Cerca de um mês e meio após um passeio turístico ter sido filmado, fotografado e seguido por três horas, oficiais da PM participaram da caminhada que passa por pontos importantes da cultura negra da cidade
Texto e imagem: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões
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Na manhã desta sexta-feira, dia 11, a Caminhada São Paulo Negra, da plataforma de turismo e representatividade Black Bird, teve um público diferente daquele usual de turistas e paulistanos interessados em descobrir mais sobre a cultura negra da capital. A caminhada foi acompanhada por 23 policiais militares, de um curso multiplicador em Direitos Humanos da corporação.
A iniciativa faz parte da solução encontrada pela Ouvidoria das polícias, em conjunto com a cúpula da PM, para evitar novas ocorrências de racismo por parte de policiais contra grupos de pessoas negras na cidade.
Em 24 de outubro deste ano, policiais militares acompanharam de forma ostensiva, durante três horas, a caminhada que contou com cerca de dez turistas, brancos e negros, que faziam a visita guiada por uma dezena de monumentos e locais históricos no centro, entre eles a praça da Liberdade, onde ficava o pelourinho e a forca onde eram torturadas e assassinadas pessoas negras escravizadas.
Na quarta-feira, Guilherme Soares Dias e Heitor Selatiel, da Black Bird, fizeram uma palestra para oficiais da PM que participam do curso de formação em Direitos Humanos.
“Teve uma conversa interessante. Ainda há uma resistência para reconhecer que foi racismo estrutural, mas foi importante porque eles tiveram acesso a uma história que não conheciam no Centro da cidade. Não só a polícia, mas boa parte da sociedade. Queremos que eles valorizem a história negra da cidade e não a criminalizem. Sabemos que foi uma discriminação o que aconteceu com a gente, do mesmo modo que já aconteceu com outras manifestações culturais promovidades pela população negra, como o samba, o funk, a capoeira e as religiões de matriz africana”, afirmou Dias.
Após o tour, que existe há mais de dois anos, o capitão Chiampone, da Diretoria de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos, disse que o passeio foi muito bom. “O trabalho da Black Bird é louvável. Frequento a região da Liberdade há 15 anos e nunca tinha visto a igreja aberta. Foi muito legal conhecer essa história”, comentou o capitão.
O oficial destacou também a importância da interação entre os policiais e a comunidade. “O policial é um ser humano por trás da farda e deve ter acesso à cultura, à arte e ao lazer. Hoje foi uma lição de arte”, complementou.
Foto: Juca Guimarães/Alma Preta
Sobre o que ocorreu no dia 24, o capitão contou que a polícia recebe cerca de seis denúncias de manifestações na cidade por dia e que elas precisam ser investigadas.
“No dia, os polícias tinham ido verificar a denúncia de passeata e fizeram as fotos e as filmagens, justamente para informar ao comando que não era um protesto, mas um passeio de turistas. Não houve racismo”, justificou o capitão.
A Caminhada São Paulo Negra acontecerá novamente nos dias 13 e 19 de dezembro e no ano que vem no dia 25 de janeiro, data do aniversário de São Paulo. O ticket para participar do evento custa R$ 60.
“Eu adoraria que tours e cursos sobre questões raciais se tornassem práticas obrigatórias na formação dos policiais. Para que eles parem de nos matar e de nos tratar como suspeitos”, concluiu Dias.