Monique Evelle é empresária, jornalista e ativista, que deu início à sua jornada como empreendedora com a criação do ‘Desabafo Social’, laboratório de tecnologias sociais, aos 16 anos. Rapidamente, se tornou uma referência para o empreendedorismo entre pessoas negras. É também fundadora da plataforma Inventivos, voltada para formação de empreendedores que recebeu investimento do Black Founders Fund, do Google for Startups.
Em entrevista exclusiva à Alma Preta Jornalismo, Monique Evelle contou sobre a sua trajetória e a participação no podcast ‘Caminhos Intuitivos’, da Globoplay. Para a empresária, a experiência já transmite ao público, principalmente aos afroempreendedores, representatividade, humanização, bastidores e realidades de convidadas e convidados.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
“Eu sempre fui empreendedora, mas não sabia que o nome era esse. O motivo disso é simples: na época e, até hoje, quem domina a fala sobre empreendedorismo nas revistas, eventos e na comunicação são pessoas que não se parecem comigo. Tem mudado, claro, mas o ranço que eu tinha do ecossistema empreendedor era exatamente por não ver proporcionalidade racial e de gênero nos ambientes que frequentava”, conta Monique Evelle, que completa 27 anos neste 15 de setembro.
Para ela, a proposta de ser porta-voz de um podcast como ‘Caminhos Intuitivos’, que aposta no formato de roda de conversa, possibilita a troca entre profissionais inseridos na cena do empreendedorismo.
“É um espaço para aprender sobre gestão de carreira com Majur e Eliane Dias, é perceber que Fióti e Emicida são gente como a gente – e também começaram um negócio sem saber direito as burocracias envolvidas. Então, ter pessoas negras empreendedoras é o comum no podcast. Temos convidados e convidadas não-negras, mas que trazem narrativas múltiplas, não apenas o famoso vai lá e faz”, pontua a jornalista.
O podcast vai ao ar com novos episódios às quarta-feiras e está disponível nas principais plataformas de áudio.
Trajetória feminina, preta e nordestina
“Minha jornada fez sentido quando entendi meu papel enquanto mulher preta nordestina. A partir daí, todas minhas criações são majoritariamente direcionadas para horizontalizar as relações entre pessoas pretas”, relata Monique, que nasceu em Salvador (BA).
Segundo a empresária, isso vem desde a criação do ‘Desabafo Social’ que teve início durante sua atuação no grêmio estudantil e, a partir desse momento, percebeu que não era tímida, mas que, na verdade, sempre foi silenciada. Foi nesse momento também que passou a apostar em sua intelectualidade.
Em 2015, passou pela rede social Ubuntu – que, como o ‘Desabafo Social’, foi um demarcador de sua trajetória – juntamente com seu atual sócio Lucas Santana – com quem consolidou parceria de projetos empreendedores e de militância, que culminaram em uma relação amorosa.
Em 2016, criaram a ‘Kumasi’, uma espécie de marketplace, que na época foi um dos primeiros a se voltar para os afroempreendedores. Depois disso, surgiram muitas outras iniciativas e negócios.
Hoje se dedica à ‘Inventivos’, uma plataforma exclusiva de formação de empreendedores nos países de língua portuguesa: “Acredito na possibilidade de tornar uma nova mentalidade de empreendedores líderes que irão distribuir renda através da empregabilidade. Se os negócios dessas pessoas prosperarem, o território em que ela atua também”, reitera.
Passagem pela TV
Monique Evelle passou pelo Profissão Repórter, da TV Globo, em 2017, mas saiu quando percebeu que não daria conta de olhar para os seus negócios, com a grandeza e atenção que eles necessitavam. Segundo ela, esse período foi como uma virada de chave para o empreendedorismo, a partir de seu pensamento de querer transformar habilidades intelectuais em dinheiro.
“Pedi demissão e percebi que naquele momento era o que deveria ter feito, e os resultados consigo visualizar hoje. Além da ‘Inventivos’, tenho dedicado minhas expertises na área de consultoria em inovação para algumas empresas”, conta.
Quando questionada sobre o risco de suas escolhas, Monique responde: “A gente já vive no risco e não temos garantias de absolutamente nada. A diferença é que, quando olhamos para a universidade, por exemplo, a gente consegue enxergar passo a passo. Ou seja, primeiro vestibular, aprovação, provas, TCC, formação e, por fim, um emprego na área. É o que já estamos treinados para olhar e fazer”, relata.
Atualmente, ela é também sócia-investidora da ‘Sharp’, hub de inteligência cultural, e consultora de Inovação do Nubank, onde criou -junto com do time Fundo Semente Preta – o ‘NuLab’que é um hub de inovação em Salvador e que, agora, oferece formação para quem quer aprender sobre programação.
“Quando falamos de empreendedorismo, não conseguimos visualizar o passo a passo da jornada porque nunca nos foi dito. Tenho tentado compartilhar esses pilares nas minhas redes. É possível empreender por autonomia e não apenas por sobrevivência, mas existe uma jornada a ser trilhada”, completa.
Leia também:O futuro das desigualdades e geração de renda em tempos de pandemia