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Agricultores denunciam intimidações em terras na Mata Sul de PE

Veneno nas lavouras, pés de frutas cortados arbitrariamente e tentativas de infertilizar o solo. Essas são algumas estratégias de empresários da pecuária denunciadas em ato por pequeno produtores   

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Comissão Pastoral da Terra - PE 

Na Zona da Mata Sul, agricultores denunciam intimidações para expulsão das terras em protesto

2 de agosto de 2021

Veneno sob as lavouras, pés de frutas cortados arbitrariamente e tentativas de infertilizar o solo. Este é o cenário em que se encontram os pequenos agricultores da Zona da Mata Sul de Pernambuco. Em mais um ato realizado na manhã desta segunda-feira (2), no município de Jaqueira, os trabalhadores rurais denunciam as práticas ilegais do empresariado da pecuária, que tentam, a todo custo, retirar as famílias produtoras de alimentos orgânicos da região onde funcionava a antiga Usina Frei Caneca, desativada em 2003. 

A situação do município reflete uma problemática ainda maior em toda a zona. Anteriormente, a região foi marcada pela presença de usinas, por conta do cultivo da cana de açúcar. Devendo receitas ao estado – na casa dos milhões – e aos trabalhadores, essas empresas foram desativadas e, os terrenos onde os engenhos funcionavam, ficaram abandonadas. Os trabalhadores das usinas que ficaram sem emprego e sem renda, viram, nessas terras, uma forma de se reestruturarem, abrindo espaço para pequenas produções de lavouras, atividade que permanece até hoje.

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Atualmente, o conflito se dá entre os que cuidaram das terras desde a desativação das empresas e os empresários com altas fontes de renda. A classe com maior poder aquisitivo e político, garante, em leilões promovidos pelo estado, essas terras a preços inferiores ao que é cobrado no mercado geral, para atividades que envolvem a criação e venda de animais para criação, domesticação ou abate. Neste serviço, os trabalhadores rurais não são incluídos, tendo pedidos de desapropriação de suas casas e suas terras. Cenário de angústia para a população local. 

Segundo Geovani José, agente da Comissão Pastoral da Terra, organização que atua em defesa da vida dos povos da terra, das águas e das florestas, a situação atual é angustiante e precisa de respostas do estado. 

“Nós estamos acompanhando famílias que moram nos sítios próximos aos engenhos há mais de trinta, quarenta e até cinquenta anos. São posseiras, não pessoas que invadiram as terras. Mesmo depois do desespero de ficarem desempregadas de um serviço que envolvia muitas pessoas da região, esses trabalhadores conseguiram se reinventar, trazendo a produção agrícola para se abastecerem e distribuírem pelas proximidades. Caso contrário, morreriam de fome. Depois de tudo isso, vão ter seus direitos totalmente negados? Para onde as famílias vão?”, questiona o articulador, em conversa com a Alma Preta Jornalismo

Leia tembém: Ato em Pernambuco denuncia despejo de 200 famílias de acampamento sem-terra

A insegurança sobre quando serão despejados e quais os direitos serão ou não assegurados, levaram toda a classe trabalhadora à PE-126 na última semana e no início desta. Pneus foram queimados e faixas com frases como “judiciário, faça justiça! Cobre as dívidas das usinas falidas na Zona da Mata” foram levantadas. Os atos aconteceram de maneira pacífica, apesar do perfil violento das tentativas de despejo. Populares relembraram o fim do ano passado, às vésperas do Natal, quando foram surpreendidos até pela presença de armas de fogo nas terras e disparos. 

Como tentativa de diálogo com o poder político, uma reunião com a prefeita da cidade, Ridete Pellegrino (PSD) foi realizada no início da tarde desta segunda-feira. O encontro reuniu representantes da classe agrícola, líderes de movimentos sociais e membros de organizações em defesa da reforma agrária. O objetivo foi dialogar sobre a situação com a representante principal do município para que seja exposto ao governador do estado, Paulo Câmara (PSB) as necessidades da comunidade.

De acordo com Geovani, as famílias se queixaram sobre o período que pedem pelo reconhecimento da posse e regulamentação das terras, mas, há três anos, não obtém retornos efetivos.  

“Esperamos encontrar com o gestor estadual. Diante de uma situação antiga, até hoje as reuniões marcadas por ele não foram feitas. Dessa vez, esperamos que ele esteja disponível a nos ouvir, entender as necessidades dos agricultores e apontar um melhor caminho diante do conflito. Queremos que seja assegurado o mínimo dos nossos direitos”, conclui. 

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