Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, vai receber melhoria de infraestrutura e projeto educativo para difundir memória da população negra
Texto: Redação | Edição: Nataly Simões | Imagem: Divulgação/Sou Mais Carioca
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Após empresas lideradas por profissionais negros questionarem a ausência do tema afroturismo no maior evento de turismo do Brasil, o Abav Collab, terá um painel sobre o tema na sexta-feira (2), a partir das 15h30, no site oficial. A atividade vai reunir a sócia da Sou Mais Carioca, Gabriela Palma; Tânia Neres, da Hope Assessoria e Turismo; Jéssica Conceição, sócia-fundadora da Alagoas Cultural e o sócio da Black Bird Viagem, Guilherme Soares Dias.
A mesa vai discutir a importância do setor que está em crescimento e que dá a possibilidade de 56% da população brasileira, que se declara como negra, fazer viagens em que se sintam representadas, além de garantir que todos os turistas possam conhecer mais da cultura e história negra brasileira.
Entre os temas estarão a falta de diversidade entre os funcionários e gestores do setor, além de propagandas pouco inclusivas, o potencial turístico do Quilombo dos Palmares, e os roteitoros negros em São Pauo e no Rio de Janeiro.
Os profissionais do setor apontam ainda que não há uma pesquisa nacional, nem por parte do Ministério do Turismo, nem por parte das empresas de turismo, que mapeie o percentual de turistas negros no Brasil. Segundo os profissionais, sem os dados não é possível saber como se comporta a maior parcela da população brasileira (56% que se declaram pretos ou pardos) quando viaja.
Para eles, a baixa presença de pessoas negras no turismo é notória, uma vez que o racismo estrutural faz com que pessoas negras sejam não só a maior parcela entre os mais pobres, como também aquela com mais dificuldade de se permitir disfrutar momentos de lazer.
A ABAV organiza o evento anualmente e em 2020 acontece pela primeira vez virtual. A entidade afirma que “prioriza o turismo responsável” e trará instruções ao turista sobre responsabilidade diante do novo normal, informação sobre protocolos vigentes em serviços e destinos, e mais valor pelo preço da viagem, com agentes associados conectados na plataforma para atender aos consumidores previamente cadastrados. Todo o conteúdo disponibilizado pelos participantes ficará disponível na plataforma durante um ano no site oficial do evento.
Cais do Valongo
Um dos principais atrativos do afroturismo do Rio de Janeiro é o Cais do Valongo, na região central, que agora recebe o nome de “Valongo – Cais de Ancestralidades” e receberá obras de melhorias de infraestrutura, sinalização no sítio histórico, projeto expositivo, além de site, redes sociais e um projeto educativo voltado para professores da rede pública da cidade e educadores museais.
O curso de Educação Patrimonial “Valongo, Cais de Ideias” terá duração de três meses e o compromisso com o “não esquecimento”, não só com a memória dos negros escravizados que aportaram no Cais do Valongo, mas também ressaltando a importância histórica e cultural desse patrimônio para a sociedade. O objetivo é potencializar a ressignificação das identidades construídas e reconstruídas na diáspora. “Valongo, Cais de Ideias” faz parte do projeto de reestruturação que entende o sítio arqueológico como local de memória, de fatos e eventos sensíveis para a história da humanidade.
“Escravização e apagamento são duas, dentre tantas palavras que atravessam a população negra e estão muito fortes e presentes quando se trata do Sítio Histórico e Arqueológico do Cais do Valongo. Em formato virtual, a trajetória educativa do curso inicia sua primeira fase convidando professores da rede pública e educadores museais a participar, gratuitamente, dessa reflexão sobre Patrimônio, Memória e Diáspora, pensando estratégias no presente e para o futuro, afirmam Luis Araújo e Jéssica Hipolito, responsáveis pelo projeto.
O Cais do Valongo foi considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, em 2017, por ser o único vestígio material do desembarque de cerca de 1 milhão de africanos escravizados nas Américas. Essa é a segunda grande intervenção no local desde a obtenção do título e tem, entre outros objetivos, a missão de difundir o valor histórico do local.
O sítio arqueológico foi redescoberto em 2011 durante obras de revitalização da Prefeitura na zona portuária do Rio, na operação urbana Porto Maravilha. Rapidamente, recuperou seu significado na memória da escravidão no mundo e hoje é parte importante da área da cidade conhecida como “Pequena África”.