A reitora da Universidade de Harvard, Claudine Gay, renunciou nesta terça-feira (2) ao cargo. Conhecida por ser a primeira presidente negra da instituição, a acadêmica enfrentava uma pressão para deixar o posto devido a acusações de plágio e críticas sobre a forma como lidou com o antissemitismo no campus da instituição, por conta dos conflitos em Gaza.
O mandato de Gay, segunda mulher a ocupar esse posto, durou cerca de seis meses. Seu período, que iniciou em julho, foi o mais curto de qualquer reitoria na história de Harvard desde sua fundação em 1636, em Cambridge, Massachusetts.
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Em uma carta à comunidade de Harvard, a também professora de ciência política e de estudos africanos e afro-americanos falou sobre a difícil decisão e explicou que, “após consulta aos membros da Corporação, ficou claro que é do interesse de Harvard que eu renuncie, para que a nossa comunidade possa navegar neste momento de desafio extraordinário com foco na instituição e não em qualquer indivíduo”.
“É com o coração pesado, mas com um profundo amor por Harvard, que escrevo para compartilhar que deixarei o cargo de presidente. […] Tem sido muito difícil, porque ansiava por trabalhar com vocês para promover o compromisso com a excelência acadêmica que impulsionou esta grande universidade ao longo dos séculos”, escreveu.
Claudine Gay também afirmou em sua carta de renúncia que foi vítima de ataques pessoais e racismo. “Tem sido angustiante levantarem dúvidas sobre meus compromissos em confrontar o ódio e sustentar o rigor acadêmico… E assustador ser sujeita a ataques pessoais e ameaças motivados por animosidade racial“, compartilhou.
Para a cientista política, as últimas semanas “ajudaram a tornar claro o trabalho que precisamos fazer para construir o futuro, para combater o preconceito e o ódio em todas as suas formas, para criar um ambiente de aprendizagem em que respeitemos a dignidade uns dos outros e nos tratemos com compaixão”.
Acusações resultaram em renúncia
Desde outubro de 2023, o conflito entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza tem mobilizado estudantes universitários americanos que elevaram a tensão entre os grupos que apoiam a causa palestina e aqueles que defendem o Estado judeu.
Durante a sessão sobre antissemitismo, realizada pelo Comitê de Educação e Força de Trabalho da Câmara no início de dezembro, Gay optou por não responder de forma direta à pergunta de uma congressista republicana, que questionou se o genocídio de judeus violaria ou não os códigos de conduta de ensino.
As reitoras alegaram que era preciso equilibrar uma proibição do tipo com as proteções à liberdade de expressão de seus alunos, docentes e demais funcionários. A resposta abriu espaço para que legisladores solicitassem a remoção delas de seus cargos nas instituições.
A ofensiva israelense reduziu grande parte da Faixa de Gaza a escombros e matou pelo menos 22.185 pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Além disso, um dia antes da reunião, Mary Elizabeth Magill, reitora da Universidade da Pensilvânia, renunciou ao cargo antes do conselho de administração da instituição debater sobre a sua permanência ou não no posto. Isso também aumentou a pressão contra Gay.
A presidente também se viu envolvida em polêmicas sobre plágio. Gay foi alvo de críticas após relatos de que ela não citava adequadamente fontes acadêmicas. A sua demissão foi celebrada pelos conservadores, que frisaram a alegação de plágio no centro das atenções nacionais.
Um painel de três cientistas políticos não afiliados a Harvard e um subcomitê do conselho analisaram todos os seus trabalhos publicados de 1993 a 2019. Segundo a investigação, foram encontrados dois exemplos adicionais de “linguagem duplicada sem atribuição apropriada”. O conselho disse que ela atualizaria sua dissertação e solicitaria correções.
A Harvard Corporation disse que a demissão veio “com grande tristeza” e agradeceu a Claudine por seu “compromisso profundo e inabalável com Harvard e com a busca pela excelência acadêmica”. Por ora, Alan M. Garber, reitor e diretor acadêmico, atuará como reitor interino até que a instituição encontre um substituto.