Clube pernambucano foi elogiado pelo público no Twitter após publicar um vídeo narrado pelo ex-goleiro Nilson, do rival Santa Cruz, vítima de racismo durante uma partida no estádio dos Aflitos, nos anos 2000
Texto: Nataly Simões I Imagem: Náutico/Divulgação
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O Náutico lançou nesta sexta-feira (18) uma camisa preta de goleiro como adesão ao movimento antirracista “Vidas Negras Importam” (Back Lives Matter, em inglês). Em vídeo publicado nas redes sociais, o clube pernambucano reconhece o passado marcado pelo racismo e assume o compromisso de “contribuir cada vez mais com o combate ao racismo estrutural e a violência contra as pessoas negras”.
“A gente tem orgulho da nossa história, títulos, grandes craques e uma torcida apaixonada. Um estádio com alma, mas tem uma parte do nosso passado que a gente não se orgulha. Fomos o último clube grande a permitir negros vestindo nossa camisa alvirrubro. O preto não fazia parte das nossas cores, as marcas disso refletiram em mim”, diz o vídeo, apresentado pelo ex-goleiro Nilson, que jogou pelo clube rival, o Santa Cruz, e depois também passou pelo Náutico.
Nos anos 2000, o então goleiro foi alvo de um coro racista durante uma partida contra o Náutico, no estádio dos Aflitos. “Era um coro racista imitando som de um macaco e foi um som muito forte. Você lembra daquele som e sabe que aquilo foi feito por causa da cor de sua pele”, recorda Nilson, em outro momento do vídeo.
Segundo dirigentes do clube, a nova camisa, na cor preta, diferente da tradicional vermelha e branca, representa o compromisso do clube fundado em 1901 em compensar episódios de racismo. Ainda no vídeo, o clube diz que “pedir desculpas não é suficiente”.
“O Náutico tem uma das mais belas histórias do futebol brasileiro. É claro que existem erros e, como não se muda o passado, quem faz o presente pode reconhecê-los. Porque a história continua sendo escrita. Reparar não é possível? Podemos corrigir. O Náutico é alvirrubro, mas também de todas as cores, raças, gêneros e crenças”, afirmou o presidente do clube, Edno Melo, em sua conta no Twitter.
A ação do clube pernambucano em reconhecer as atitudes racistas e lançar um uniforme novo também foi elogiada pelo público. O jornalista Marcelo Macedo disse não se lembrar de ter visto outros clubes terem a mesma atitude. “Eu não me lembro de um clube relevante admitir o passado racista como vocês fizeram agora. É isso, pessoal, em frente sempre. Parabéns a vocês”, escreveu.
Eu não me lembro de um clube relevante admitir o passado racista como vocês fizeram agora. É isso, pessoal, em frente sempre. Parabéns a vocês ❤
— Marcelo D. Macedo (@mdavidmacedo) September 18, 2020
Já Paulo Pacheco, também jornalista, destacou que “mais forte do que a campanha e a camisa é o mea-culpa. Não dá pra apagar o passado, mas dá pra corrigir o presente e escrever o futuro. Parabéns! O racismo é um problema dos brancos que odeiam, não das vítimas. O racismo tem que ser combatido de cima!”.
Mais forte do que a campanha e a camisa é o mea-culpa. Não dá pra apagar o passado, mas dá pra corrigir o presente e escrever o futuro. Parabéns! O racismo é um problema dos brancos que odeiam, não das vítimas. O racismo tem que ser combatido de cima! ✊?
— Paulo Pacheco (@ppacheco1) September 18, 2020