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Jovem é demitido de mercado após fazer tatuagem com temática africana

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9 de dezembro de 2020

Rapaz trabalhou por quatro anos como atendente em mercado, teve apenas um reajuste de salário e foi dispensado dois dias após fazer a tatuagem

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Acervo Pessoal

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Um jovem negro de 20 anos trabalhou por quatro anos em um mercado* na Zona Oeste da cidade de São Paulo e foi demitido dois dias depois de fazer uma tatuagem sobre a sua ancestralidade africana.

A tatuagem de nove centímetros é uma inscrição em Nsibidi, da cultura do grupo étnico Igbo, atual região da Nigéria, e foi feita no antebraço esquerdo. A tatuagem foi um presente de aniversário de uma amiga, no mês de novembro.

“Eu nunca quis fazer uma tatuagem antes, mas eu quis fazer um registro da minha ancestralidade africana. Gosto muito da cultura nigeriana e descobri a existência do alfabeto Nsibidi”, conta a vítima.

Augusto* [nome fictício] começou a trabalhar no mercado com 16 anos e relata que o dono do comércio o conhecia desde pequeno. Entre 2016 e 2020, ele recebeu apenas um reajuste de salário. Ele recebia R$ 160 por semana de trabalho e R$ 20 pela jornada aos domingos.

Augusto trabalhava de domingo a sexta e aos sábado fazia outros bicos para completar o valor da mensalidade da faculdade. O filho do dono do mercado, que também trabalha lá, segundo ele, tem tatuagem.

A demissão aconteceu dois dias após o rapaz ter feito a tatuagem. A justificativa, segundo o dono, é a de que o rapaz não trabalhava aos sábados. “Eu não era registrado e trabalhei por quatro anos, sempre com os sábados de folga. Ele sabia disso. Anteriormente, ele já tinha dito que tatuagem não era coisa de gente de bem”, explica a vítima.

Um dia antes da demissão, Augusto foi alertado por uma pessoa que seria dispensado por causa da tatuagem. Ele lembra de um outro episódio de discriminação dentro do mercado.

“Uma vez ele ficou meio bravo porque eu respondi com um ‘axé’ dirigido a mim por uma candomblecista. Eu disse que minha avó era do candomblé, portanto não tinha preconceito nenhum em relação a isso”, detalha.

Augusto fala inglês e faz graduação em Letras em uma universidade particular. Ele também estuda o idioma xhosa, uma das línguas oficiais da África do Sul. Agora o rapaz está em busca de um novo emprego para custear as despesas da casa onde mora com a família.

“Gosto muito de viajar e queria um emprego numa área que envolva o idioma inglês. Quero continuar estudando e vou fazer uma outra faculdade de relações internacionais. Também seria ótimo uma vaga como professor de inglês”, considera.

A vítima diz não guardar mágoa do ex-empregador e espera conseguir um trabalho com melhores condições e seguir a vida com orgulho da sua tatuagem e da sua ancestralidade negra. “O significado da tatuagem é chi. Na cultura igbo, Deus nos dá um chi, uma alma guardiã para nos guiar e tomar conta de nós”, comenta.

** Os nomes do jovem e do mercado não serão divulgados para preservar a identidade da vítima.

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