais

 

david foto 2Imagem: Reprodução / Redes sociais

Na Bahia, o prefeito de Candiba, Reginaldo Prado (PSD), também foi imunizado sem fazer parte de nenhum dos grupos indicados para a primeira fase da vacinação pelo PNI. O prefeito tem 60 anos e, segundo sua administração, tomou a vacina pela demonstrar a legitimidade e eficácia do produto.

PREFEITO DE CANDIBA BAImagem: Reprodução / Prefeitura de Candiba-BA

No sudeste do país, Minis Gerais também registrou desrespeito ao cronograma proposto pelo Ministério da Saúde. O prefeito de Montes Claros, Humberto Souto (Cidadania), participou da primeira fase de imunização sem se encaixar em nenhum grupo prioritário.

Também foram registrados casos envolvendo políticos e empresários em São Paulo, Rio Grande do Norte, Sergipe, Pará, Rio Grande do Sul e Pernanbuco. O governo federal ainda não divulgou um levantamento oficial, mas, segundo o Plano Nacional de imunização, a fiscalização sobre a distribuição e aplicação das vacinas em cada município é responsabilidade do estado.

Em todos os casos divulgados na imprensa nacionao é possível traçar um perfil que mostra a cor e cara de quem fura-fila: pessoas brancas, da elite ou envolvidas com a política do páis. As denúncias são investigas pelo Ministério Público estadual, que tem como principal função a defesa da ordem jurídica e dos interesses indisponíveis da sociedade.

O Conselho Nacional de Procuradores Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados disse em nota pública que “manifesta a sua veemente reprovação em face dos numerosos episódios de violação das ordens de prioridade para a aplicação das vacinas contra a COVID-19 estabelecidas pelas autoridades sanitárias, que têm sido noticiados pelos órgãos de comunicação durante os últimos dias.”

O Conselho diz ainda que prioriza os profissionais que estão na linha de frente na área da saúde desde o início da pandemia e que “os membros do Ministério Público estão fiscalizando de perto a elaboração e a execução dos planos de imunização em todo o país”. 

Promotores de Justiça e procuradores da República de diferentes regiões estão instaurando procedimentos para apurar denúncias de favorecimento a pessoas que teriam recebido a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus.

O cenário é mais um que comprova como as desigualdades sociais no Brasil beneficiam quem detém poder e capital. No país onde a democracia sofre golpes diários, o direito de brasileiros e brasileiras que estão no grupo prioritário para a vacinação são desrespeitados por quem ostenta privilégios.

 

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