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Praticantes do Break Dance refletem sobre inclusão da modalidade nas Olimpíadas 2024

15 de dezembro de 2020

Dança de rua criada nos anos 70, o Break Dance salvou vidas nas periferias  do mundo todo e inclusão nos Jogos Olimpícos levanta reflexões sobre desigualdade de oportunidades  

Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira | Imagem: Reprodução da internet 

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Um dos elementos que compõem  o movimento Hip Hop, o Breaking ou Break Dance, foi incluído entre as modalidades que farão parte da competição dos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. A notícia, recentemente divulgada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), foi comemorada por bboys e bgirls de todo o mundo. A novidade também preocupa jovens negros adeptos da dança e que ainda amargam com a falta de incentivo para ocupar um lugar em competições internacionais. 

O Breaking é uma das vertentes do Street Dance. A dança de rua nasceu nos anos 70, nos Estados Unidos e ganhou popularidade ao redor do mundo até chegar no Brasil, em 1982. Um dos pilares que estruturam a cultura Hip Hop, ao lado do Rap (MC e DJ), Graffiti e Pixação, além do Conhecimento, o break é uma importante ferramenta de educação social.   

“O Break salvou a minha vida, já que eu sou filho dos anos 90, do Capão Redondo, Zona Sul, onde a situação era tensa e a expectativa de vida de um jovem preto era de até 20 anos”, conta o educador e dançarino RodStyle, que atua na área da educação física há mais de dez anos.

A estreia do breakdance nos jogos olímpicos, o principal evento esportivo mundial, gerou expectativas para quem acredita e pratica a dança como profissão, mas também levantou questões como a falta de incentivo do poder público para que jovens negros de periferia acessem grandes competições. “Espero que o governo atue de forma mais presente e forte. Eu nunca esperei que o Break se tornaria uma modalidade olímpica, a gente vai fazendo por amor mesmo. Espero que as pessoas que estão à frente disso façam a coisa certa”, afirma o educador. Para ele, é imprescindível que a mais nova modalidade olímpica seja melhor estruturada e financiada, não só em São Paulo, mas em todo o país, onde existem inúmeros talentos na ativa.

2a72219b 9dd4 4b3a 9019 31ea16bb080aImagem: Arquivo pessoal/Okado

Em Recife, a história e o aprendizado com pessoas mais experientes na área não foi diferente. O Bboy Okado, começou sua trajetória com a dança aos 11 anos. “Comecei a treinar a partir dos dançarinos mais velhos do meu bairro. Quando eu saquei as paradas, os movimentos, bateu a química. E nunca mais parei, desde 2004 que eu danço”, conta.

A influência da dança e Rap também, transformou a vida do jovem morador da Zona Norte da capital pernambucana, que compartilha: “O breaking foi esse divisor de águas. Mostrou que eu tinha várias outras possibilidades, fora aquelas opções que a sociedade impõe pra gente, que você tem que ser padronizado ali na escola, pra seguir ordens e trabalhar pros outros. O breaking tirou isso de mim, devolveu minha autoestima.”

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Para Bboys e Bgirls,  o poder público e o setor privado precisam apostar mais no Breacking como ferramenta educativa
Imagem: Reprodução Instagram

Figura importante quando se trata do crescimento da cultura Hip Hop no Brasil e de suas vertentes, a exemplo do Breaking, é o rapper Thaíde, que participou da criação de crews (grupos de dança) como Panteras Negras e Back Spin, um dos mais antigos do Brasil. Em São Paulo, os encontros entre b-boys e b-girls (dançarinos de breaking) tinham como ponto de encontro a praça da Estação São Bento.

A profissionalização do esporte que chega aos Jogos Olímpicos na França daqui há quatro anos é resultado de uma trajetória de luta por reconhecimento e traz mais esperança para o movimento. “Eu vi muita gente desistir e se frustrar, então eu espero que as coisas aconteçam no Brasil da forma que tem que acontecer, sendo justo pra todo mundo e com todo mundo tendo oportunidade para treinar, competir, ir para olimpíadas. Espero mesmo que gere oportunidade para todos”, conclui RodStyle.

Apesar de comemorar a ascesão do esporte, Okado também aponta problemáticas importantes. “Acredito que tem seus lado positivo e negativo. Acontece que, se tornando uma modalidade olímpica, a gente vai chegar a frequentar muito mais espaços do que já frequenta. O breaking em si vai deixar de ser marginalizado, mas só a dança e não os praticantes. O problema disso tudo é que muita gente da periferia não vai conseguir acessar esses espaços. Os poucos que vão será uma galera que já tem uma certa estrutura financeira, saca?”

Outra preocupação do BBoy é a de que a atividade se torne elitizada. “Porque no fim das contas é isso, a galera vai deixar de ir pras ruas pra treinar nos melhores espaços, fazer as melhores performances, pra ganhar os melhores eventos, ir pras olimpíadas e tal. E o breaking vai sair das ruas, das praças, das quadras, de dentro da periferia. Porque a gente sabe muito bem que a periferia é excluída de certos espaços. A gente foi excluído durante tanto tempo, que acabou criando nossos próprios espaços, nossas próprias formas de fazer arte e cultura dentro da própria quebrada”, comenta o artista.

Expectativa 

Em nota publicada no site oficial, o Comitê Olímpico Internacional afirma que, a julgar pela estreia do Breaking nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2018, na Argentina, a estreia do esporte nas Olimpíadas será bem-sucedida. As competições de Break Dance vão acontecer em formato de duelo, também conhecido como “um contra um”.

Marcada para ser realizada num cenário pós-pandêmico, a competição reduziu o número de atletas e de espaços que devem compor a realização do evento em Paris, na França. É também uma forma de reduzir despesas e a complexibilidade de hospedagem para todas as pessoas envolvidas nos jogos. Com foco na juventude e na equidade de gênero entre os atletas, o evento acontece entre os dias 26 de julho e 11 de agosto de 2024. 

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