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PMs fugiram após agressão contra jovem negro em shopping, relata testemunha

1 de setembro de 2020

Jovem de 18 anos foi agredido por seguranças armados de empresa irregular. Ele queria trocar um relógio, que havia comprado de presente de Dia dos Pais, e teve uma arma apontada para a cabeça

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução

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Os dois policiais militares que trabalhavam como seguranças armados e sem uniforme para o Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, são investigados pela corregedoria da PM-RJ. A dupla é acusada de racismo e agressão contra o jovem Matheus Fernandes, de 18 anos, que estava no centro comercial para trocar um relógio que havia comprado de presente de Dia dos Pais, em 6 de agosto.

A Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro informou, em nota enviada ao Alma Preta, que apura a conduta dos policiais envolvidos no caso. Apesar de os PMs terem fugido da cena do crime, conforme relata uma testemunha, a pasta afirmou que eles terão direito à ampla defesa. A secretaria diz ainda que não aprova e “pune com o máximo rigor os desvios de conduta”.

A investigação tanto da Polícia Militar como da Polícia Civil, onde está o inquérito, pode recair nas atividades das empresas Moura Corbage Serviços Gerais e Prisma Gestão de Segurança e Serviços, que têm sede no mesmo endereço na Barra da Tijuca e como sócio o major Marcelo Corbage, chefe do departamento de instrução e treinamento da Polícia Militar. O órgão chefiado pelo major é responsável pela aplicação das regras de conduta e abordagem da polícia.

Os dois PMs, armados e sem uniforme trabalhavam para a Corbage dentro do shopping e arrastaram o rapaz até uma escada, bateram e apontaram uma arma para a cabeça dele. Alguns clientes que viram a cena e se assustaram com os homens armados, fizeram vídeos e protestaram contra as agressões. As imagens viralizaram na internet.

“Matheus é um rapaz negro muito trabalhador. Ele ralou bastante como entregador de aplicativo para comprar o relógio de R$ 300 para o pai, mas daí ele decidiu trocar o modelo. Na loja ele percebeu que era vigiado pelos dois homens e ficou com medo. Como reação, tentou filmar os dois e então foi atacado e levado para uma área isolada. Eles diziam que ele estava roubando, mas o rapaz retrucou ao dizer que havia pago o relógio e tinha a nota fiscal”, conta o advogado de defesa de Matheus, Jaime Fernandes, que também é tio da vítima.

Trabalhador de aplicativo, o rapaz diariamente entrava no shopping para fazer entregas. No ocasião da agressão, ele estava sem a “bag”, equipamento que caracteriza os entregadores. Segundo o advogado, por ser negro, ele foi violentamente agredido pelos policiais. Um dos policiais ainda tomou a carteira e o cartão do entregador. “Um segurança do shopping, de uniforme, viu a situação, mas não deixou as pessoas socorreram o rapaz. Ele foi omisso e conivente os agressores. No meio dessa confusão, os dois policiais sumiram no meio do povo”, recorda Fernandes.

Um amigo de Matheus, que presenciou a agressão, ligou para a mãe do rapaz e a avisou sobre o que havia acontecido. “Quando a minha irmã chegou lá, ela socorreu o filho e foi na delegacia fazer a ocorrência, mas disseram que ela deveria efetuar o BO pela internet, mas online não tem a opção de fazer a denúncia de racismo. A princípio foi feita a denúncia de agressão, no entanto, a investigação também apura o caso de racismo”, detalha o advogado e tio da vítima.

Depois que os vídeos circularam na internet, os policiais militares foram identificados com Diego da Silva, do Batalhão de Choque, e Gabriel Izaú. Em depoimento, eles disseram que suspeitaram do boné usado pelo Matheus e que tinha a imagem do personagem Hulk, que seria um símbolo de ligação com o crime. Nas imagens, é possível ver que um dos policiais usava uma camiseta com o personagem Venon, vilão das histórias do Homem-Aranha.

“Não faz sentido a versão deles. Um outro rapaz negro chamado Tiago foi ameaçado pelo mesmo segurança à paisana, do mesmo jeito e no mesmo lugar. Fez a ocorrência, inclusive. O Tiago não estava nem usando boné e nem tirando fotos. Como se explica isso? Existe aí um racismo e com a conivência do shopping”, considera Fernandes.

Após o crime, a empresa Corbage teve o contrato de segurança com o Ilha Plaza Shopping cancelado. No primeiro momento, o shopping afirmou, em comunicado, que os agressores não eram seguranças. A Corbage, que tem um major da PM como sócio, também é suspeita de não ter autorização para a prestação de serviços de segurança armada.

A reportagem tentou contato com o Ilha Plaza Shopping e a empresa Cobarge. Até a publicação deste texto, os questionamentos sobre a acusação de racismo não foram respondidos.

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