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Relatório revela repressão violenta aos bailes funk em SP e cobra mudanças nas políticas públicas

Pesquisa da Unifesp revela os efeitos das operações policiais nos bailes funk e como a repressão, sem dados transparentes, resultou em violência e mortes, destacando o caso de Paraisópolis
Policiais militares fiscalizam o entorno de uma festa "Baile Funk". Estudo da Unifesp investiga a repressão violenta nos bailes funk e cobra mudanças.

Foto: Cristophe Simon/AFP

10 de dezembro de 2024

O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) lançou, no final de novembro, o relatório “Pancadão: uma história da repressão aos bailes funk de rua na capital paulista”. O documento investiga, com base em duas décadas de notícias e análises, as operações policiais direcionadas aos bailes funk na cidade de São Paulo, revelando o impacto desproporcional da repressão na juventude negra e periférica.

Coordenado pela historiadora Desirée de Lemos Azevedo, o estudo examina a evolução das chamadas Operações Pancadão, criadas para coibir a realização desses eventos em áreas públicas. Frequentemente, essas intervenções resultam em violência, ferimentos e até mortes, como no emblemático Massacre de Paraisópolis, ocorrido em 2019, no qual nove jovens perderam a vida durante uma ação policial.

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O relatório aponta que, mesmo após as mortes em Paraisópolis, a repressão aos bailes funk não foi revisada, mas intensificada. As operações continuam resultando em graves violações de direitos humanos, com efeitos que incluem ferimentos físicos, traumas psicológicos e a perda de vidas. Além disso, a Secretaria de Segurança Pública não disponibiliza dados específicos sobre mortes ou feridos nessas intervenções, comprometendo a transparência e a formulação de políticas públicas eficazes.

“Há uma negação sistemática de dados sobre a violência policial nos bailes funk, o que impede uma análise mais aprofundada e uma resposta efetiva do poder público”, afirma Desirée Azevedo em nota para imprensa.

Massacre de Paraisópolis e o projeto ‘Os 9 que Perdemos’

O massacre de Paraisópolis, ocorrido em 1º de dezembro de 2019, tornou-se um marco na repressão aos bailes funk. Durante uma operação para dispersar um evento na comunidade, nove adolescentes foram mortos. Esse episódio gerou indignação e levou à criação do projeto “Os 9 que Perdemos”, uma parceria entre o CAAF, a Defensoria Pública de São Paulo e o Movimento de Familiares das Vítimas do Massacre.

O projeto busca homenagear as vítimas, reunir dados sobre a violência policial em bailes funk e pressionar por mudanças. Um site foi lançado como parte da iniciativa, servindo de plataforma para denúncias e relatos de abusos.

“Ao lançar esse site, queremos dar voz às vítimas e às comunidades atingidas pela violência policial. Não podemos permitir que mais jovens percam suas vidas sem que a sociedade e as autoridades se responsabilizem”, declara a coordenadora do projeto.

Propostas e ações futuras

O relatório sugere mudanças urgentes nas políticas públicas, incluindo a criação de mecanismos de coleta de dados transparentes e a promoção de diálogo entre o poder público e as comunidades periféricas. A pesquisa também destaca a necessidade de políticas que respeitem os direitos humanos e valorizem o papel cultural do funk.

“É urgente que o Estado se responsabilize por essas mortes e, mais importante, que modifique as políticas de repressão aos bailes funk. O que vemos é uma estratégia que não resolve o problema da violência, mas o agrava”, conclui Desirée.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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