Mulher, nordestina, periférica e pernambucana Simony Cesar – premiada pela ‘Forbes Under 30’ -, é responsável pela plataforma que oferece tecnologia integrada a diversos aplicativos para padronizar, centralizar e rastrear denúncias de assédio e violência na mobilidade urbana, incluindo transportes públicos, a ‘NINA’. Com base em dados, a inteligência artificial visa influenciar a criação de políticas públicas e privadas no combate e prevenção dos casos para a construção de ambientes mais inclusivos.
Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, a jovem idealizadora, moradora do bairro de Dois Unidos, na Zona Norte do Recife, conta que a tecnologia nasceu de uma motivação pessoal. Sua mãe, cobradora de ônibus, saía às 4 da manhã de casa e voltava tarde da noite. “Eu não entendia a dimensão do problema que a profissão oferecia pra ela, mas eu percebia o risco que ela passava todos os dias. Isso foi uma das motivações para que eu desse início ao projeto”, conta.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Ela ainda conta que o funcionamento da plataforma é pautado em gerar dados que empresas, governos e instituições necessitam para garantir segurança e inclusão para todos nos espaços urbanos. Aliando mobilidade, inovação e tecnologia, a empresa objetiva desenvolver cidades inteligentes (ou smart cities) garantindo o direito de ir e vir em todos os ambientes e a equidade de gênero na mobilidade urbana, com atenção aos casos de violência contra mulheres e assédios.
Questionada sobre os impactos que a tecnologia traz principalmente na vida de mulheres negras, as mais vulnerabilizadas do país, a idealizadora cita a pesquisa dos Institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, que apresentou o dado de que 81% das mulheres brasileiras revelaram que já sofreram violência nos seus percursos e 67% das mulheres negras relataram ter passado por situações de racismo enquanto andavam a pé.
Mulher, nordestina, periférica e pernambucana, Simony Cesar – premiada pela ‘Forbes Under 30’ -, é responsável pela plataforma que oferece tecnologia integrada a diversos aplicativos para padronizar, centralizar e rastrear denúncias de assédio e violência
“Essa é uma situação que precisamos mudar urgentemente. Acho que o maior impacto da NINA é que nossos dados influenciam tomadas de decisões mais eficientes, voltadas para quem realmente usa o transporte público e quem mais se desloca pelas cidades. Não é só uma questão de tecnologia, mas sim de construção de cultura e de gestão pública”, aponta.
Leia também: Startup de inteligência de dados valoriza mulheres negras no mercado de tecnologia
Para ilustrar toda a tecnologia, a cara da NINA é uma personagem negra, que ajuda na utilização e na interatividade do funcionamento. Curiosidade é que a figura foi inspirada na primeira usuária da nossa plataforma, “uma mulher negra que sentiu confiança na gente em denunciar o assédio que sofreu no transporte público”.
Já o nome se deu quando a idealizadora estava assistindo ao documentário “What Happened, Simone?” enquanto fazia o seu primeiro artigo científico sobre o projeto. Durante o filme, Nina Simone é questionada sobre o que era liberdade para ela, respondendo que “Liberdade é não ter medo”.
“Como no meu projeto eu estava falando sobre assédio e violência de gênero, eu peguei essa frase dela como um “slogan” e batizei a NINA em homenagem a essa frase. Fora que essa representatividade da mulher negra é muito importante, não apenas para transmitir confiança para as mulheres que queremos ajudar, mas também para incentivá-las a lutarem pelas mudanças que queremos ver no mundo da mesma forma que a NINA vem fazendo”, explica Simony.
A idealizadora revela a responsabilidade que carrega por estar buscando novos caminhos de representatividade em um mercado empreendedor de tecnologia e na área de transportes quando sabemos que esses são setores completamente masculinos, aristocratas e brancos. Por isso, o rosto da NINA ser, também, retratado por uma mulher negra.
“É um grande desafio e enxergo isso como um catalisador para incentivar mais mulheres a se arriscarem, a investirem na área, porque só conseguiremos equidade de fato ocupando esses espaços”, finaliza.
Para mais informações sobre a plataforma, uma página no Instagram mais informações sobre o uso e as possibilidades de serviços em que a tecnologia pode ajudar.