Durante a 10ª edição da Brazil Conference, um evento anual promovido por estudantes brasileiras em Boston, nos Estados Unidos, realizado no último fim de semana (6 e 7) foi palco para mais um caso de racismo. As embaixadoras da conferência, Naira Santa Rita e Marta Melo, liam o manifesto sobre o impacto social em Harvard, quando duas mulheres brasileiras fizeram comentários sobre os cabelos das palestrantes. 

Naira foi a porta-voz da denúncia e, de acordo com o relato feito no segundo dia de conferência, um grupo de três mulheres brancas disse, em inglês e aos risos, que o cabelo das mulheres negras, que usam tranças e dreads, deveria ter piolhos.

Após perceberem que foram entendidas, as mulheres deixaram o evento. Naira destacou que essa foi uma das diversas violências sofridas no evento. Com voz embargada, ela reforçou que em outras situações teria reagido à violência por entender que o constrangimento, quando se trata de racismo, é pedagógico. Mas por estar em um espaço que se diz inclusivo e diverso, precisou se conter.

“Eu e a Marta, mulheres negras, temos muito mais a perder do que três meninas brancas de Harvard. Se nós tivéssemos confrontado, nós seríamos vistas como mulheres negras raivosas, escandalosas e até mesmo vitimistas, porque é assim que nos pintam”, disse Naira no evento. 

Ainda durante seu discurso, a embaixadora afirmou que o racismo é meticuloso e sofisticado, de tal modo que as mulheres se sentiram confortáveis em agredir intencionalmente as duas com comentários racistas, acreditando que não seriam entendidas. 

Santa Rita criticou também a falta de representatividade de pessoas negras entre organizadores do evento. 

“Que a partir desta histórica 10ª edição possamos fortalecer na construção de um legado do que realmente queremos de diversidade hoje, e não existe Brasil sem diversidade”, finalizou.

Em nota, o site oficial do evento lamentou o ocorrido e disse que repudia veemente a violência e ofereceu apoio às vítimas. Segundo a publicação, a Brazil Conference está comprometida em promover ambientes diversos, no qual todas as vozes são valorizadas e respeitadas.