Murilo Junqueira, de 26 anos, morreu após ter sido baleado por policiais militares em Ourinhos, cidade do Interior de São Paulo. O caso aconteceu no dia 20 de setembro, na Vila Operária, e foi registrado como legítima defesa, pois segundo a versão dos PMs, quando foram tentar prender Murilo, que era foragido da justiça, houve troca de tiros. O rapaz foi socorrido e levado para a Santa Casa, mas não resistiu.
A versão sustentada pelo cabo João Paulo Herrera de Campos e pelo subtenente Alexandre David Zanete, do 31º batalhão da PM, no boletim de ocorrência, no entanto, foi desmentida por imagens de uma câmera de segurança que mostram um momento da abordagem em que Murilo está vivo, com as mãos para o alto, sendo baleado em uma curta distância.
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Por conta dessa sequência de imagens, os PMs tiveram a prisão preventiva decretada na última quarta-feira (22) e foram levados para o presídio Romão Gomes, na capital.
Para o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Dennis Pacheco, sem a divulgação da gravação, provavelmente, a investigação do assassinato do jovem negro, com histórico judicial, seguiria apenas o roteiro apresentado pelos policiais militares.
“Claramente não houve resistência. Foi uma execução e, se ela aconteceu, é porque esses policiais sentiram que sairiam impunes, mesmo com a câmera ligada. Essa sensação não é deles individualmente, ela é proporcionada com um quadro geral de enorme impunidade de policiais que matam”, aponta Pacheco.
Murilo usava camiseta branca e shorts jeans quando foi morto. A imagem mostra ele se contorcendo no chão entre o primeiro e segundo tiro. A declaração de tentativa de prestação de socorro por parte dos policiais seria uma estratégia comum utilizada para dificultar uma investigação posterior, já que após a retirada do corpo do local a cena ficaria comprometida.
“A responsável por investigar mortes decorrentes de intervenções policiais é a Polícia Civil, que precisa colocar em dúvida e questionar a versão dos policiais, e não reforçá-la e neutralizá-la juridicamente de antemão como acontece em uma grande parcela dos casos”, comenta Pacheco.
Em São Paulo, a Polícia Militar passou a adotar o uso de câmeras acopladas nos uniformes para gravar as ações policiais. O objetivo da mudança é garantir que casos como o de Murilo não se tornem rotina no trabalho policial. A sensação de impunidade entre os PMs que matam é reforçada, segundo Pacheco, também pelo padrão de atuação do Ministério Público diante de casos similares.
“Depois da conclusão das investigações, o papel de controle da atividade policial é exercido pelo Ministério Público, que tem sido um dos fiadores da impunidade policial, porque assim como a Polícia Civil, acata a narrativa padrão de resistência como verdade e arquiva uma esmagadora maioria dos casos”, afirma o pesquisador.
A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo com perguntas sobre o uso de câmeras nos uniformes dos PMs e a condução do caso na Polícia Civil. Até a conclusão da reportagem, a pasta não comentou. O texto será atualizado com o posicionamento, se houver.
O ouvidor das Polícias de São Paulo, doutor Elizeu Soares Lopes, disse que as imagens mostram uma “execução a sangue frio” e um “ato de barbárie”. Os dois policiais militares foram presos pela corregedoria da PM.
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