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Travesti negra é chicoteada por homem no Rio Grande do Norte; ativista cobra justiça

21 de setembro de 2020

O ano de 2020 já tem mais assassinatos de transexuais e travestis do que 2019 inteiro; ativista de São Paulo, Erika Hilton, diz que há dificuldade de o judiciário não tratar crimes contra esses grupos sociais como questões secundárias ou de menor importância

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

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Um vídeo gravado e postado nas redes sociais mostra uma travesti negra sendo espancada e chicoteada durante o dia, em uma rua da cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte. As imagens são fortes e demonstram, mais uma vez, o quanto as pessoas se sentem à vontade para agredir pessoas transexuais e o porquê do Brasil ser o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.

Segundo a imprensa local, o agressor faria parte de uma facção criminosa. As violências teriam sido motivadas após a vítima descumprir uma ordem da facção que teria determinado que ela não poderia sair ou beber por ter se envolvido em brigas. “É um caso explicito de violência. A nossa dificuldade é fazer com que o judiciário racista e transfóbico não trate este caso como uma questão secundária ou de menor importância”, afirma Erika Hilton, ativista e pré-candidata à vereadora (SP).

Erika denunciou a situação nas redes sociais e acompanha o caso. A prioridade é a de que a vítima tenha o acolhimento necessário, além de cobrar do Ministério Público e de outras autoridades competentes, rapidez na apuração do caso para que a denúncia seja protocolada. Para a co-deputada, o fato de cada vez mais pessoas se sentirem à vontade para agredir e até mesmo matar travestis, filmar e ainda compartilhar em redes sociais é um retrato do Brasil atual.

“O sistema encontra brechas para não apurar e nem responsabilizar as pessoas que cometem crimes racistas e transfóbicos. E isso acaba legitimando a impunidade. É como se o corpo negro e travesti não tivesse um lugar de pertencimento social, por isso matam e nem mesmo têm o pudor de esconder o rosto durante os atos”, analisa.

Para exemplificar a pouca importância dada às mortes de travestis, Erika cita o caso de Dandara dos Santos, assassinada depois de ter sido humilhada, espancada e linchada por pelo menos 10 pessoas nas ruas de Fortaleza, em 2017. Toda a violência foi registrada por câmeras de celular e divulgada. “É uma coisa muito perversa, o que desumaniza o corpo travestigênere, com o objetivo de justificar todas as violências e percebam a crueldade imposta. Não só matam, como torturam, humilham, há requintes de crueldade”, destaca a co-deputada.

Tendência de crescimento

Lançado em janeiro deste ano, o Dossiê sobre Assassinatos e Violência contra pessoas Trans em 2019, da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), mostra que o Brasil continua a ser o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. O país ainda passou do 55º lugar de 2018 para o 68º em 2019 no ranking de países seguros para a população LGBT.

No entanto, 2020 já supera o número total de assassinatos de 2019 inteiro, quando 124 pessoas foram assassinadas. Até 31 de agosto, o Brasil chegou a 129 assassinatos, o que representa um aumento de 70% em relação ao mesmo período do ano passado. Todas as 129 pessoas assassinadas expressavam o gênero feminino, sejam travestis ou mulheres trans, a maioria era negra (pretas ou pardas).

A Antra ainda informa que no primeiro semestre de 2020 a violência doméstica cresceu 45%. “O ano de 2020 segue com o maior número de casos nos últimos quatro anos. Superando 2017, ano em que o Brasil apresentou o maior índice de assassinatos de sua história de acordo com o Altas da violência e anuário da segurança pública”, traz a nota da entidade.

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